Há oito anos no Oriente Médio, a levantadora Marcela Corrêa não esperava viver os momentos de tensão como os que ocorreram desde o último dia 7, quando Hamas invadiu Israel e executou centenas de civis, entre eles dois brasileiros: o gaúcho Ranani Nidejelski Glazer, de 23 anos, e a carioca Bruna Valeanu, de 24. Em entrevista ao Estado de Minas / No Ataque, a curitibana de 35 anos desabafou sobre o conflito armado que foi iniciado após o ataque terrorista.
“Não é questão de ser pró-Israel ou pró-Palestina. As coisas que o Hamas fez aqui são piores que um filme de terror, os vídeos que são divulgados, as fotos que são divulgadas, bebês decapitados, mulheres estupradas, idosos raptados, tudo sem nenhum escrúpulo, um grande absurdo. Acho importante os brasileiros e o mundo inteiro saberem disso, a gente está sempre botando vídeos para as pessoas verem o que aconteceu. [Peço] muita oração, que vocês orem muito para o povo daqui, que é um povo maravilhoso”, disse.
Marcelinha, como a brasileira é conhecida, mora há quase uma década em Israel. Por causa desse longo período, ela já conseguiu a nacionalidade israelense e defende a seleção local. Hoje, a levantadora atua pelo Maccabi Haifa, um clube do norte do país. Em razão da proximidade com a fronteira com o Líbano, onde o exército do Hezbollah também iniciou ataques contra Israel, ela se mudou momentaneamente para a casa da família de uma companheira de time em Kfar Saba, no centro do país.
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“Agora estou na área central, quando estava no norte, teve bomba e foguete. A gente preferiu vir para o centro do país porque tem esse shelter (abrigo) na casa. Em Haifa, onde a gente mora, temos um apartamento mais antigo e não tinha shelter (abrigo). Mas eu não presenciei, nos oito anos aqui, esse tipo de guerra, nunca ouvi sirene, nunca corri para um bunker, mas eu posso te dizer que eu me sinto segura, mas é óbvio que tem risco de bomba. Eu tenho medo é se o Hezbollah resolver entrar de fato, aí entram o Irã, os EUA, aí vai ser a Terceira Guerra Mundial, isso me dá medo, mas eu me sinto segura aqui, o que vejo do exército, dos israelenses, de como eles protegem a vida do cidadão, me dá orgulho de ser cidadã israelense também”, disse.
Preocupação da família
A família de Marcelinha mora no Brasil e está preocupada com a situação dela em Israel. Apesar disso, a jogadora de vôlei conta que em Kfar Saba a situação, pelo menos por enquanto, é de certa normalidade.
“Eles (familiares) querem que eu volte, amigos meus também querem, converso com eles todos os dias, só quem sabe realmente é quem está aqui. Ontem, estava cheio de crianças brincando em um parquinho ao lado da casa onde estamos. Não é o que mostra na TV, óbvio que o país está numa tristeza danada, o Hamas fez um estrago enorme, várias cidades no sul estão parcialmente destruídas, muitas crianças mortas, muitos corpos, mas tem lugares que a vida está ok, e meus pais respeitam a minha decisão. Mas, se eu sentir que estou com medo, eu vou tentar voltar”.
Relatos de guerra
Como quase todo cidadão em Israel, Marcelinha conhece alguém que está envolvido nesse embate. Ela conta que o irmão de sua companheira de time serve o exército de Israel e chegou a ser ferido no braço em um ataque do Hamas.
“Um irmão dessa menina que mora comigo trabalha no exército no sul do país, ele foi ferido e conseguiu salvar um casal de idosos que ficou 10h com terroristas dentro de casa, ele foi ferido no braço, mas no final eles conseguiram matar os terroristas e salvar esse casal de idosos”.