JOGOS OLÍMPICOS

Isaquias contou com ajuda familiar e psiquiátrica por medalha: ‘Deu vontade de parar’

Canoísta cuidou da saúde mental para voltar a competir e conquistou a prata no C1 1000m nesta sexta-feira (9/8), nos Jogos Olímpicos de Paris 2024
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Isaquias Queiroz precisou parar. Após mais de uma década com a pressão de competir em alto nível, o baiano sentiu a necessidade de se recolher. Afastou-se dos treinos em Lagoa Santa, Minas Gerais, e retornou ao litoral da Bahia em 2023 para ficar com a família e cuidar da saúde mental. Essa decisão, muito questionada à época, foi fundamental para que o canoísta conquistasse a medalha de prata no C1 1000m nesta sexta-feira (9/8), no Estádio Náutico Vaires-sur-Marne, nos Jogos Olímpicos de Paris 2024.

Multimedalhista, Isaquias pensou em abandonar a canoagem. Ele não sentia mais vontade de remar e percebeu que descontava aquela frustração nas pessoas que ama. Por isso, foi aconselhado pelos médicos da Confederação Brasileira de Canoagem e do Comitê Olímpico do Brasil (COB) a priorizar a própria saúde. Teve auxílio psicológico, psiquiátrico e familiar para voltar mais forte. E conseguiu.

“Vocês sabem, 2023 não foi um ano especial para mim. Na verdade, foi um ano especial para mim: poder estar com a minha família, passar por um momento que eu nunca tinha passado e poder ver as pessoas que realmente estavam do meu lado me apoiando, me incentivando, cuidando de mim. Essa medalha coroa essa situação toda que eu tive”, contou Isaquias, logo após o pódio.

“Eu estava muito sobrecarregado, tanto mentalmente, quanto psicologicamente em 2023. Muito estresse mental. Não conseguia raciocinar direito, estava muito mal, tinha vez em casa que eu explodia por qualquer coisa com o Sebastian (filho de Isaquias), é um momento de estresse”, continuou Isaquias.

“Eu falei para a doutora Ana (Carolina Cortê, médica): ‘Não sei o que está acontecendo. Às vezes, sinto que estou descontando o que estou sentindo no meu filho, que não tem nada a ver’. Então, ela falou: ‘Isaquias, você precisa de ajuda’. E aí eu comecei a conversar com ela com doutor Hélio (Fádel, psiquiatra), do Comitê Olímpico, e aí tive que tomar remédio para me ajudar nessa questão. Me ajudou bastante”, completou.

Ajuda de ex-jogador

Afastado dos treinos durante muito tempo, Isaquias voltou a competir sem grandes resultados. Foi cobrado por isso e encontrou inspiração em um discurso de um ex-jogador de futebol: Ricardo Oliveira.

Em 2018, o ex-atacante defendia o Atlético. Ele vinha pressionado por atuações inconstantes e, durante entrevista coletiva, quebrou o protocolo e discursou por 11 minutos e 24 segundos. Pediu apoio da torcida e disse a seguinte frase, que anos depois inspiraria Isaquias.

“Quando a gente perde, sei como é no dia seguinte. Isso não pode condicionar a minha vida. Um dia ruim, uma semana ruim, um mês ruim, um ano ruim não podem significar que eu tenho uma vida ruim. Para mim, não é assim”, declarou Ricardo Oliveira, em trecho do discurso de 4 de setembro de 2018.

Nesta sexta, com a medalha no peito, Isaquias o citou: “Eu já vinha há nove anos brigando no pódio. No primeiro ano (ruim) para mim, vi tanta gente me massacrar por causa de um ano ruim. Como o jogador do Atlético Mineiro, agora esqueci o nome dele, falou: ‘Não é por causa de um dia ruim, um mês ruim, um ano ruim, que eu vou jogar tudo fora. Quando eu perdi no primeiro ano, me massacraram”.

“Eu falei: ‘Tudo bem, não tem problema. O foco é Paris, não é Copa do Mundo, Mundial’. E conseguimos! Não foi o ouro, que todo mundo – ou eu – esperava, mas conseguimos. Não saímos daqui sem medalha”, finalizou o canoísta de 30 anos.

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