ENTREVISTA

O papo com Walewska que inspirou mineiro a blindar finanças milionárias de atletas no Brasil

Educador financeiro Marcelo Claudino recorda o papo decisivo com lenda do vôlei que o fez criar serviço de gestão para atletas de alto nível

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A trajetória de um atleta de elite é intensa e curta, principalmente se comparada a tantas outras profissões. Milhões podem ser feitos em poucos anos, mas a gestão desse patrimônio é um jogo completamente diferente, para o qual a maioria não está preparada.

O educador financeiro Marcelo Claudino percebeu esse vácuo e estruturou um serviço completo de gestão patrimonial focado nesses profissionais ao criar a empresa Top Family Office. Hoje, ele blinda a carreira de estrelas do futebol, vôlei e outras modalidades, mas a origem desse negócio não veio de planilhas. Tudo começou com um papo em um avião, em 2008, com a lendária campeã olímpica Walewska.

Em entrevista exclusiva ao No Ataque, Marcelo Claudino revelou como a paixão antiga pelos esportes encontrou a necessidade latente de organização financeira no universo dos atletas, culminando na criação de um serviço especializado que era, até então, raro no país.

O despertar para a realidade do atleta

Embora o encontro com Walewska tenha sido o catalisador, a inquietação de Claudino começou anos antes. Fã de esportes desde a infância, ele já atuava no mercado financeiro quando teve o primeiro vislumbre do caos que poderia reinar na vida de um profissional em ascensão.

“É um trabalho que a gente já faz há 17 anos. Bom, na verdade, eu sempre fui um adorador dos esportes, né? Cresci nos anos 1980, gostando e assistindo todos os esportes na Bandeirantes, com o Luciano do Valle”, contou Claudino.

A virada de chave ocorreu em 2004, quando foi a uma festa promovida por um jovem jogador do Atlético, que expôs a inversão de prioridades comum a muitos talentos em ascensão no futebol.

“Eu tive a oportunidade de visitar um atleta na casa dele. E nessa ocasião, eu percebi que as prioridades estavam todas invertidas, né? Ele, com a esposa grávida, já tinha um filho, ele estava subindo da base para o profissional, já teria um bom salário para a época”, detalhou o CEO.

A cena que ele encontrou foi alarmante. “Com um carro financiado em 60 vezes na garagem, o telefone cortado, na época ainda tinha telefone fixo nas residências, e em difícil condição financeira, mas ainda assim dando festa para os amigos”.

Foi um choque de realidade que plantou a primeira semente. “Então, naquele momento eu percebi, falei, poxa, é isso que eu quero fazer, eu gosto tanto do esporte. Quem sabe eu posso usar meu conhecimento para ajudar essas pessoas”.

“Comecei ajudando aquele atleta, depois ele acabou se transferindo para o exterior, a gente ainda trabalhou um ano juntos”, completou.

Walewska - (foto: Alexandre Arruda/CBV)
Walewska foi um dos maiores nomes de sua geração com a Seleção Brasileira(foto: Alexandre Arruda/CBV)

O encontro que mudou tudo: o ‘sim’ de Walewska

A ideia de ajudar atletas, no entanto, só ganhou corpo e direção quatro anos depois, em 2008, graças a uma coincidência em uma ponte aérea.

“Mas tudo realmente só veio acontecer no ano de 2008, quando eu estava voltando de um voo de São Paulo para BH, senta do meu lado a Waleska, jogadora de vôlei, da Seleção na época, isso faltava dois meses para a Olimpíada de Pequim”, relembra Claudino.

A conexão entre o educador financeiro e a atleta foi imediata. “A gente veio conversando, teve várias coincidências ali, eu estava com um livro que ela já tinha lido. A gente acaba falando um pouco do nosso trabalho, trocamos telefones porque sou um colecionador de camisas. Falei, poxa, preciso ter uma camisa da Seleção de vôlei. Acabei pedindo uma camisa para ela nessa conversa”.

O que parecia apenas uma troca cordial transformou-se em uma demanda profissional urgente. Duas semanas depois, o telefone de Marcelo tocou. Era Walewska pedindo ajuda após uma confusão envolvendo o Murcia, da Espanha, clube que ela defendeu por uma temporada.

“Ela entrou em contato comigo, pedindo para bater um papo. E aí a gente conversou, fui entender o que estava acontecendo naquele momento. Isso em 2008. Ela e várias outras jogadoras que jogavam lá, Fofão, Jaqueline, tomaram um calote de um clube espanhol que acabou do dia para noite. Ficaram sem clube e sem receber”.

Aquele momento de crise exigia confiança e agilidade. “Então, ela buscou ali um apoio, viu em mim um profissional que pudesse ajudá-la naquele momento de transição. E assim foi, a gente começou a trabalhar juntos naquela época”.

A parceria começou no auge da carreira da atleta. Walewska (1979-2023) foi um dos maiores nomes de sua geração. Defendeu a Seleção Brasileira por uma década, coroando sua trajetória com o ouro olímpico em Pequim 2008, mesmo ano em que foi eleita a melhor bloqueadora do mundo. Com passagens por gigantes como Minas, Praia Clube, Osasco e Paraná, ela abriu as portas de um novo mundo para Claudino.

“Acabou que logo depois ela foi campeã olímpica em Pequim, e conseguiu um excelente contrato na Rússia nos anos seguintes, e a gente trabalhou todos esses anos, pelo menos até 2022, acompanhando toda a vida e trajetória dela”, ressaltou.

A ‘vida resolvida’ do atleta: um mito desfeito

O trabalho com Walewska permitiu a Marcelo Claudino entender as complexidades específicas da vida de um esportista de elite. A percepção pública de riqueza contrastava fortemente com a realidade da gestão desse patrimônio.

“A partir daí a gente viu a oportunidade de conhecer um pouco mais da vida dos atletas, porque todo mundo pensa assim, bom, o atleta tá com a vida resolvida porque ele ganha muito dinheiro”, explica.

A realidade, porém, era outra. “À medida que a gente foi atendendo outros atletas, a gente foi vendo problemas com a Receita Federal, problemas com os contadores, investimentos ruins, uma desorganização financeira muito grande. Então, ali, acho que eu posso dizer que foi o ponto inicial da nossa trajetória mesmo”.

Do improviso à referência em gestão patrimonial

A demanda criada por Walewska pegou Claudino de surpresa. Ele ainda não possuía uma estrutura dedicada a esse público e precisou agir rápido para profissionalizar o atendimento que nascia ali.

“Eu não estava preparado para essa transição, já dava consultorias para médicos, para advogados. Quando a Waleska me chamou, inclusive, eu tive que me virar, né? Não tinha uma empresa, não tinha um escritório. Tudo isso tive que improvisar bastante no início para causar uma boa impressão”, admitiu.

O improviso inicial deu certo e revelou um nicho de mercado carente para Marcelo Claudino. “Mas acabou tudo correndo muito bem, tudo dando muito certo. Depois a gente realmente viu que era uma estrutura que não existia na maioria dos estados, aqui no nosso país. A gente estava ali começando a engatinhar, a falar de educação financeira para as pessoas em geral, não só para os atletas. Então a gente viu essa oportunidade ali naquele momento”.

Marcelo Claudino ao lado de jogadoras do Praia Clube; Carol Gattaz é embaixadora da Top Family - (foto: Arquivo pessoal)
Marcelo Claudino ao lado de jogadoras do Praia Clube; Carol Gattaz é embaixadora da Top Family(foto: Arquivo pessoal)

Estabilidade econômica e tecnologia: o novo cenário

O sucesso desse modelo de negócio também foi impulsionado pelo amadurecimento econômico do Brasil. Segundo Claudino, o ambiente pós-Plano Real e a revolução tecnológica criaram as condições ideais para o planejamento de longo prazo.

“A gente vem de um país de muita dificuldade financeira (…) Realmente, depois do Plano Real, as coisas ficaram mais possíveis de serem equacionadas. Começamos a pensar em planejar a longo prazo e também a tecnologia”, avalia. “Não tínhamos também anteriormente uma tecnologia como temos hoje, que é absurda, na ponta dos dedos você poder investir, resgatar, sacar dinheiro, enfim, transferir. Acho que foram as duas situações. A estabilidade econômica com a tecnologia fez o mercado financeiro expandir bastante”.

Planejamento: a carreira curta exige gestão longa

Se no início, como no caso de Walewska ou do jogador do Atlético em 2004, os atletas buscavam ajuda em momentos de necessidade ou crise, o cenário mudou. Hoje, a procura pela Top Family Office é, majoritariamente, preventiva.

“Comigo aconteceram duas situações inicialmente, onde o atleta tinha necessidade. Agora, posteriormente, o ambiente ficou mais propício para planejamento”, diz Claudino. “À medida que as pessoas começam a conhecer e saber que existe um trabalho que pode planejar a carreira ao longo do tempo, que é possível fazer contas e saber com quanto você pode aposentar no futuro, como você pode conter os conflitos e eliminar os riscos jurídicos, contábeis, as pessoas ficam interessadas”.

Marcelo Claudino finaliza com uma reflexão sobre a dificuldade cultural que as pessoas têm em cuidar do dinheiro, algo que a Top Family Office busca desmistificar, especialmente para os atletas.

“O que acontece muito que, quando a gente não tá bem espiritualmente, a gente busca a fé. Quando a gente não tá bem mentalmente, a gente busca um psicólogo (…). Mas as pessoas geralmente, elas não tendem a procurar um profissional para ajudá-los naquilo que é muito importante na vida delas, que é a vida financeira, né?”.

Para o CEO, essa gestão é crucial no esporte. “Uma vida financeira equilibrada evita divórcios, evita conflitos, evita frustrações… Vimos que tudo isso também cabia dentro do esporte, até por serem profissionais que têm uma renda alta durante pouco tempo. São 15, 20 anos no máximo que um esportista consegue ganhar acima da média”.

Entrevista de Marcelo Claudino ao No Ataque

Nos próximos dias, o No Ataque publicará mais recortes da entrevista com Marcelo Claudino. O CEO da Top Family Office analisou os salários de jogadores das Séries A, B, C e D do Campeonato Brasileiro e do voleibol, bem como chamou a atenção para o risco de comprar carros importados quando ainda está na fase de construção do patrimônio. Fique ligado nos conteúdos!

Assista à entrevista completa

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