JOGOS OLÍMPICOS

O desabafo de Ana Patrícia, ouro no vôlei de praia em Paris: ‘Pós de Tóquio foi muito traumático’

Campeã olímpica ao lado de Duda na França, Ana Patrícia relembrou momentos difíceis em Tóquio: 'Disseram que eu deveria desistir'
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Um filme passou pela cabeça de Ana Patrícia assim que ela e Duda derrotaram as canadenses Melissa Humana-Paredes e Brandie Wilkerson (2 sets a 1 – 26/24, 12/21 e 15/10) na final do vôlei de praia dos Jogos Olímpicos de Paris. Enquanto recebia os cumprimentos pela conquista da medalha de ouro, a jogadora nascida em Espinosa, no Norte de Minas Gerais, recordava-se da trajetória de medos e incertezas desde a eliminação nas quartas de final em Tóquio, no Japão, em 2021.

Na Olimpíada de três anos atrás, Ana Patrícia competiu ao lado de Rebecca, perdendo nas quartas de final para as suíças Anouk Vergé-Dépré e Joana Heidrich por 2 sets a 1 (19/21, 21/18 e 12/15). As críticas nas redes sociais foram tão maldosas que a atleta cogitou abandonar as quadras de areia. Isso só não correu graças ao apoio de familiares e amigos e à formação de uma nova parceria com Duda Lisboa.

“Fica passando muita coisa na cabeça da gente ali. O pós de Tóquio foi muito traumático pra mim, o hate, as ofensas, muita gente dizendo que eu tinha que desistir, que era vergonha, que eu tinha que me matar. E foi muito pesado pra mim isso, porque realmente cogitei parar. O que eu ia fazer da minha vida? E graças a Deus, graças a muita gente, graças à Duda também, isso não aconteceu”.

“Todas essas coisas passaram na minha cabeça, muita coisa da minha infância. E, cara, eu não sei, é muita coisa, é muita coisa. Literalmente passou um filme ali na minha cabeça e todo mundo falava ‘vocês ganharam’, e eu ficava ‘mas, como? Mas como?’. É muita coisa que a gente viveu pra estar aqui. Os últimos seis meses têm sido muito difíceis pra mim, né?”.

Ana Patrícia, campeã olímpica de vôlei de praia

Além do abalo psicológico causado pelos xingamentos, Ana Patrícia lidou com um problema físico que lhe impôs algumas limitações nos últimos meses. Sem tempo para dar uma pausa no calendário, a voleibolista de 1,94m contou com o suporte de vários profissionais para minimizar as dores lombares e poder competir em alto nível nos Jogos Olímpicos.

Duda e Ana Patrícia - (foto: Leandro Couri/EM D.A Press)
Duda e Ana Patrícia com a bandeira do Brasil após ouro em Paris(foto: Leandro Couri/EM D.A Press)

“Eu tô com uma hérnia na lombar que tem me feito sofrer bastante. Praticamente, nos últimos meses eu não consegui treinar. Nem me lembro, né, quando foi o último treino que eu consegui treinar mais de 30, 40 minutos, porque a dor não me deixava mais. E eu pensei. Eu achava muito, né cara, ‘como que eu vou jogar desse jeito, não vou conseguir’”, disse Ana.

“A Duda me abraçou muito nesse momento, todos os nossos profissionais também fizeram o possível para eu estar aqui, para eu estar em condição. Então, quando acabou ali, eu fiquei ‘caramba’. Com toda essa dificuldade, com toda essa dor que eu estou sentindo aqui, deu tudo certo. Então, assim, obrigado por não desistir”, concluiu a jogadora.

Brasil volta a ganhar ouro no vôlei de praia feminino

O ouro de Ana Patrícia e Duda em Paris pôs fim a um jejum de 28 anos do Brasil no vôlei de praia feminino. Até então, a única medalha dourada havia sido na edição de 1996, em Atlanta, nos Estados Unidos. Era o início da modalidade no evento, com as brasileiras Sandra Pires e Jaqueline Silva ganhando a decisão das compatriotas Adriana Samuel e Mônica Rodrigues.

O Brasil ganhou cinco medalhas nas edições posteriores do torneio feminino, mas sem subir no lugar mais alto do pódio: foi prata com Adriana Behar/Shelda (Sydney 2000 e Atenas 2004) e Ágatha/Bárbara (Rio 2016), além de bronze com Adriana Samuel/Sandra Pires (Sydney 2000) e Juliana/Larissa (Londres 2012).

Texto escrito com a colaboração de Rafael Arruda

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