VÔLEI

Bicampeã olímpica detalha vida fora do vôlei e revela novos projetos para mulheres negras

Capitã do ouro olímpico da Seleção de Vôlei em Londres 2012, Fabi Claudino contou detalhes do novo ciclo em entrevista exclusiva

Era uma noite comum em Osasco. No ginásio José Liberatti, o som das bolas batendo no chão se misturava ao canto das torcidas, que não sabiam que estavam diante de um adeus. Em quadra, Fabiana Claudino erguia-se com a mesma firmeza de sempre, tão alta quanto a própria história que escreveu. Naquela partida contra o Maringá, em 15 de novembro de 2023, pela Superliga, encerrava-se, sem alarde, uma das trajetórias mais vitoriosas do vôlei brasileiro e mundial.

Meses depois, o silêncio da decisão se transformou em anúncio: a bicampeã olímpica, luziense de origem e de espírito, dizia ao país que era hora de se despedir das quadras. Agora, diante de um tempo novo, sem treinos diários, sem viagens constantes e sem a disciplina de ferro do alto rendimento, Fabi olha para o futuro como quem sabe que ainda carrega muitas histórias para jogar — só que em outros cenários. Leia, abaixo, a entrevista exclusiva da ex-central ao No Ataque.

Fabi Claudino posa com medalha de ouro de Pequim 2008 em Santa Luzia(foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)

– Como foi o processo de decisão para se aposentar das quadras?

Fabiana Claudino — “Minha decisão de encerrar a carreira não aconteceu de um dia para o outro. Foi uma construção, tanto no campo mental quanto no familiar. Sempre vi a vida como feita de ciclos: eles começam, amadurecem e se encerram. Escolher sair ainda em alta performance foi muito gratificante, porque trouxe a sensação de dever cumprido.”

– O que mais te surpreendeu ou te desafiou nesse momento de transição?

Fabiana Claudino — “O maior desafio foi pensar no ‘dia um’ depois do último jogo. Nós, atletas, vivemos uma rotina intensa — treinos, jogos, viagens — e, de repente, o tempo se abre. O que me trouxe tranquilidade foi saber que já estava preparada e com projetos estruturados para começar essa nova fase.”

– Como você lida com a ausência da rotina intensa do esporte de alto rendimento?

Fabiana Claudino — “A vida de atleta é extremamente intensa. Por isso, entendi que precisava de um período sabático: descansar, viver novas experiências e investir no meu desenvolvimento pessoal. Hoje, tenho buscado capacitação em gestão e empreendedorismo para estar pronta para os próximos desafios.”

– O que você tem feito atualmente? Quais projetos ou áreas ocupam seu tempo hoje?

Fabiana Claudino — “Hoje me dedico a estruturar projetos que unem esporte, impacto social e empreendedorismo. Tenho buscado entender o mercado, conversando com marcas, aprendendo com pessoas e construindo conexões que contribuem muito para o meu crescimento.”

– Você já desfilou? Como surgiu essa experiência com a moda e como foi?

Fabiana Claudino — “Foi uma experiência inesperada, mas muito divertida. A moda é uma forma poderosa de expressão e, para mim, foi a oportunidade de viver algo novo fora do vôlei.”

– Pretende seguir na carreira de modelo ou foi algo pontual?

Fabiana Claudino — “Eu me identifico com esse universo, porque acredito que a moda também é comunicação. Estou aberta a propostas — quem sabe a passarela não se torna um caminho? (risos).”

– Pretende continuar atuando na área esportiva? Já pensou em ser técnica, comentarista ou mentora?

Fabiana Claudino — “O esporte sempre fará parte da minha vida. Já tive experiências como comentarista, achei legal, mas meu foco está em criar iniciativas que formem e inspirem jovens atletas. Quero retribuir tudo o que vivi, criando caminhos para a nova geração.”

– Você participa de algum projeto social ou esportivo voltado para crianças ou jovens?

Fabiana Claudino — “Sim. Tenho visitado comunidades e escolas, porque acredito que o primeiro passo é ouvir e entender as necessidades. A partir disso, busco parcerias para transformar esses sonhos em projetos reais.”

– Qual é o maior legado que você acredita ter deixado (ou ainda quer deixar) no vôlei brasileiro?

Fabiana Claudino — “Mais do que títulos, quero deixar como legado a mensagem de que exemplos positivos precisam ser multiplicados. Construo isso em palestras, projetos sociais e rodas de conversa, mostrando que ninguém cresce sozinho. Minha história é prova de que apoio e oportunidade transformam vidas.”

– Está envolvida com algum negócio ou empreendimento próprio?

Fabiana Claudino — “Sim, estou estruturando projetos ligados ao esporte, principalmente ao vôlei, que é a minha grande referência. Muito em breve, tudo sairá do papel.”

– Quais são seus planos para os próximos anos? Algum sonho que ainda quer realizar fora das quadras?

Fabiana Claudino — “Tenho muitos sonhos e os organizo por prioridade. Quero continuar fomentando o vôlei, mas também ampliar minha atuação para além das quadras, dando mais voz às mulheres e inspirando pessoas em diferentes áreas.”

– O quanto suas origens em Santa Luzia influenciam suas escolhas e trajetória?

Fabiana Claudino — “Santa Luzia é a minha base. É onde estão minhas raízes, minha família e minha história. Tudo o que faço carrega um pouco desse lugar que me formou.”

Como enxerga o papel de inspiração que exerce para meninas e jovens negras que te veem como referência?

Fabiana Claudino — “É uma responsabilidade enorme e linda. Sei que os desafios existem, mas quero mostrar que, com estrutura, foco e apoio, é possível superá-los. Meu papel é abrir caminhos e criar conexões para que mais meninas negras sonhem alto e alcancem seus objetivos.”

Ping-pong com Fabi Claudino

  • Um jogo inesquecível? Pequim 2008. A primeira medalha de ouro a gente nunca esquece.
  • Um ídolo? Minha resposta ainda está em construção… admiro muitas referências em diferentes áreas.
  • Um conselho para atletas que estão começando? Treinem, treinem muito. A repetição é o que transforma talento em resultado.
  • Uma palavra que define sua trajetória? Superação.

A carreira de Fabi Claudino

Pela Seleção Brasileira

* Ouro olímpico em Pequim 2008 e Londres 2012;
* Sete títulos do Grand Prix (2004, 2005, 2006, 2008, 2009, 2013, 2014);
* Copa dos Campeões (2013);
* Seis campeonatos sul-americanos;
* Copa Pan-Americana (2006);
* Jogos Pan-Americanos do Rio (2007).

Por clubes

Nos clubes, ergueu a Superliga Brasileira em diversas temporadas, foi campeã da Copa Brasil, do Sul-Americano de Clubes e de torneios estaduais no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Individualmente, foi premiada como melhor central e melhor bloqueio em competições internacionais, sendo reconhecida como uma das maiores jogadoras de sua geração.

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