Hugo Calderano não queria falar. Inconformado, o brasileiro gostaria de passar pela zona mista sem dar entrevistas aos veículos de comunicação após a dura derrota para Félix Lebron, que lhe tirou a medalha de bronze no tênis de mesa em Paris 2024. Mas não teve jeito. Respirou fundo e respondeu algumas poucas perguntas sobre o 4 a 0 sofrido para o francês, jovem prodígio de apenas 17 anos, nesse domingo (4/8), na Arena Paris Sul 4. O ouro foi do chinês Zhendong Fan e a prata do sueco Truls Moregard.
O carioca de 28 anos admitiu que ainda estava abalado pelo revés para o sueco Truls Moregard, na última sexta-feira, na semifinal. “Foi bem difícil me recuperar, não tive muito tempo”, lamentou. “Claro que fiquei muito decepcionado de não ganhar aquela semifinal, mas algumas horas depois e ontem o dia inteiro, pensei como abordar essa disputa do bronze”, prosseguiu, com o semblante abatido.
Calderano não conseguiu impor o ritmo de jogo e perdeu com parciais de 11/6, 12/10, 11/7 e 11/6. Nas arquibancadas, a imensa maioria francesa gritava “Allez Félix” (“Vai, Félix”, em tradução livre) e vibrava a cada ponto do anfitrião. Calderano, porém, garante que o apoio ao rival não o atrapalhou: “Talvez tenha o ajudado a jogar ainda melhor, mas não me afeta bastante. Talvez pudesse até ter me dado mais energia na partida em geral, mas acho que não foi muito importante neste jogo”, pontuou.
A arena estava completamente lotada, na expectativa pela medalha – apenas a terceira da história da França na modalidade em Jogos Olímpicos. No setor da imprensa, não havia mais mesas disponíveis. Assim, vários jornalistas foram deslocados para um setor de arquibancadas. Uma fileira de cadeiras à frente estava a mesatenista Bruna Takahashi, namorada de Calderano, acompanhada de outros integrantes da equipe brasileira.
Estavam em seis e eram as poucas vozes dissonantes em um ambiente em que predominava o francês. Bruna vibrou, apoiou o namorado e, decepcionada, deixou o local chorando ao presenciar o ponto vencedor de Lebron. Agora, ela e Calderano tentam se recuperar, juntos, para a disputa por equipes.
Os dois jogam já nesta segunda-feira (5/8). Calderano vai liderar a Seleção Brasileira Masculina contra Portugal, nas oitavas de final, a partir das 10h. Às 15h, será a vez de Bruna, com a equipe feminina, diante da poderosa Coreia do Sul.
Passados os Jogos, Calderano pretende descansar. Não apenas fisicamente. “Depois disso, vou tentar tirar um tempo, algumas semanas ou um mês fora com a minha família para tentar descansar um pouco, com certeza isso vai me fazer muito bem”, contou o mesatenista.
Feito histórico
Apesar da derrota, Calderano conseguiu um feito histórico. Com o quarto lugar, ele alcançou o melhor resultado entre atletas não asiáticos ou europeus na história do tênis de mesa em Jogos. A modalidade está no calendário olímpico desde Seul 1988. Até Tóquio 2020, haviam sido distribuídas 118 medalhas – 61 delas para chineses (51,%).
Depois, aparecem Coreia do Sul (19) e Alemanha (nove). No cômputo geral, asiáticos subiram ao pódio 98 pódios vezes; europeus, 20. Por pouco, Calderano não coloca a América do Sul no mapa vitorioso do tênis de mesa olímpico.
“Com certeza, a minha carreira e a vida não acabam aqui, tenho muito para dar para o esporte e o tênis de mesa brasileiro. Claro que vou precisar assimilar esse resultado, que foi positivo, mas muito decepcionante no final. Só preciso de tempo para voltar com calma, para voltar a treinar e me dedicar”, assegurou.
Medalhas no tênis de mesa olímpico até Tóquio 2020
- China – 61 medalhas
- Coreia do Sul – 19
- Alemanha – 9
- Japão – 8
- Coreia do Norte – 5
- Cingapura – 3
- Suécia – 3
- Taipei Chinesa – 3
- Hong Kong – 2
- Iugoslávia – 2
- França – 2
- Dinamarca – 1
Jogo tenso
No primeiro set, Hugo fez jogo pegado e ponto a ponto, recebendo bem o serviço e fazendo valer a posse quando a tinha. No entanto, do meio para o fim, o francês dominou o duelo, com Calderano errando em alguns momentos. Placar aberto para o anfitrião: 1 a 0.
Precisando vencer, Calderano começou perdendo e um pouco mais “desligado”, mas como bom brasileiro, foi buscar e tirou a diferença. Até teve o ponto do set, mas pecou no fim. Melhor para Félix Lebrun, que fechou mais um para abrir 2 a 0 no placar.
No terceiro set, o brasileiro começou bem e dominando o duelo. Bem no jogo, o francês não desencostou no placar em nenhum momento e conseguiu a virada para vencer mais um.
Em solo francês, o anfitrião se sentiu mesmo em casa. No quarto e último set, fez jogo tranquilo, abrindo quatro pontos de diferença. Bem consistente, Félix Lebrun seguiu imprimindo velocidade e contando também com alguns erros do brasileiro.
Hugo Calderano manteve a esperança até o fim. Mas não teve jeito, a medalha de bronze ficou mesmo com o francês.