VÔLEI DE PRAIA

Ana Patrícia: ‘Não tem medalha que me faria mais realizada do que estar feliz como pessoa’

Ao lado de Duda Lisboa, Ana Patrícia conquistou a medalha de ouro no vôlei de praia na Olimpíada de Paris 2024

Um objeto redondo chamado medalha é o grande objetivo de qualquer atleta. Na Olimpíada de Paris, a versão dourada tinha 529 gramas e foi conquistada por Ana Patrícia no vôlei de praia. O ápice da carreira foi atingido em 9 de agosto de 2024. Porém, a parceira de Duda Lisboa deixou claro: “Não tem medalha que me faria mais realizada do que estar feliz como pessoa”.

A reflexão de Ana Patrícia ocorreu em entrevista exclusiva ao No Ataque, em um momento que destacava a importância da saúde mental. Embora tenha apontado que o psicológico seja decisivo no esporte, a mineira de Espinosa, cidade localizada no Norte de Minas Gerais, deixou claro que o contato com um profissional da área não é crucial apenas para atletas, mas para toda a sociedade.

“Esse trabalho mental é fundamental. É um fator que decide muita coisa. E decide até campeonato, porque hoje o nível que a gente está, todo mundo sabe jogar vôlei e tem um físico muito bem equilibrado. Realmente o que decide as partidas são pequenos detalhes emocionais em alguns momentos da partida. Então é uma coisa que a gente tem que dar muita atenção e não só por isso, mas principalmente porque antes de ser atleta, nós todos somos seres humanos”, disse Ana Patrícia.

“Eu falo que não tem medalha nenhuma que me faria mais feliz do que estar feliz comigo como pessoa. Então assim, é uma parte muito importante que a gente precisa falar cada vez mais para desmistificar muito isso. Eu sempre tive esse preconceito porque eu achava que era coisa de maluco ir ao psicólogo. Até o momento em que eu entendi que realmente aquilo era uma ferramenta que, para além de qualquer coisa, ia transformar minha vida. Ia viver melhor como pessoa, melhor comigo mesmo, então, acho que hoje a gente tem que quebrar esses tabus e cada vez levar mais essa parte do trabalho psicológico que é importante para todo mundo. Não é só para nós que somos atletas, é importante para qualquer ser humano que queira ser melhor”

Ana Patrícia, medalhista de ouro em Paris 2024

A lesão de Ana Patrícia

A discussão em torno da saúde mental ganhou força nos últimos anos e foi tema de uma queixa de Ana Patrícia em novembro do ano passado. A atleta revelou que estava muito ansiosa pelas incertezas que estava vivendo em meio ao afastamento por lesão.

Com dores na lombar devido a uma hérnia desde o início da temporada, a jogadora até esteve próxima de competir pela primeira vez após o ouro em outubro do ano passado, em João Pessoa. Porém, teve que ficar fora do restante do ano para tratar o problema físico. Isso provocou diversas dúvidas na mente da atleta, que foi amparada pela psicóloga.

“Eu vivi esse momento de muita ansiedade, porque eu realmente estava muito em dúvida do que estava acontecendo comigo, de como que eu ia sair daquela situação, enfim, é aquele momento que você realmente enxerga mais nada na sua frente, só foca no que está acontecendo de ruim. Então comigo isso aconteceu, mas melhorei graças à ajuda de todo mundo aqui. Eu destaco o trabalho da Bianca que é nossa psicóloga, mas também o trabalho de todo mundo que estava envolvido ali, porque eles me passaram confiança”, destacou Ana Patrícia.

Além do mental, o físico da campeã olímpica está próximo do 100%. Mesmo ainda sem ritmo de jogo, Ana Patrícia destacou que está “bem” após o tratamento para corrigir o problema nas costas que atrapalhou a sequência da temporada de 2024 depois da vitória em Paris. Desta forma, a mineira está preparada para iniciar o ciclo rumo a Los Angeles 2028 junto de Duda.

“Hoje, felizmente, eu posso dizer que estou bem. Nós estamos em um momento que eu brinco que é praticamente um recomeçar, porque teve a minha lesão, e a gente passou seis ou sete meses aí sem jogar, sem praticamente ter contato com vôlei. Então é como aprender de novo. Recuperar a parte física, recuperar a parte técnica. O dia a dia tem sido um grande desafio. A gente fica com muita dúvida de como será o processo, mas, nessas últimas  semanas, graças a Deus, a gente viu que estamos bem no caminho novamente”

Ana Patrícia, campeã mundial de vôlei de praia em 2022

Parceria entre Duda e Ana Patrícia

O físico, o mental e a técnica dão sustentação à análise sobre o jogo de Duda e Ana Patrícia. Porém, existe algo que vai além: a relação pessoal. As atletas foram campeãs olímpicas da juventude em 2014, retomaram a parceria em 2021 e conquistaram o Mundial de Roma 2022 e a Olimpíada de Paris 2024. E elas reafirmaram ao No Ataque: a dupla se manterá, até porque não se veem atuando com outra jogadora.

“Mantém, tá doido? [risos]. Não, não fiquem ansiosos, está tudo ok com a gente. Nossa amizade está tudo ok, está tudo perfeito. A gente quer [terminar a carreira juntas], óbvio. Não sabemos do futuro, mas queremos, óbvio, continuar uma com a outra. Toda a nossa história, tudo que a gente conquistou juntas e eu não me vejo com outra pessoa jogando. Então, para mim, eu sou muito ciente dessa questão e eu fico muito feliz pela amizade que nós criamos, todo o respeito. Além de dentro da quadra, existe o fora, que a gente se ajuda muito, se respeita muito. Criamos um laço muito grande de parceria e confiança. Então, não fiquem ansiosos, está tudo ok [risos]”

Duda Lisboa, sergipana de São Cristóvão

“No momento nosso plano é só jogar e conquistar objetivos juntas. Aqui é igual o presidiário, aquele negócio: bota as duas com algema no pé e não separa não [risos]. Mas não tem isso realmente. Acho que é tão assim que a gente nunca nem falou sobre isso. É natural. Independente do que aconteça, pois Duda tem outros sonhos, eu tenho outros sonhos, mas até onde Deus quiser, e a gente tiver uma relação saudável, não tem nem porque a gente pensar em pensar em falar sobre isso”

Ana Patrícia, mineira de Espinosa

Duda e Ana Patrícia nas quadras

A dupla dourada do vôlei de praia conquistou uma das três medalhas do Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris. As outras duas conquistas na Olimpíada de 2024 foram de Bia Souza, no judô, e Rebeca Andrade, no solo na ginástica artística.

Dando início à nova temporada, Duda e Ana Patrícia já têm um torneio no horizonte em 2025. A próxima competição das campeãs olímpicas será o Elite 16 do Circuito Mundial de Vôlei de Praia em Cancún, em Quintana Roo, no México. O torneio na América do Norte será entre os dias 26 e 30 de março.

Além do título, a disputa em terras mexicanas servirá de preparação para o grande evento do vôlei de praia no ano. De 14 a 23 de novembro, o Campeonato Mundial de Vôlei será disputado em Adelaide, na Austrália, e Duda e Ana Patrícia buscarão o bicampeonato. As atletas de 26 e 27 anos, respectivamente, venceram em 2022 e foram vice em 2023.

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