Ícone do Osasco, Tifanny reagiu à ausência forçada dela no Mundial de Clubes Feminino de Vôlei. A oposta ficou de fora da lista do clube para a competição porque a Federação Internacional de Voleibol exigiu que ela fizesse “mais testes” por ser uma atleta transgênero.
Mesmo sem poder entrar em quadra, a tocantinense foi ao ginásio do Pacaembu, em São Paulo, na noite desta terça-feira (9/12) para acompanhar a estreia da equipe contra o Alianza Lima, do Peru. Ela está concentrada com o elenco e, antes do saque inicial, foi homenageada pela torcida e teve o nome gritado em alto e bom som em três momentos diferentes.
Perguntada pelo No Ataque, Tifanny fez o primeiro comentário público desde que veio à tona o pedido da FIVB, que a tirou da lista preliminar para o Mundial no final de novembro. A atacante de 41 anos também reagiu à homenagem dos torcedores.
‘Seguindo firme’
“É um processo que não posso falar ainda, porque está correndo, não posso comentar se sim ou se não porque é um processo que ainda está correndo, como foi tudo muito em cima (da hora)…mas eu estou bem, estou seguindo firme, e a minha equipe está bem, o importante é isso. Estou torcendo para elas
Tifanny, oposta do Osasco
“Foi linda (a homenagem da torcida), as meninas representaram muito bem, a torcida sempre representa muito bem nosso Osasco, e o amor que eles têm por mim e pelo nosso clube é tão grande que me faz sentir-me vitoriosa semre. Dentro e fora de casa, já são vencedoras. Fico muito feliz”, afirmou a jogadora.
A história de Tifanny
Tifanny iniciou sua carreira no vôlei masculino, em que chegou a defender o Juiz de Fora e iniciou oficialmente o processo de transição de gênero no final de 2012, fora do Brasil. Ela se submeteu a dois procedimentos cirúrgicos e a tratamento hormonal para diminuição dos seus níveis de testosterona, o principal hormônio sexual masculino.
Em 2017, a Federação Internacional de Vôlei (FIVB) autorizou formalmente a oposta a jogar em campeonatos femininos regularizados pela entidade e, ainda naquele ano, tornou-se a primeira mulher trans a jogar a Superliga Feminina, á época pelo Bauru. Quatro anos depois, ela se transferiu para o Osasco, onde fez história em 2024/2025 com a conquist da Tríplice Coroa: Campeonato Paulista, Copa Brasil e Superliga.
Mesmo seguindo a regulamentação do Comitê Olímpico Internacional e fazendo exames regulares, que atestam que ela está bem abaixo do nível máximo permitido de testosterona por litro de sangue, Tifanny foi alvo de muito preconceito até no meio do vôlei, entre jogadoras e ex-jogadoras e até o técnico Bernardinho.
O treinador da Seleção Brasileira Masculina de Vôlei disse, em 2019, após ponto da oposta contra seu time, o Rio de Janeiro (atual Flamengo), a seguinte frase: “Um homem, é f***”. Depois da repercussão negativa após ser flagrado em câmera, ele se desculpou com a atacante. Em 2018, a oposta Tandara, que à época jogava no Osasco e na Seleção Brasileira, também se declarou contra a presença dela na Superliga, sob a justificativa vaga de que “a puberdade dela se desenvolveu no sexo masculino”.
Com o passar dos anos, embora tenha seguido sofrendo com preconceito, a jogadora passou a ser mais aceita na Superliga e chegou a ser cotada na Seleção Brasileira devido ao bom desempenho. A convocação nunca aconteceu, mas ela atingiu feito mais importante: abriu portas para as mulheres trans no vôlei – e no esporte em geral – brasileiro.