Referência do vôlei feminino nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, Rosamaria relatou as dificuldades no período que enfrentou a depressão. Na ocasião, a oposta defendia o Minas e decidiu se afastar da Seleção Brasileira para tratar da doença. Abaixo, leia trechos do texto publicado pela atleta no Uol, nesta quinta-feira (25/7).
Diagnóstico de depressão
Era temporada de 2018 quando ia para o treino muda e saía calada. E chorava. E tive queda de cabelo. Chorava por tudo, queda de cabelo intensa, coração acelerado. Lembro que cheguei um dia do treino, estacionei o meu carro e eu não consegui sair. Comecei a chorar, chorar e chorar. Estava com o corpo mole, não queria fazer nada, não tinha forças para sair do carro.
Nesse dia que eu não consegui sair do carro, conversei com um amigo, que me deu o contato de uma psiquiatra. Quando fui conversar com ela, ouvi: ‘isso é totalmente um quadro pré-depressivo’.
Afastamento da Seleção
Foi aí que comecei a me tratar e entender o que estava acontecendo. E veio a decisão de me afastar da Seleção em 2019.
Parei de ter sensações e entendi que tinha alguma coisa errada quando me sentia vazia por dentro. Ia para o treino e não conseguia nem ficar chateada com as coisas.
Eu não tinha reação, não estava nem feliz, nem triste. Se a gente estava perdendo ou ganhando, não conseguia sentir emoções.
Nossa temporada é contínua. Eu terminava a de abril no clube, tinha uma semana, às vezes duas, e já me apresentava na seleção. E terminava a seleção, quatro cinco dias eu já ia para o clube. Estava vivendo aquilo desde os meus 16 anos. Então eu entendi que eu estava muito saturada.
Nunca tive um tempo para mim, para descobrir o que eu gostava além do vôlei. Eu estava me vendo só como uma jogadora, e a partir do momento que o vôlei estava andando mal, eu estava me sentindo meio inútil. Se eu não sabia jogar bem vôlei, o que eu sabia fazer? Tipo? Quem era eu?
Após a temporada de 2018, entendi, depois de muita terapia, que tudo que eu precisava era de um tempo para mim, para relaxar, me divertir, ficar com a minha família. Eu não conseguia pensar em continuar aquela batida de treinos e jogos e pressão, que eu mesma colocava em mim.
Foi quando conversei com o Zé [Roberto, técnico da seleção], expliquei a ele o que estava acontecendo e da minha decisão [de não jogar a pré-olimpíada].
Ressurgimento de Rosamaria
Sabia que seria muito difícil, um risco, afinal, estava entrando em um outro campeonato, e muitas vezes, leva um tempo para se adaptar com a cultura, alimentação, outro ritmo de treino. Fui com todo mundo contra, pensando nesses riscos, mas era o meu sonho e achei que era importante para essa minha renovação.
Com ajuda da terapia, tive o entendimento do que era o meu sonho. Queria botar a cabeça no travesseiro e dormir sabendo que eu estava fazendo o que eu queria fazer.
Jogar na Itália foi uma das melhores decisões da minha vida e aquele ano foi espetacular. Eu terminei como segunda maior pontuadora do campeonato. Infelizmente a temporada acabou na metade por causa da covid, mas foi um divisor de águas na minha carreira.