Uma prestadora de serviço do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) fez um comentário transfóbico com Tifanny, jogadora de vôlei do Osasco. Professora de educação física, personal trainer e fisioterapeuta que atua de forma pontual para o CPB, Bianca Terni foi preconceituosa ao comemorar a ausência da oposta de 41 anos no Mundial Feminino de Clubes de Vôlei.
Uma postagem no Instagram do No Ataque em 25 de novembro informou que a jogadora de vôlei Tifanny poderia ficar fora do Mundial devido às exigências de mais testes de gênero da Federação Internacional de Vôlei, responsável pela competição que será disputada no Ginásio do Pacaembu, em São Paulo, entre os dias 8 e 14 de dezembro.
Em um comentário, nesta tarde de terça-feira (2/12), Bianca Terni escreveu: “Sem homens no time FEMININO, foi muita luta e ainda lutamos muito para conquistar nosso espaço e respeito no esporte, não podemos deixar homens que se sentem mulheres nos jogar de escanteio como se o lugar fosse deles e nós Mulheres XX apenas coadjuvantes”.
Procurado pelo No Ataque, o Comitê Paralímpico Brasileiro se posicionou e explicou como funciona a relação profissional com Bianca Terni.
“A profissional mencionada não possui qualquer vínculo empregatício com o Comitê Paralímpico Brasileiro. Ela presta serviços de forma pontual e sem caráter permanente. O CPB não endossa nem se responsabiliza por manifestações feitas em perfis pessoais, que representam exclusivamente a opinião de terceiros”, afirmou
A história de Tifanny
Tifanny iniciou sua carreira no vôlei masculino, em que chegou a defender o Juiz de Fora e iniciou oficialmente o processo de transição de gênero no final de 2012, fora do Brasil. Ela se submeteu a dois procedimentos cirúrgicos e a tratamento hormonal para diminuição dos seus níveis de testosterona, o principal hormônio sexual masculino.
Em 2017, a Federação Internacional de Vôlei (FIVB) autorizou formalmente a oposta a jogar em campeonatos femininos regularizados pela entidade e, ainda naquele ano, tornou-se a primeira mulher trans a jogar a Superliga Feminina, á época pelo Bauru. Quatro anos depois, ela se transferiu para o Osasco, onde fez história em 2024/2025 com a conquista da Tríplice Coroa: Campeonato Paulista, Copa Brasil e Superliga.
Mesmo seguindo a regulamentação do Comitê Olímpico Internacional e fazendo exames regulares, que atestam que ela está bem abaixo do nível máximo permitido de testosterona por litro de sangue, Tifanny foi alvo de muito preconceito até no meio do vôlei, entre jogadoras e ex-jogadoras e até o técnico Bernardinho.
O treinador da Seleção Brasileira Masculina de Vôlei disse, em 2019, após ponto da oposta contra seu time, o Rio de Janeiro (atual Flamengo), a seguinte frase: “Um homem, é f***”. Depois da repercussão negativa após ser flagrado em câmera, ele se desculpou com a atacante. Em 2018, a oposta Tandara, que à época jogava no Osasco e na Seleção Brasileira, também se declarou contra a presença dela na Superliga, sob a justificativa vaga de que “a puberdade dela se desenvolveu no sexo masculino”.
Com o passar dos anos, embora tenha seguido sofrendo com preconceito, a jogadora passou a ser mais aceita na Superliga e chegou a ser cotada na Seleção Brasileira devido ao bom desempenho na Superliga. A convocação nunca aconteceu, mas ela atingiu feito mais importante: abriu portas para as mulheres trans no vôlei – e no esporte em geral – brasileiro.