VÔLEI

Vôlei: por que brasileiros não ganham Mundial há 13 anos? Gabi, Brait e técnicos opinam

No Ataque conversou com Gabi Guimarães, Brait, Santarelli e Rui Moreira para entender 'jejum' dos brasileiros no Mundial de Clubes Feminino de Vôlei

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Já são 13 anos desde a última vez que um brasileiro venceu o Mundial de Clubes Feminino de Vôlei. Em 2012, o Osasco de Sheilla e Thaisa fez história ao erguer o troféu com vitória por 3 sets a 0 na final sobre o Rabita Baku, do Azerbaijão, em Doha, no Catar.

Ao longo dos primeiros dias da edição 2025 do Mundial, disputada no ginásio do Pacaembu, em São Paulo – é a primeira vez em 31 anos que o Brasil sedia o torneio -, o No Ataque perguntou a alguns personagens importantes o que mudou de lá para cá. Foram entrevistados Gabi Guimarães, craque brasileira do Conegliano, da Itália; Camila Brait, líbero e capitã do Osasco (e que estava no time em 2012); Rui Moreira, técnico português do Praia; e Davide Santarelli, técnico italiano do Conegliano e da Seleção da Turquia.

As respostas dos personagens convergem para a questão econômica: os clubes europeus, que ganham – e pagam – em euro, passaram a ter poderio ofensivo maior para formar grandes equipes, mudando a lógica do vôlei. Veja o que cada um opinou.

Gabi Guimarães: ‘Muito se fala no vestiário sobre isso’

“Sabemos da qualidade das equipes brasileiras brasileiras. Apesar de terem tantos anos que não ganham títulos, estão sempre no topo, buscando medalhas. Com a economia do jeito que está, os investimentos que que são feitos na Europa são muito maiores do que os das equipes brasileiras. Quando você vê as duas equipes italianas no Mundial (Conegliano e Scandicci), praticamente as melhores jogadoras do mundo estão jogando hoje na Itália ou na Turquia.”

Gabi Guimarães, ponteira do Conegliano e da Seleção Brasileira

“Fica um pouco mais difícil, mas as equipes brasileiras não ficam nem um pouco atrás. Já tivemos casos do Bauru, eu quando joguei no Rio de Janeiro (Flamengo), no Minas, no Osasco… Conseguir surpreender muitas equipes e muitos se fala dentro do vestiário sobre isso. O Santarelli já nos alertou, eu converso muito com as meninas, porque o favoritismo existe no papel, mas dentro de quadra é completamente diferente, principalmente jogando uma competição como esta, dentro da casa. Então, todo cuidado é pouco”, prosseguiu.

“Sabemos que o favoritismo está conosco e com o Scandicci, principalmente, mas as equipes brasileiras têm tudo para surpreender. Todo cuidado é pouco”, finalizou Gabi.

Camila Brait: ‘A Seleção era o Osasco’

“Ah, mudou que a Itália e a Turquia estão fazendo grandes feitos. Tá pegando melhor do mundo na sua posição, juntando e colocando num time só. Então, daí fica cada vez mais difícil ganhar. Na época que a gente foi campeão mundial, a Seleção Brasileira era o time todo de Osasco, praticamente (além dela, o time tinha as campeãs olímpicas Sheilla, Jaqueline, Fê Garay, Thaisa e Adenizia, além da ex-Seleção Fabíola). Hoje, não temos nenhuma jogadora da Seleção Brasileira. Mudou o investimento.”

Camila Brait, capitã do Osasco

Davide Santarelli: ‘Muitas brasileiras importantes jogam fora’

“Neste momento, muitas jogadoras brasileiras importantes jogam fora, na Turquia e na Itália. São os melhores campeonatos do mundo. Então, acho que elas estão tendo uma experiência muito boa. Neste momento, a Superliga não tem nível tão alto, mas elas sempre são muito técnicas e as admiro muito. Quando as assisto, penso: ‘OK, elas têm um ano a mais, dois anos a mais’, mas sempre jogam muito bem. É sempre bom vê-las jogar vôlei.”

Davide Santarelli, técnico do Conegliano e da Seleção da Turquia

Rui Moreira: ‘Fica difícil chegar às melhores do mundo’

“Primeiro, acho que o vôlei europeu, além de ter investimento muito maior e que consequentemente permite que os times tenham melhores equipes, melhores jogadoras, é um jogo que está muito mais físico naquilo que é o alcance, a agressividade do serviço, a agressividade do ataque, a própria agilidade e a velocidade do sistema ofensivo. E isso faz com que os times europeus hoje, nomeadamente os times italianos e os turcos, dominem o voleibol mundial.”

Rui Moreira, técnico do Praia Clube

“Também há uma coisa que desnivelou muito. Hoje, o dólar e o euro têm o dobro do valor comparativamente ao real. Isso naturalmente impacta nas jogadoras que contratamos, porque vou utilizar um valor aqui meramente figurativo – hoje, um milhão de euros são seis milhões de reais. Há cinco anos eram três”, prosseguiu o técnico do Praia Clube.

“E se nós pensarmos do ponto de vista dos clubes, dos patrocinadores, dos investidores, os investidores dos clubes investem em reais, mas depois precisamos contratar as jogadoras que têm o seu valor do mercado em euro ou dólar. Fica muito difícil chegar às melhores jogadoras do mundo, se calhar há uns anos nós conseguíamos trazer algumas. Ou seja, o campeonato naturalmente acaba por perder um pouquinho de qualidade, porque essas jogadoras não não são alcançáveis financeiramente”, explica o português.

“Mas não tenham dúvidas, a Seleção Brasileira continua a ser das melhores do mundo, o Brasil continua a ser um viveiro de atletas e a potencializar atletas com qualidade, experientes, atletas de meia-idade, jovens sempre aparecendo. Ou seja, nós – não sou brasileiro (risos), mas hoje trabalho no Brasil – temos que valorizar o produto nacional e desenvolvê-lo para tentarmos brigar com os melhores times”. afirmou Rui Moreira.

“Não podemos controlar o poderio financeiro dos outros lados, não depende de nós, mas o trabalho que fazemos em casa e na nossa liga, no nosso campeonato, depende de nós. Então, o pensamento tem que ser esse. Hoje estamos um pouquinho atrás, mas é uma coisa que temos que continuar a lutar”, finalizou.

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