Thomaz Koch, de 79 anos – completará 80 em maio –, é um dos maiores nomes do tênis brasileiro em todos os tempos. Com a experiência de quem construiu carreira vitoriosa numa época praticamente amadora do tênis, ele fala sobre a nova safra brasileira. Chama João Fonseca de ‘fora de série’, mas faz alerta importante.
Koch jogou numa época em que tudo era muito difícil, não havia patrocínio para o atleta e os torneios não pagavam prêmios. Mas ele não reclama – pelo contrário. “Gosto da época em que joguei. Jogava por amor. Não era por dinheiro ou por pontuação no ranking. Hoje, os pais querem isso, a premiação, o que coloca muita pressão nos filhos”, disse, em entrevista exclusiva ao No Ataque.
Perguntando a respeito do que pensa sobre João Fonseca, apontado como um novo fenômeno no tênis mundial, Koch destaca: “Ele ainda é novo, é preciso dar um tempo, precisa de rodagem. Mas já o considero fora de série. Ele tem todos os golpes, o que não é comum”.
O experiente ex-tenista, que já integrou a comissão técnica da Seleção Brasileira durante a Copa Davis, elenca as virtudes de João Fonseca. “Ele tem potência na direita e na esquerda. Um saque fantástico. Tem o que a gente chama de mão muito boa, smash, voleio. Não é vulnerável, em nenhuma situação. A direita dele é, a meu ver, a mais forte de hoje”, diz, fazendo, contudo, um alerta: “Mas ainda tem muito a aprender”.
Na opinião de Thomaz Koch, João Fonseca precisa de maior equilíbrio em quadra no que tange à intensidade física: “Ele precisa saber dosar, pois se entrega muito num jogo. Se desgasta por isso. Vai aprender muito mais jogando torneios de Grand Slam, em disputas de cinco sets. Ele se entregando como faz, o físico e a cabeça se desgastam muito, o corpo não aguenta. Mas isso ele vai aprender”.
Thomas Koch no tênis
Thomaz Koch é dono de quatro medalhas em Jogos Pan-Americanos, sendo duas de ouro, ambas em Winnipeg’1967, em simples e dupla, quando jogou em parceria com Édson Mandarino. Foi também prata em duplas mistas e bronze em duplas masculinas em São Paulo’1963. Na primeira, ao lado de Maria Ester Bueno e, na segunda, com Iarte Adam.
Em 1975, levou o título de simples e de duplas mistas (jogando com a uruguaia Fiorella Bonicelli) do Aberto da França
Em conta que o tênis era um esporte marginalizado na época em que atuava: “Era muito maluco. O tenista era visto como um vagabundo, que não gostava de trabalhar. Era comparado com surfista, skatista. Pra muita gente, a maioria, o tenista não queria nada. Quando comecei, pensava: ‘O que vou fazer quando crescer?’. Não era uma profissão, diferentemente de hoje, em que você fica o mínimo de tempo e ganha muito dinheiro”.
Uma das grandes mudanças para os tempos atuais são as premiações vultosas que os atletas ganham atualmente quando erguem um troféu.
“Na minha época, não havia premiação. Ao vencer Wimbledon, a Maria Ester Bueno ganhou 20 libras. O que a gente pensava era ficar no zero a zero. Eu vendia o material que usava nos jogos para ter dinheiro: a roupa, a raquete, o tênis. Os promotores do torneio pagavam passagem, hotel, alimentação e transporte para quem ia jogar. No resto, a gente tinha de se virar”, relembra Thomaz Koch.