Serena Williams pode ter se aposentado em 2022 de uma carreira recorde no tênis profissional que a catapultou para a fama global, mas sua vida pós-torneio a mantém tão profissionalmente engajada quanto antes, embora em um campo diferente.
Williams, de 43 anos, é a fundadora da Serena Ventures, um fundo de capital de risco que investe em empresas em estágio inicial, principalmente aquelas fundadas por mulheres e minorias. Estabelecida em 2017, quando Williams estava no auge de sua carreira, a empresa arrecadou US$ 111 milhões para seu fundo inaugural e já investiu em mais de 60 marcas.
A Serena Ventures é composta por uma equipe de sete pessoas, incluindo Williams, e apoia empresas que impactam positivamente “a vida cotidiana das pessoas comuns”, disse ela.
Entre elas estão Parfait, uma marca de propriedade de negros que utiliza IA (inteligência artificial) e reconhecimento facial para criar perucas e extensões de cabelo personalizadas, e Halp, uma empresa que ajuda estudantes a navegar pelo processo de estudar no exterior e torná-lo mais acessível.
Empresa de suplementos
A Serena Ventures também está envolvida com a marca de mídia e entretenimento Boss Beauty e Wile, uma linha de suplementos à base de plantas para mulheres acima de 40 anos.
Além de seu fundo de investimentos, as atividades profissionais de Williams incluem a Wyn Beauty by Serena Williams, uma linha de maquiagem com produtos feitos com ingredientes veganos e poucos produtos químicos. Ela também tem participações em equipes esportivas, incluindo, segundo ela, o Miami Dolphins.
Em sua conversa no palco principal do DealBook Summit 2024 com o fundador do evento, Andrew Ross Sorkin, Williams falou sobre sua natureza competitiva e suas relações familiares. Ela disse que, embora seu pai, Richard Williams, possa ser percebido como duro, sua mãe, Oracene Price, era “muito mais dura”.
“Então, meu pai era na verdade super gentil e sempre dizia: ‘Você está bem? Precisa de um tempo? Vamos fazer uma pausa'”, contou Williams a Sorkin.
Ela também compartilhou que viveu com sua irmã e competidora de tênis, Venus Williams, até se casar com o cofundador do Reddit, Alexis Ohanian, em 2017, e que ela e Ohanian mantêm seus investimentos separados. Mas ela observou: “ele é um investidor maravilhoso.”
Leia a entrevista completa
P: Por que você está interessada em investir? E por que focar em empresas em estágio inicial?
R: Muitas pessoas não sabem que estou investindo há 15 anos. Foi natural. Comecei a pensar sobre o que vai moldar nosso mundo, seja através do transporte, tecnologia, bens de consumo. Seja o que for, eu queria fazer parte dessa transformação. Quero investir em empresas B2B [business-to-business] e saber como poderia investir em empresas em estágio inicial desde cedo e ter uma grande recompensa. Eu não conhecia todo o jargão na época. Não sabia que isso se chamava investimento em estágio inicial e que isso era uma coisa. Não sabia que capital de risco era uma coisa. Mas é algo que me atraiu porque sou uma pessoa curiosa.
P: Como você aprendeu o básico?
R: Fui ao Vale do Silício e sentei em diferentes escritórios. Eu ligava para CEOs e perguntava se poderia passar alguns dias com eles e fazer perguntas. No Pinterest, em particular, eu conhecia um dos caras do conselho, e ele entendia que eu tinha muitas perguntas. Foi legal ir a empresas como essa e aprender.
Eventualmente, comecei a participar de conselhos: Survey Monkey, Poshmark. Poshmark foi uma grande oportunidade para aprender os meandros de tornar uma empresa pública. Ampliei meus horizontes com a visão de querer ser uma investidora melhor, fazendo isso a longo prazo e construindo uma equipe. Isso foi antes de eu ter uma equipe.
Felizmente, por causa do meu trabalho árduo no tênis, tive diferentes oportunidades de ir a empresas e conversar com as Sheryl Sandbergs do mundo.
P: Investir em estágio inicial oferece uma recompensa maior, mas também um risco maior. Você já teve medo dos riscos?
R: Para mim, essa é a parte mais difícil. Eu amo vencer e ter sucesso, mas no estágio inicial, 70% ou 80% dos negócios nos quais você investe falham. Eu não gosto disso. Ter que aceitar isso é difícil para mim.
Se uma de nossas empresas não vai bem, é de partir o coração. Muitas vezes, elas não vão bem simplesmente porque não conseguem levantar fundos. Infelizmente, você vê isso acontecendo muito com empresas lideradas por mulheres ou pessoas de cor. Elas têm um ótimo produto, mas dificuldade em passar do estágio inicial.
Tudo se resume a marketing e como as pessoas vão conhecer seu produto.
P: Como você encontra empresas para investir?
R: Recebemos muitas propostas. Adoramos investimentos business-to-business e ainda temos nosso foco em consumidores. Encontramos através do boca a boca. Às vezes, você consegue os melhores negócios de fundadores de outras empresas de capital de risco. No capital de risco, 90% do jogo são relacionamentos e conexões —manter essas conexões tendo chamadas constantes com pessoas de outras empresas e perguntando o que estão fazendo e compartilhando o que estamos fazendo.
Queremos operar como uma firma de capital de risco com as mangas arregaçadas, onde as pessoas querem ver a Serena Ventures em sua tabela de capitalização e saber que podemos trazer coisas diferentes.
Um exemplo é a Rebelstork. Eles trabalham com caixas abertas de itens —o foco deles é bebês. Digamos que alguém receba um presente que é um berço, e não quer ou não precisa dele, então o devolve ao varejista. O varejista joga esse berço no aterro porque tem que fazer isso por política. A fundadora [Emily Hosie] está pegando essas caixas abertas e vendendo por um preço mais baixo, o que ajuda as mães e com a poluição. Isso está alinhado com nossa tese de resolver grandes problemas para pessoas comuns.
P: Quais outros empreendimentos ressoaram com você?
R: Há uma empresa chamada Esusu. Se você paga aluguel, isso não ajuda seu score de crédito. Como você consegue uma hipoteca sem um score de crédito? Minha mãe, depois de todos esses anos pagando aluguel, nunca melhorou seus scores de crédito. Se você é um inquilino e paga aluguel na plataforma da Esusu, você consegue construir crédito. Até eu, que ganhei Grand Slams, tive que contrair dívida para conseguir crédito.
A empresa ajuda inquilinos e locadores porque, se você é um inquilino, vai receber seu pagamento em dia, e se você é um locador, está incentivado a construir seu crédito.
P: O que você aprendeu com seus empreendimentos?
R: Aprendi sobre os investimentos não financeiros que são tão importantes. Além do financiamento, trata-se de abrir portas para os fundadores criarem oportunidades. Seja fazendo uma conexão com um grande varejista, oferecendo coaching executivo ou trazendo exposição para as empresas em que investimos, há mais na Serena Ventures além do investimento quantitativo.
P: Qual é o melhor conselho de investimento que você recebeu, e que conselho você tem para investidores aspirantes?
R: Faça sua devida diligência e não dependa de outra pessoa. Eu faço isso com cada empresa.
Eu invisto em empresas em estágio inicial, e muitos desses [investimentos] não retornam. Quando invisto, penso que não vou ver isso de novo, então o melhor conselho que eu daria é investir em empresas nas quais você acredita e esperar investir dinheiro que você não verá de volta.
P: Conte-me sobre a Wyn Beauty. Qual foi o impulso para começar? Que lições de negócios você aprendeu e como desenvolveu o nome e a embalagem?
R: Comecei a Wyn Beauty porque sempre acreditei que a beleza deve ser para todos e que a beleza de desempenho é essencial para uma vida confiante. Passei minha carreira empurrando meu corpo, e percebi que os produtos de beleza que eu usava nem sempre atendiam às minhas necessidades. A Wyn Beauty atende. É criada para indivíduos como eu, que estão constantemente em movimento.
Nossa embalagem chartreuse é uma referência à bola de tênis, que é uma referência às minhas vitórias na quadra, uma mentalidade que queremos levar para nossos produtos e as experiências que se tem ao usá-los.
Com a Wyn Beauty, aprendi que construir um negócio exige paciência e resiliência —nem sempre é sucesso instantâneo. Você tem que estar disposto a mudar de direção quando as coisas não saem como planejado.
Aprendi a confiar nos meus instintos em qualquer empreendimento ou marca que estou defendendo. Como atleta, tive que tomar decisões rápidas sob pressão, e nos negócios descobri que confiar em si mesmo, mesmo quando há incerteza, é crucial para fazer movimentos ousados que valem a pena.