JOGOS OLÍMPICOS

Rayssa Leal detalha ‘virada de chave’ que a fez ganhar bronze em Paris 2024

Skatista brasileira admitiu que estava nervosa na disputa dos Jogos Olímpicos, mas decidiu "se divertir" e conseguiu medalha olímpica
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Rayssa Leal cerrou os olhos e chorou. Não de tristeza, muito menos de felicidade. Na verdade, a skatista de apenas 16 anos encontrou nas lágrimas uma forma de extravasar a pressão que estava sentindo em meio à final do skate street feminino em Paris 2024. Agachou-se, rezou e ouviu a canção ‘Um Amor Puro’, de Djavan. Mais calma, sorriu e aproveitou a última chance que tinha neste domingo (28/7). Completou a manobra que produziu um fim apoteótico para os brasileiros na Arena La Concorde 3.

Com a medalha de bronze no peito, ela sorriu aliviada. A tensão lhe tirara dos trilhos ao longo de toda a competição na ensolarada tarde parisiense. A própria Rayssa admitiu: viu-se dominada pela ansiedade. Afinal, agora, três anos depois da prata em Tóquio, a maranhense de Imperatriz diz entender o que significam os Jogos Olímpicos.

Nem era necessária tantas reflexões para compreender a dimensão daquele momento para o esporte nacional. Bastava tirar os fones do ouvido ou abrir os olhos para ver as arquibancadas tomadas pela cor amarela. Em solo francês, o português era a língua oficial na arena construída sobre a Praça da Concórdia. E todas as vozes gritavam em uníssono: “Rayssa!”. No Brasil, as televisões ligadas em pleno domingo, horário do almoço, horário nobre, aguardavam ansiosas a medalha de ouro.

Rayssa sentiu o peso de todo esse ambiente: “Eu realmente estava muito nervosa. Acho que foi o campeonato que eu mais fiquei nervosa. Eu cheguei no treino, dei todas as minhas manobras, já sabia o que eu tinha que fazer, mas na hora eu acabei errando duas manobras simples”.

Controle mental

O semblante de Rayssa evidenciava a insegurança desde as preliminares. Favorita ao ouro, a brasileira avançou à final apenas com a sétima melhor nota de oito classificadas. A brasileira errou muito nas voltas (59.88), mas conseguiu se recuperar com grandes notas nas manobras (92.68 e 88.87) e fechou a primeira etapa da competição com 241.43 – índice baixo para os padrões da atleta.

“Na semifinal, fiquei um pouco pressionada (pela quantidade de brasileiros na torcida)”, contou. A volta para a final, horas depois, mostrou uma Rayssa aparentemente mais tranquila, com um sorriso no rosto. Até que as quedas nas duas voltas lhe tirassem a confiança novamente. A brasileira fez 71.66 e viu a sonhada medalha de ouro se distanciar. A luta passou a ser estar no pódio.

A skatista precisava de duas grandes notas nas cinco manobras para sonhar com a segunda medalha olímpica da carreira. Mas, para isso, ela sabia que tinha que vencer o momento de ansiedade. “Na pista, eu comecei a me cobrar bastante, coisa que não precisava. Era só me divertir. Foi o que fiz depois. Entendi que era só colocar o sorriso no rosto mesmo”, contou.

“Eu entendi qual é o peso da Olimpíada. A gente vem aqui com outra mentalidade, com outro foco, outro objetivo. Todo mundo que estava ali na pista queria se divertir, mas também queria a medalha de ouro. Comigo não era diferente. Por isso, a gente acaba se cobrando um pouco mais, por entender o que é a Olimpíada. Mas deu tudo certo”

Deu certo mesmo, mas da forma mais dramática possível. A brasileira tirou um impressionante 92.88 na segunda manobra – a segunda maior nota da história olímpica do skate, atrás apenas dos 96.49 da japonesa Coco Yoshizawa, campeã em Paris 2024. Mas ainda era necessária outra boa nota para buscar o bronze.

E ela só veio na última manobra. Com execução perfeita, Rayssa Leal conquistou um 88.83 – para um somatório geral de 253.37 – e arrancou gritos eufóricos da torcida brasileira em celebração à medalha de bronze. Ela se tornou a mais jovem atleta da história a subir ao pódio em duas Olimpíadas, aos 16 anos, seis meses e 24 dias de vida, superando a marca da nadadora estadunidense Dorothy Poynton-Hill em 1932, quando tinha 17 anos e 26 dias.

Resultado do skate street feminino

  • Ouro – Coco Yoshizawa (Japão) – 272.75
  • Prata – Liz Akama (Japão) – 265.95
  • Bronze – Rayssa Leal (Brasil) – 253.37
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