Uma “brecha” curiosa na nova regra tem protagonizado momentos inusitados no vôlei mundial e dado o que falar nos bastidores: a “paradinha” no saque, chamada também de “saque fake”.
Na atualização das regras proposta pela Federação Internacional de Voleibol (FIVB) em abril deste ano para o ciclo olímpico de Los Angeles 2028 – que ainda está em teste nas principais competições do esporte – uma das mais importantes mudanças foi a flexibilização no momento do saque.
Se antigamente os jogadores precisavam esperar a batida do saque para se movimentar livremente na quadra, agora eles podem fazer isso assim que o sacador jogar a bola para cima.
Antes do serviço, portanto, os atletas têm que manter sua posição na rotação. Caso um integrante da equipe esteja fora do seu posto, é marcada falta e o ponto é dado para o time adversário.
E qual ‘brecha’ os atletas acharam?
A partir dessas mudanças, alguns jogadores têm testado – e tendo sucesso – no “saque fake”. Eles se movimentam indicando que vão lanças a bola para cima e sacar, mas dão ligeira “paradinha” antes de realmente fazer isso, com a intenção de fazer com que adversários desatentos à regra se mexam antes do momento permitido e, assim, cometam falta.
Um dos lances de jogadas desse tipo que viralizou no mundo do vôlei aconteceu na Superliga Masculina de Vôlei, no dia 13 de novembro, em duelo da quinta rodada, entre São José e Monte Carmelo, na Farma Conde Arena, em São José dos Campos, interior de São Paulo.
O autor da “peripércia” foi o oposto Hisham Ewais, do time do Triângulo Mineiro, que era visitante na partida. O egípcio indicou que ia sacar, mas deu “pausa” rápida no movimento antes sacar de fato. A linha de passe do São José se mexeu e, com isso, a arbitragem marcou ponto para o Monte Carmelo. Assista ao lance abaixo.
Nas redes sociais, o artifício tem dividido opiniões entre os “voleifãs” e tem sido comparado por muitos à paradinha no futebol, popularizada por Neymar no Santos em 2010 – o atacante ia para a batida do pênalti, mas simulava o movimento no momento em que chutaria a bola para enganar o goleiro e depois finalizar com o gol livre. Entidade superior do futebol mundial, a Fifa agiu rápido e proibiu a ação, mudando a regra e considerando a prática como “antidesportiva”.
Mas, afinal, o que os atletas de vôlei pensam desse nova “tendência”? Nos últimos dias, o No Ataque conversou com nomes importantes do esporte no país para coletar a opinião deles sobre o “saque fake”.
O que campeões olímpicos e técnico de vôlei pensam
‘Não teria coragem’
Levantador do Campinas e campeão olímpico pela Seleção Brasileira nos Jogos do Rio 2016, Bruninho revelou ao No Ataque que ele e os companheiros da equipe paulista até brincaram sobre a possibilidade de fazer a “paradinha”. Contudo, ele admitiu que “não teria coragem” e considerou o movimento “malandragem”, embora seja “parte do jogo”.
“A gente até brincou de fazer, mas eu acho que eu não teria coragem, não sei. Isso é um pouco de cada um. É uma certa malandragem, mas isso faz parte do jogo. O importante é cada um é fazer aquilo que acredita naquele momento, se vale a pena ou não. Então, isso fica a critério da da pessoa que faz. Já viu em alguns lugares sendo feito. Eu procuro não julgar…acho que não conseguiria fazer, talvez eu possa mudar de ideia no futuro, não sei, mas acho que eu não faria.”
Bruninho, em entrevista exclusiva ao No Ataque
‘Malandragem’
Ícone do Minas e bicampeã olímpica pela Seleção Brasileira nos Jogos de Pequim 2008 e Londres 2012, a central Thaisa também mencionou a palavra “malandragem” ao falar com o No Ataque e ressaltou que os times precisam ficar atentos para não vacilarem e permitirem que o “saque fake” surta efeito.
“Cada um faz o que acha que faz sentido para si, se não é contra a regra. Então, se faz sentido fazer esse tipo de coisa, paciência, temos que estar atentas para não não sair da posição antes do momento. Eu normalmente espero bastante para sair da posição, então para mim não tem feito tanta diferença, mas eu já vi acontecer. Cada um joga do jeito que acha que deve jogar, na malandragem ou não, paciência. A gente que tem que tentar não cair nessa nessa nessa ‘malandragenzinha’ aí que estão fazendo, e paciência.”
Thaisa, em entrevista exclusiva do No Ataque
‘Acho feio’
Técnico do time masculino de vôlei do Minas, Guilherme Novaes foi mais “enfático”: acha feia a “paradinha”, que, para ele, precisa ser revista pela FIVB. Contudo, ele admitiu que, por enquanto, é válido fazê-la, devido à brecha na regra.
“Foi uma brecha que a nova regra possibilitou. Eu particularmente acho feio, não gosto, mas existe uma regra que possibilita. E quem fizer com maestria conseguir o ponto, é válido. Mas eu não gosto da paradinha, acho que a Federação Internacional deveria rever alguns pontos, enfim…tem que ser revisto.”
Guilherme Novaes, em entrevista exclusiva ao No Ataque