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Sette Câmara sobre a Stock Car: ‘Vai vender Belo Horizonte para o mundo inteiro’

Advogado e empresário, Sette Câmara abordou polêmicas que envolvem realização da Stock Car em Belo Horizonte e relembrou mandato no Atlético
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Benny Cohen e Lucas Bretas – O advogado mineiro Sérgio Sette Câmara acredita que a Stock Car “vai vender Belo Horizonte para o mundo inteiro”. Em entrevista ao programa “EM Minas”, exibido na noite de ontem na TV Alterosa, Sette Câmara abordou as polêmicas que envolvem o evento – que será realizado em Belo Horizonte, entre 15 e 18 de agosto.

Empresário, Sérgio é dono da Speed Even, uma das empresas responsáveis pela organização da Stock Car na capital mineira. Ele também é um dos sócios do escritório Sette Câmara, Corrêa e Bastos Advogados Associados. E, entre o fim de 2017 e o fim de 2020, foi presidente do Atlético.

Conquistou o Campeonato Mineiro de 2020 na direção do Galo e foi responsável por “abrir as portas” do clube para participação ativa dos investidores Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador na gestão alvinegra.

Na entrevista, Sette Câmara abriu o jogo sobre a realização do evento da Stock Car em Belo Horizonte, relembrou momentos importantes do mandato no Atlético e avaliou a ascensão das Sociedades Anônimas de Futebol (SAFs) no Brasil. Leia, a seguir, a entrevista de Sérgio Sette Câmara ao EM Minas, programa em parceria com o jornal Estado de Minas e o Portal UAI. A íntegra está disponível também no canal do YouTube do Portal UAI.

Como se conquista uma prova de Stock Car para uma cidade como Belo Horizonte? Porque nós amamos Belo Horizonte, mas a gente sabe que há inúmeras cidades planeta afora capacitadas para receber uma prova. Por que Belo Horizonte ganhou uma corrida?

Tivemos outras cidades pleiteando essa data. Eram quatro. E nós então vendemos a cidade de Belo Horizonte como aquilo que ela é: uma cidade de um povo hospitaleiro. A região que nós colocamos para fazer o evento, que é a da Pampulha, depois de pesquisar outras áreas da cidade, ela se apresentou como a mais viável em vários sentidos – seja de acesso, seja de beleza. Eu preciso vender a cidade de Belo Horizonte, porque esse é um evento que passa para todo o Brasil em TV aberta, mas também em TV fechada e para mais de 153 países, em quatro línguas. Então, qual o melhor lugar do que o nosso cartão-postal para poder vender a nossa cidade? A gente acredita que a exposição das imagens aéreas, das imagens da corrida, das imagens daquilo que vai acontecer no nosso evento – que tem gastronomia, que tem música, que tem divertimento que vai ter família. É uma festa para família… Eu acho que essas imagens vão correr muito mundo afora e vão fazer com que várias pessoas se interessem por vir aqui – não apenas para a Stock Car, mas depois da Stock Car também.

Por que o Mega Space, por exemplo, ou o autódromo de Curvelo não foram contemplados. É por essa questão estética, digamos assim?

Não, não é só por essa questão. Porque no caso de Curvelo, a questão é mais de logística mesmo. O autódromo lá é muito bom, e a Stock Car chegou a fazer uma corrida lá, mas houve uma dificuldade muito grande com a questão da logística. A região não tem uma quantidade de hotéis que possa atender a demanda de todos os funcionários e pilotos e equipes. Elas tiveram que ficar hospedadas em Sete Lagoas. Isso atrapalhou muito, mas a pista em si de Curvelo é muito boa, e a gente tem que parabenizar as pessoas que tiveram essa visão e criaram autódromo. Eles têm tido utilização muito grande por empresas. Acho que a Fiat mesmo aluga para fazer teste durante vários dias da semana, e tem outros eventos também. E o Mega Space, não. A pista lá não se enquadraria para a Stock Car.

Nem com reforma?

Ah, não, não. Teria que ser uma obra muito grande… Aí eu vou te falar a verdade: o grande atrativo é a cidade de Belo Horizonte. Santa Luzia, eu tenho o maior respeito, maior carinho, mas é diferente de vender Belo Horizonte. A Lagoa da Pampulha, com o Mineirão, com todas aquelas obras do Niemeyer. Aquilo ali é patrimônio mundial da Unesco. Então, é uma coisa que todo mundo acha lindo, maravilhoso. A intenção de fazer uma corrida dessa é exatamente de vender a cidade também para o mundo inteiro.

Por que foi preciso cortar árvores e onde é que isso vai dar? Vai se chegar a um bom termo? Como é que vai ficar isso?

Não, a questão das árvores se tornou muito polêmica porque é ano eleitoral. Porque essa questão de supressão de árvore com compensação é uma coisa que ocorre de forma corriqueira. Então, as pessoas que quiserem, procurem saber quantas árvores foram suprimidas, por exemplo, para fazer a arena do Atlético e aquelas vias no entorno de lá da Arena MRV. Foram 1.500. Eu não me lembro de ninguém ter ido lá para a porta para fazer nenhum tipo de protesto, porque foi feita a compensação. Foram 54 mil árvores plantadas em compensação. O BRT: nosso BRT foram mais de 200 árvores. Não lembro de ninguém ter ido lá e tal… ‘Ah, porque é o Mineirão!’. A prefeitura está plantando em compensação, porque foi autorizado – da forma como sempre acontece quando há supressão de árvores – pelo Comam. O Comam é uma comissão de meio ambiente, do município, formada por segmentos da sociedade civil, de todos os lados. Tem de tudo: tem do lado da FIEMG, tem sindicatos, tem das associações. O Comam analisou, como analisou várias outras situações de supressão. Quem quiser pode fazer uma pesquisa: nos últimos 10 anos, milhares de árvores foram suprimidas em Belo Horizonte – e foram compensadas com o plantio de outras tantas. Salvo engano, o número é até de duas árvores e meia por árvore que vier a ser suprimida. No nosso caso, aqui na prefeitura, foi muito mais. Ela se comprometeu a plantar 686 árvores. Mas nós, organizadores do evento, doamos mais 1 mil árvores. E o principal: nós contratamos uma empresa responsável por fazer o plantio e o acompanhamento. Porque essa é uma questão que muitas vezes a gente sabe que não acontece.

É, acho que é o ponto falho aí. Fala-se que vai plantar, mas aí ninguém acompanha, ninguém vê a árvore crescer.

Ou então, às vezes planta, mas vem o vândalo e arranca. Essa empresa é responsável por fazer não só o acompanhamento. Você sabe muito bem, qualquer pessoa sabe disso: às vezes, planta uma árvore, ela sente e morre. Ela não se habitua ao local. Você vai ter que fazer a substituição. Então, a empresa também está de olho nisso. Onde eventualmente precisar fazer uma substituição de uma das árvores que foram plantadas, ela vai lá providenciar e vai fazer o replantio para que permaneça a quantidade de árvores que foram plantadas. E que a gente possa deixar a Região da Pampulha muito mais verde do que encontramos.

Vocês estão se comprometendo, como parece que a prova vai acontecer pelo menos por cinco anos, não é isso? Ao longo desse tempo, vão mostrar o crescimento dessas árvores. É isso?

Vamos mostrar o crescimento dessas árvores, mas queremos fazer o plantio de todas até o dia anterior ao evento. Inclusive, aproveitando na semana do evento e utilizar de alguns pilotos que são referência – como Felipe Massa, Rubens Barrichello, Nelsinho Piquet, o Cacá Bueno. Levar essas imagens aí para fora. Belo Horizonte é a cidade jardim, não é?

O que Belo Horizonte vai ganhar com a prova?

Na verdade, carro mesmo só vai andar na sexta, no sábado e no domingo. Com treinos. Na quinta-feira, é mais uma volta rápida, de reconhecimento. Aliás, até vou abrir um parêntese aqui: em quatro dias de evento, o total somado de horas que esses carros vão rodar é de cinco horas. Então, o impacto a gente entende que é um impacto muito menor do que muitas vezes está sendo colocado. A cidade deve receber alguma coisa em torno de R$ 200 milhões por ano, porque esse público hoje já se estima entre 80 mil, até 100 mil pessoas, nos quatro dias de evento. Quinta e sexta vamos separar para fazer as ativações sociais. (…) Depois que a gente começou a entender que o público que efetivamente irá é bem superior àquele que havíamos estimado lá atrás, já temos aí as informações todas. E aí o que gira é isso, alguma coisa em torno de um ingresso de aproximadamente R$ 200 milhões.

Isso é o quê? Hotéis, táxis, restaurantes… Tudo ou é só a prova?

Envolve a prova, mas também envolve essa parte toda: hotéis, bares e restaurantes.

É a circulação de dinheiro em função da prova...

É o dinheiro que entra. Para o ambulante, que vai estar ali fora do circuito, vendendo um cachorro-quente, até o do hotel. E aí entram Uber, táxi, bares, restaurantes, movimento de aeroportos. Vans… Acreditamos que com esses valores, a prefeitura deve arrecadar alguma coisa entre R$ 20 milhões a 25 milhões por ano. Devem ser abertas entre 1.500 a 2 mil vagas de empregos formais. Você tem que lembrar o seguinte: já começa pela própria reforma do asfalto, que vai acontecer. Das calçadas, que vão ser ajustadas – que é um trabalho da prefeitura. Alguém poderia dizer: ‘Ah, mas a prefeitura está colocando o dinheiro…’. Olha, todo ano São Paulo coloca R$ 110 milhões para poder arrecadar R$ 1 bilhão na Fórmula 1. Fui até o prefeito Fuad Noman, mostrei para ele os números com base em duas pesquisas sérias, e mostrei para ele que o município vai arrecadar em cinco anos alguma coisa superior a R$ 100 milhões. Quantas UPAs dá para fazer com isso aí? Quantas obras sociais o prefeito pode fazer a mais com esse dinheiro no caixa dele? Pode ser de cesta básica, para fazer restaurantes populares, hospitais… Pode fazer sei lá, creche, escola… Muita coisa em benefício da população, dos que mais precisam.

Sérgio Sette Câmara em entrevista ao jornalista Benny Cohen, no programa EM Minas, na TV Alterosa (Foto: Túlio Santos/EM/D. A Press)

E esse autódromo depois poderá receber outros tipos de outras categorias, por exemplo, de corrida?

Não. O acordo que fizemos com a Vicar, que é a detentora aqui, não vai haver nenhum outro tipo de corrida a não ser essa de Stock Car. É um evento único. Costumo comparar esse tipo de coisa com Mônaco, por exemplo. Mônaco é conhecida muito por conta da corrida! Então, tenho absoluta certeza que Belo Horizonte e o belo-horizontino – seja o que for no evento, seja o que assistir pela televisão – vai se sentir muito orgulhoso de ver a nossa cidade, as belezas da nossa cidade, porque você vai ter câmera saindo da Serra do Curral, passando pela cidade e mostrando. Drones e tudo mais. E quem é daqui, como eu, tem orgulho enorme de ser belo-horizontino. De ser nascido e criado aqui. Nunca pensei em me mudar daqui. Foi aqui que criei meus filhos. Acho que vai ser muito importante mostrar nossa cidade para outros lugares. Em vez de a gente sair daqui para poder deixar dinheiro em São Paulo, no Rio, em Goiânia, em outros lugares ou fora do Brasil para assistir a uma corrida, vamos deixar o dinheiro aqui mesmo. Como, aliás, passou a acontecer com o nosso carnaval.

O Sérgio Sette Câmara Filho, que é piloto da Fórmula E, vai correr a Stock Car? Tem uma chance de isso acontecer? Não temos nenhum mineiro na Stock Car.

Eu acho que seria muito bacana, mas depende muito de contratos que a gente tem. Esse é um campeonato mundial, que depois da Fórmula 1 é o maior campeonato automobilístico do mundo. É um campeonato que acontece em Tóquio, em Xangai. Teve agora etapa de São Paulo no final de semana. Nos Estados Unidos, em Londres, na Itália, enfim… Campeonato mundial, como uma Fórmula 1… Carros elétricos. E a gente sabe que hoje é o grande laboratório, como a Fórmula 1 um dia foi. A Fórmula 1 hoje é um show. É um negócio como é o futebol americano. A Fórmula E também é um show – menor, em menor proporção, mas que está crescendo rapidamente porque ao mesmo tempo é um laboratório. Basta você ver as marcas que hoje estão lá na Fórmula E: Nissan, Jaguar, Porsche, Mahindra, enfim… Citroën… São indústrias pesadas que estão investindo muito também lá na Fórmula E, e a tendência é de ela crescer cada vez mais.

Mas tem chance de o Serginho vir?

Para o Serginho vir, teria que haver um seguro especial e teria que ter uma oportunidade. Ele não é acostumado com os carros. São muito diferentes. Não é tão simples assim chegar. Esse brinquedo é totalmente diferente. Sair de um carro de fórmula para ir para um “stockão”, que é um carro de turismo… Então, tem muitas diferenças, dificuldades, mas é claro que eu não vou negar para você: se houver a mínima possibilidade de ele participar, por que não? Seria muito legal.

Quais são as diferenças que você vê no mundo dos negócios do futebol e do automobilismo? São mundos completamente diferentes?

Com absoluta certeza que o mundo do automobilismo é muito mais profissional do que o mundo do futebol. Você consegue encontrar, claro, atletas como o Hulk, que é um exemplo a ser seguido. Camarada está nas férias e está ali treinando, etc e tal. Mas a gente sabe que muitos deles não são assim. Há muitos atletas indolentes, e a gente tem que ficar administrando muita coisa. Também fruto muito da juventude. No automobilismo os atletas também são novos, mas sabem que quando entram em um carro, estão correndo risco de vida. Infelizmente, já tivemos uma situação em que o meu filho estava correndo em Spa-Francorchamps, na Bélgica, e um piloto francês veio a falecer naquela corrida. Foi um trauma muito grande para nós, porque eu conhecia inclusive os pais. E a gente sabe: quando o piloto entra dentro do carro, ele corre um risco de vida muito maior. Claro que existe também o risco de um jogador de futebol sair de casa, mas é incomparável. E eles não podem ter absolutamente nenhum tipo de vida diferente daquela que é exatamente a reta, que tem que ter horário para dormir, para acordar, porque uma desconcentração que ele tiver ali pode significar a perda da vida dele. Então, sinto que há um profissionalismo muito maior nesse aspecto – e inclusive na questão organizacional. De vez em quando a gente olha para cá e vê algumas coisas acontecendo no nosso futebol que você fala: ‘Poxa, mas isso não pode ser sério’. Quando você olha, por exemplo, um time caro como um time do Atlético, ou do Cruzeiro, ou do América… Vou falar dos times da capital. Você coloca para jogar uma Copa do Brasil em campos que mais parecem pastos, você não pode chegar à conclusão de que aquilo é sério. Isso jamais vai acontecer dentro do automobilismo. As regras de segurança que são determinadas pela Federação Internacional de Automobilismo são rigorosíssimas. E se você não observar aquilo ali, não tem corrida. Então, é sempre em alto nível as pistas que são colocadas para os pilotos. E isso, no futebol, a gente não vê acontecer.

Quanto vão custar os ingressos? Quando começam as vendas, como é que vai ser isso?

As vendas vão começar em meados de abril. Uma parte desses ingressos, até por um pedido do prefeito Fuad Noman, é social. Vai para crianças das escolas municipais, creches e tal. Para elas conhecerem, terem contato, se aproximarem dos carros, dos pilotos, etc. O valor dos ingressos ainda não sei, mas vão ser divulgados agora, no início de abril.

As negociações para a vinda do Hulk começaram na sua gestão, estou certo?

O Alexandre Mattos, diretor de futebol, começou as conversas, mas o fechamento mesmo se deu já na gestão já do Sérgio Coelho. Saí do Atlético no final de 2020, e ele foi anunciado em janeiro, acho.

Boa parte do time que foi campeão, essa negociação para montar o time, foi na sua gestão, não foi?

Eu costumo dizer que foi na nossa gestão, porque ali foi uma gestão que acho que é assim… O grande predicado, se tiver que falar alguma coisa, o ponto mais importante da minha gestão talvez tenha sido o fato de ter tentado reorganizar a casa do ponto de vista de governança. Feito o para casa de fazer auditorias internas, entender o tamanho realmente do problema do Atlético e procurar o Rubens Menin – que por sua vez também trouxe para mesa o próprio filho, o Rafael, o Ricardo Guimarães e o Renato Salvador.

Teve uma época que você até procurou os 4 Rs.

Não, eu procurei o Rubens primeiramente. E depois sentamos com o Renato, o Ricardo e o Rafael. Foi quando então a gente estabeleceu que a partir daquele momento a gente ia caminhar junto. Ele se colocou à disposição para ajudar, mas queria que a coisa fosse feita dessa forma. E concordei plenamente. Enxerguei aquilo que acho que foi a grande saída para o Atlético, porque não enxergava outra solução. Tentei fazer a venda da segunda parte do shopping para pagar a dívida do clube, mas houve uma certa resistência na época. Então, não tinha outra solução a não ser conseguir buscar algum investidor, e que bom que foram investidores apaixonados pelo Atlético. Tenho muito medo de SAF na mão de pessoas que não têm relação de afinidade, de paixão com o clube.

O Sérgio Coelho está indo bem? Como avalia a gestão de Sérgio?

O xará? Sim, muito bem. É uma pessoa preparada, competente, importante. Grande empresário, sério, honesto. São características importantíssimas para uma pessoa que se senta na cadeira que é a mais importante talvez deste estado. Através do Instituto Galo, ele colocou a esposa para estar à frente disso aí. Ela brilhantemente tem conduzido ali, e o Instituto Galo está se tornando um dos grandes institutos de obras e benefícios em torno de pessoas que efetivamente precisam, carentes, que têm vulnerabilidade social, do Brasil.

E a Arena MRV. Tem ido lá? Vai a todo jogo?

Tenho! Todo jogo eu não digo, porque às vezes a gente tem um compromisso, uma viagem, mas estando em Belo Horizonte, eu estou lá.

O que achou da Arena?

Ficou muito bacana! Deu aquela pujança que o Atlético precisava. Para quem está de fora e vê um clube com um estádio daquele… Você passa a ver o clube com outros olhos. Não tem como olhar para o Palmeiras, não tem como olhar para o Atlético hoje, para o São Paulo de alguns tempos atrás, que sempre tiveram seus próprios estádios e não enxergar como clubes que têm, digamos, mais musculatura do que outros que usam estádios emprestados, alugados, etc. Então, passa uma mensagem muito boa. E sem falar que traz muito mais recursos para o clube, porque você não tem que passar por uma terceirização. Quando joga no Mineirão – por mais que eu goste do Mineirão, das pessoas que administram o Mineirão, são muito competentes. Até um abraço para o Samuel (Lloyd, diretor da Minas Arena), que está sempre ali à frente e foi um grande parceiro para que a gente trouxesse este evento da Stock Car para cá. Eles têm que tirar também a parte deles. Quando o Atlético faz diretamente, não tem que passar por um “intermediário”. O dinheiro já vai direto para os cofres do clube e outras receitas também. E tem algumas receitas que no Mineirão, por exemplo, não vão para o clube – como a parte de A e B, de alimentos e bebidas. Você fatura muito, e o Atlético hoje recebe esse dinheiro explorando os bares da Arena.

A arena gerou aquela sensação assim: ‘Ah, vamos ganhar tudo aqui e tal’. E vieram duas derrotas seguidas para o Cruzeiro. Como é que isso bateu em você? Vocês esperavam isso, foi surpresa, como é que foi?

É lógico que não. Sem clubismo. Entendo que o Atlético hoje tem um elenco melhor do que o do Cruzeiro. Tenho visto o trabalho que está sendo desenvolvido no Cruzeiro, um trabalho muito sério. Eu cheguei, com toda sociedade, a temer que o Cruzeiro sucumbisse a tudo pelo qual ele passou pouco. Faltou muito pouco. Então, assim, eu sei que a torcida cobra – como cobra do Atlético também -, mas eles retomaram um caminho interessante para poder recuperar o clube, que passou perto de fechar. Todos os bens penhorados, dívidas fiscais altas, trabalhistas também – fruto de uma irresponsabilidade absurda. Sei muito bem o que foi, porque na época, enquanto eu estava falando de austeridade e apanhando, eles estavam jogando muito dinheiro. E apanhei muito por conta daquilo, porque naquele ano ainda, no primeiro ano, eles ganharam a Copa do Brasil. Eu era massacrado pela torcida do Atlético, porque também não estava fazendo contratação de jogador, mas simplesmente porque não tinha dinheiro para fazer. Acho que, com o passar do tempo, a torcida enxergou que eu estava certo em fazer o para casa de tentar enxugar. Fazer, entender qual que era o problema do clube e tentar encontrar alguma solução – que obviamente passou pelo Rubens, pelos quatro Rs e depois pela SAF, que era uma questão só de consequência daquilo que começamos a fazer lá atrás. Foi duro perder essas duas partidas para o Cruzeiro. Uma delas por infelicidade de um gol contra, mas a outra partida de fato eles mereceram ganhar. Eu nunca escondi essa paixão que tenho pelo Atlético, mas ela não chega a ser cega a ponto de não enxergar efetivamente o que aconteceu no jogo.

E é futebol, não é?

Bom, espero que valha a máxima do filósofo Ronaldinho Gaúcho: ‘Quando está valendo, está valendo’. (Risos) Agora chegando às finais, e quem sabe agora, que tem realmente que ganhar para poder fazer o resultado em casa e poder depois ir para o segundo jogo lá com o resultado debaixo do braço. Que venha essa vitória e que ela seja uma vitória robusta.

Você comentou que SAF na mão de pessoas incompetentes é um risco, não é?

Eu diria que nem é só incompetência. De pessoas que não tenham comprometimento ou que não tenham afinidade ou paixão pessoal com o clube.

Como é que tem visto a experiência de SAF no Brasil? Os clubes que já adotaram. Bahia, o Atlético, Cruzeiro…

Por enquanto, estou achando que tem funcionado bem. Se você for olhar, a performance desses clubes aí. O Botafogo estava morto e de repente surgiu. Teve aquela queda no final do Campeonato Brasileiro, esteve com a taça debaixo do braço depois… Mas ninguém falava em Botafogo. Está na Libertadores. Há quanto tempo o Botafogo não ia para uma Libertadores? O público que ele tinha provavelmente era muito inferior ao que passou a ter na hora que começou a ter bom desempenho. Aí você vende mais camisa. Muda o patamar. Falar que o Botafogo SAF não é melhor do que o Botafogo anterior… Quando o Bebeto de Freitas faleceu, era no meu mandato. Foi presidente do Botafogo por seis anos. Todas as despesas – todas, absolutamente todas as despesas – com o velório do Bebeto foram custeadas pelo Atlético. Botafogo não deu R$ 1. Pedi ajuda para eles na época, e eles não deram. Uma pessoa como o Bebeto, que estava ali trabalhando e dando duro pelo clube. Não são despesas tão significativas assim, mas é simbólico. E o presidente me falar que na época não tinha condição de ajudar? Este mesmo clube agora está na Libertadores e está disputando o Brasileiro. Acredito que a SAF foi muito boa para eles. Assim como pode ser também para um clube como o Bahia, porque tem uma ligação com um Manchester. Falar o quê, não é?

O Manchester investindo R$ 350 milhões no Bahia. Aí o torcedor do Bahia acha que R$ 350 milhões virão para comprar jogador. Na verdade, não é assim. O dinheiro tem outras destinações também…

Esses clubes estão investindo muito é nas categorias de base também, na estruturação dos clubes – que muitas vezes não têm um centro de treinamento decente, que não tem profissionais gabaritados nas categorias de base. Não tem seriedade, porque costuma ter muitos rolos aí, principalmente em categoria de base. Porque as diretorias, de um modo geral, ficam muito preocupadas com o time principal e não se atentam para o tesouro que elas têm, que são as categorias de base. Quando você conhece um produto que tem um custo às vezes zero e que depois vai transformar em milhões de euros. Quantos jogadores já surgiram aí nas categorias de base dos clubes e depois foram vendidos por milhões e milhões e consertaram a situação financeira dos seus clubes?

O Cruzeiro soube fazer isso muito bem. Depois, se perdeu...

Sim. Acho que o Atlético está no caminho certo. Tem bons profissionais, tem pessoas sérias e obviamente que a SAF vai olhar muito para isso aí, porque esse é o grande celeiro de grandes jogadores para que você possa não só trazer para primeiramente para o time principal performar e ajudar a ganhar títulos, mas também depois fazer grandes vendas e jogar dinheiro para dentro da SAF.

Na sua gestão, teve uma outra questão polêmica também que era o Sampaoli. Ele era meio adorado, odiado e falava-se muito dele e tudo mais. Ele era uma figura fácil de se lidar ou o ambiente com ele não era legal?

Eu me dava bem com ele! Ele só tinha um problema: ele gostava de me ligar às 5h30 da manhã. E eu atendia. Me chamava de ‘presi’. Ligava pra pedir jogador. Ele pedia para mim, ligava para o Mattos reclamando. Ligava para o Rubens Menin. Aí o Rubens me ligava falando sério: ‘O Sampaoli está me ligando aqui’. Eu dizia: ‘Ele liga para todo mundo. Não posso impedir que ele te ligue, mas eu já pedi’. Mas ele ligava. Ele ligava para o Rafael, ele ligava para o Ricardo. Mas se você for verificar o time que ele acabou montando, com a administração do clube e com Alexandre Mattos, foi a grande base daquele time que praticamente ganhou tudo em 2021. Everson veio por ele, Mariano veio com ele, Júnior Alonso, o Arana já estava aí, era antes, mas o Allan também. O Savarino veio um pouquinho antes dele também, o Keno veio com ele, o Sasha. Uma série de outros jogadores que foram trazidos por ele. Não sei se você se lembra, naquele primeiro ano, que o campeonato não acabou em 2020. Ele só acabou, salvo engano, em fevereiro de 2021. O Atlético ficou em terceiro lugar, a três pontos do campeão e nós só não ganhamos aquele campeonato porque nós tivemos um surto de COVID-19, que infelizmente foi por conta de uma saída que a turma dele e ele fizeram em uma noite aí. Pegaram o COVID-19, passaram para o elenco, e o Atlético ficou ali umas três rodadas… Perdeu os jogos, teve que jogar com o time reserva e meio baqueado. Isso acabou atrapalhando e fez muita falta lá no final. Poderia ter sido campeão também ali já em 2020.

Na sua gestão, você também teve uma coisa que foi valorizar ex-jogadores do clube trazendo para cargos da direção. O Alexandre Gallo, Marques… O Atlético agora alçou o Victor a diretor de futebol. Você achou legal?

Achei muito legal. Acho que o Victor é um cara muito preparado. Ele estava ali, ficou ali muito tempo do lado do Caetano. Com certeza é um sujeito inteligente, deve ter aprendido muito e com certeza ele vai trazer resultado no médio prazo. Eu acredito muito nisso.

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