O primeiro Mundial de Clubes Feminino de Vôlei no Brasil em 31 anos chegou ao fim. A reportagem do No Ataque esteve presente no ginásio do Pacaembu do dia inicial (terça-feira, 9/12) ao final (domingo, 14/12) e, por meio deste texto, avalia: o que deu certo e o que deu errado no evento?
Em primeiro lugar, é importante ressaltar: o Mundial foi muito bem organizado, especialmente para um evento definido “às pressas”. O torneio seria disputado na China, que desistiu de sediá-lo, e a confirmação de que a sede seria São Paulo foi feita no final de outubro, menos de dois meses antes da data marcada para os primeiros jogos. Além disso, só em novembro oficializou-se que o ginásio do Pacaembu receberia os jogos do torneio.
Outra constatação também ficou cristalina e foi compartilhada com o No Ataque por jogadoras e torcedores ao longo do torneio: o ginásio do Pacaembu ficou pequeno para a relevância do torneio e para o amor dos brasileiros pelo vôlei.
O local operou com capacidade para apenas dois mil espectadores, além de cerca de 140 na área VIP. Fica a impressão de que, mesmo em uma arena quatro vezes maior, o torneio também seria sucesso de público. Contudo, foi o “preço a ser pago” pela definição “em cima da hora” – objetivo inicial, o ginásio do Ibirapuera já estava ocupado, bem como outros ginásios maiores como o Wlamir Marques.
Organização e estrutura
Recém-reformado, o ginásio do Pacaembu foi bem adaptado para o torneio. Apesar do tamanho aquém do ideal, o local estava bem sinalizado e não tinha divisões de setores para o público, o que facilitou a organização e a entrada dos espectadores para os dias de jogos. A reportagem não flagrou filas “quilométricas” em nenhum momento.
Um problema que a reportagem sentiu e também muito comentado por torcedores e atletas foi o calor. Em meio ao verão brasileiro, muitas jogadoras – especialmente as europeias – sofreram com a temperatura elevada do local, que não tem estrutura de climatização fixa como muitas arenas estrangeiras. É verdade que mesmo em grandes ginásios brasileiros não há climatização, mas como o Pacaembu é mais “compacto” em relação ao Ibirapuera, ao Maracanãzinho e ao Mineirinho, por exemplo, o problema ficou mais em evidência.
Apesar disso, a organização fez o possível para atenuar a questão. Grandes climatizadores móveis foram colocados em partes estratégicas da arquibancada e na área de imprensa. A zona mista – local por onde passam jogadoras e técnicos após as partidas para atender a imprensa – ficou sem, entretanto.
O conforto não era o maior, já que o ginásio do Pacaembu não tem assentos na arquibancada, que é feita apenas de concreto. Na área VIP e na tribuna de imprensa, havia cadeiras confortáveis.
Houve erros, é claro – um deles, motivado por “imprevisto”, mas que não deixou de ser um erro. Na quarta-feira (10/12), as fortes rajadas provocadas pelo ciclone extratropical que assolava o Brasil derrubaram estrutura metálica da área VIP durante jogo do Praia Clube, espalhando todas as comidas e bebidas pelo chão e atingindo levemente uma garçonete, que não teve ferimentos mais gravez.
O caminhão da transmissão da Cazé TV, localizado na parte externa, também foi danificado pela queda, forçando que o celular da repórter de quadra transmitisse o jogo por alguns minutos. É claro que o ciclone extratropical não era previsto – porém, poderia ter havido precaução maior frente às circunstâncias, pois se muitas pessoas estivessem no local no momento do acidente, poderia haver mais feridos.
Estrutura para a imprensa
A estrutura para a imprensa foi muito melhor que a disponibilizada em outros grandes eventos de vôlei – que costumam colocar os repórteres em cadeiras e mesas de plástico simples atrás da quadra, sob o risco de levarem boladas e terem seus equipamentos de trabalho danificados.
Na ausência de uma tribuna fixa para jornalistas, a organização adaptou parte da arquibancada com mesas, cadeiras, cabos de internet que funcionavam bem e muitas extensões com tomadas. Não faltou espaço para ninguém – diferentemente de outros torneios, que muitas vezes colocam menos cadeiras e mesas que o número de jornalistas credenciados para cobrí-los, assumindo que deixarão pessoas sem estrutura mínima de trabalho.
A tribuna adaptada era do lado da zona mista, facilitando o acesso ao local. Além disso, havia mesa com alimentos – frutas, sanduíches e bolos – e bebidas – suco, água, refrigerante e café.
Preços e ausência de merchandising
Os preços dos alimentos e das bebidas eram elevados, mas nada muito diferentes do esperado para um evento esportivo fechado de grande demanda. Havia boas opções de quiosques e food trucks com boa variedade de produtos oferecidos. Também havia ambulantes que circulavam pela arquibancada oferecendo parte dos produtos dos food trucks e quiosques. Veja, abaixo, os valores.
O potencial de merchandising do Mundial foi mal aproveitado, na visão da reportagem do No Ataque. Embora não sejam conhecidas as “burocracias” necessárias para isso, um stand com produtos relacionados ao evento, ao vôlei em geral e aos times participantes certamente faria sucesso com o público presente.
Atmosfera, vôlei e ‘efeito Gabi’
A atmosfera do Mundial esteve impecável do início ao fim. A vantagem da realização do torneio em um ginásio mais compacto foi que o local transformou-se em um “caldeirão” – o som se concentrava e ressoava com grande altura na quadra.
A torcida deu show de animação nos jogos do Osasco, anfitrião do evento que, por motivos lógicos – era o único time paulista do Mundial – foi o que mais levou adeptos ao ginásio. Contudo, nos jogos do Praia Clube a atmosfera também estava envolvente.
O grande destaque entre os times não-brasileiros não poderia ter sido outro – o efeito Gabi Guimarães. A ponteira brasileira do Conegliano era ovacionada a cada vez que entrava em quadra e arrastou uma multidão – certamente, muitos torcedores foram ao ginásio só para vê-la, já que ela não jogava no país natal havia um mês e meio.
As ovações constantes a Gabi ao longo de toda a competição evidenciam ainda mais o nível de consolidação da belo-horizontina como estrela, ícone e celebridade nacional.
Além disso, o carinho imenso recebido por todo o time estrelado do Conegliano comprova que muitos brasileiros “acolharam” o gigante italiano devido à ponteira, mas acabaram também se cativando com outras estrelas internacionais da equipe, como a oposta sueca Isabelle Haak e a líbero italiana Monica De Gennaro.
Apesar de o Conegliano ter sido “escolhido” pelos brasileiros, o Scandicci também atraiu bons públicos, especialmente pela oportunidade de ver estrelas como a oposta italiana Ekaterina Antropova – que foi ovacionada em diversos jogos – e a levantadora sérvia Maja Ognjenović.
A nível esportivo, é verdade que faltaram mais partidas “dramáticas” e eletrizantes. Das 16 partidas, 12 terminaram em 3 sets a 0. Contudo, isso já era esperado, pois a discrepância técnica entre os times europeus e brasileiros e os outros participantes era grande. Ainda assim, o Alianza Lima, do Peru; e o Zhetysu, do Cazaquistão, proporcionaram bons jogos e chegaram a dar trabalho para Scandicci e Osasco, respectivamente.
Nos confrontos entre times brasileiros e italianos, os favoritos levaram a melhor – algo esperado, dada a grande diferença de investimento nas equipes. Contudo, os times da Superliga também mostraram que têm sim condições de competir – o Praia Clube, por exemplo, foi dominado pelo Conegliano, mas impôs dificuldades ao Scandicci, embora tenha perdido por 3 sets a 0.
O Osasco conseguiu impor grandes dificuldades aos dois times – perdeu por 3 sets a 0 para o Scandicci, mas chegou a ter condições de vencer as duas primeiras parciais; conseguiu vencer um set dominando o Conegliano e chegou bem perto de abrir 2 sets a 0, embora tenha tomado a virada na semifinal e perdido por 3 sets a 1.
Na final, o resultado foi diferente do esperado, mas a surpreendente vitória do Scandicci sobre o favorito Conegliano enriqueceu esportivamente a competição – apesar da frustração de grande parte do público, que torcida para o time de Gabi Guimarães, o resultado deu maior “complexidade” e animou aqueles que gostam de quebras de expectativa, fator crucial para manter o esporte competitivo e imprevisível.
Ao fim, a conclusão que fica é que o Brasil não pode esperar 31 anos para sediar um Mundial de Clubes novamente. Que o país tem condições de organizar grandes torneios mesmo em prazos “apertados”, mas que o público brasileiro apaixonado pelo vôlei merece que essas grandes competições sejam disputadas em grandes palcos.










