“Les Petits As”. Esse é o nome de um dos maiores torneios de tênis na categoria juvenil do mundo. Ele é disputado na cidade de Tarbes, na França. Considerado o Campeonato Mundial Júnior, reúne todos os anos os melhores jovens tenistas do planeta. O Brasil terá dois representantes na competição de cadeira de rodas. Ambos são mineiros, de 16 anos: Luiz Augusto Mariano Calixto, 10º do ranking mundial, e Vitória Miranda, terceira do mundo.
Tanto Calixto como Vitória são atletas da Academia Butija Tennis e têm histórias fascinantes. Ele está há pouco mais de dois anos no tênis. Vendia paçocas balas em semáforos do Bairro Belvedere quando foi descoberto por Léo Butija, o treinador, especializado em tenistas cadeirantes.
“Eu o vi num sinal, vendendo paçoca. Logo pensei em convidá-lo, por causa do porte físico. Estava numa cadeira de rodas e era muito ágil. Só que o semáforo abriu e tive de arrancar. Mas aquilo ficou na minha cabeça. Dois dias depois, em frente ao Mirante Mangabeiras, eu o vi novamente, e aí pedi o telefone da mãe dele. Liguei pra ela e falei da minha intenção. No sábado seguinte, ele começou a treinar”, conta Butija.
Para Calixto, um mundo novo se abriu: “Eu nunca tinha visto o tênis, esporte. No princípio, gostei. passei dois meses treinando. Só que eu só estava fazendo isso, o dia inteiro. Queria sair, ir para a rua. Pedi pra parar. Era pra ter viajado para o meu primeiro torneio, em Uberlândia. A Vitória foi e, na volta, conversei com ela. Percebi que estava fazendo o errado, perdendo tempo e pedi pra voltar”.
Ele passou a enxergar que o tênis era seu futuro. “Tenho coisas que nunca imaginei. Jogar, viajar. E ainda consigo ajudar no sustento da minha família. O tênis mudou a minha vida”, conta.
Calixto está no primeiro ano do segundo grau. Estuda na Escola Nair de Oliveira Santana, na Vila Nova Gameleira. E relembra o passado. “Eu morava no Bairro Milionários e pegava ônibus, para chegar ao Belvedere, para vender paçoca”, diz.
Ele nasceu com uma das pernas encurtadas, por má-formação. Sempre andava de muleta. Hoje, segue com esse equipamento e também tem a cadeira de rodas. Para competir, usa uma especial. Segundo Butija, a grande dificuldade é manter um equipamento de competição: “Gasta-se um par de pneus a cada dois meses. Isso custa R$ 600. Uma roda, quando é preciso trocar, fica em R$ 7 mil. Além disso, tem a ajuda de custo, para ele se locomover, para comer, ajudar em casa”.
Vitória Miranda
Vitória já é, por assim dizer, famosa. Ela encantou, na disputa do US Open, do ano passado, ninguém menos que a campeã: a norte-americana Coco Gauff, que fez questão de conhecê-la. Também Novak Djokovic, com quem tirou uma foto – que ela pendurou na sala de sua casa.
Vitória joga tênis há seis anos. Foi descoberta por Marina, mãe de Rafael Medeiros, atleta cadeirante de tênis, o 10º do ranking mundial. “A Marina, me parou para perguntar se eu queria jogar tênis. Passei, pra ela, um vídeo feito pelo meu fisioterapeuta, em que eu plantava bananeira. Ela enviou o vídeo para o Butija, que estava procurando uma jogadora. Aqui estou. Ele apostou em mim”, comenta.
Vitória tem Artrogripose: grupo de distúrbios raros que se desenvolvem no útero da mãe durante a gestação, fazendo com que muitas articulações fiquem congeladas na posição. Vitória nasceu de seis meses. A bolsa rompeu quando a mãe dela estava no quarto mês de gravidez. A menina teve de ficar um ano em uma incubadora, passou por sete cirurgias nas pernas.
Nas quadras, já foi campeã de vários torneios, com destaque para o Pan-Americano Juvenil de simples, além de ser tetracampeã brasileira. Agora, sonha com um título maior: “Quero ser melhor que no ano passado, quando participei pela primeira vez. Ou seja, quero vencer, em simples e em duplas. Já pensou voltar pra casa com um ou dois troféus?”.
Les Petits As
O torneio Les Petits As, na categoria juvenil, é disputado por 12 jogadores e quatro jogadores, em simples e duplas. Os mineiros estreiam nesta quinta-feira (25/1). O sorteio dos jogos será feito pela manhã, abrindo a competição.
Desde a criação, em 1982, e a primeira edição, em 1983, o torneio já recebeu os maiores campeões do tênis mundial. Atletas como Michael Chang, Rafael Nadal, Roger Federer, Novak Djokovic, Andy Murray, Justine Henin, Kim Clijsters e Martina Hingis.
A partir de 2020, Les Petits As tornou-se um torneio de Super Categoria, designando os melhores torneios juniores. Sancionado pela Federação Europeia de Tênis (Tennis Europe), os jogadores competem por pontos de classificação de prestígio.
