JOGOS OLÍMPICOS

Experiência e juventude em jogo: mineiros Flávio e Adriano acreditam no tetra do vôlei em Paris 2024

Seleção Brasileira Masculina de Vôlei estreia na Olimpíada de Paris em 27 de julho (sábado), contra a Itália, às 8h, na Arena 1 Paris Sul
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Em momentos distintos da carreira, Flávio e Adriano têm questões em comum que passam pela origem e vão à experiência em Paris 2024. Nascidos em Minas Gerais, o central do Trentino, da Itália, e o ponteiro do Campinas participarão da Olimpíada pela primeira vez. Os dois integram a lista dos 12* convocados elaborada pelo técnico Bernardinho para defender a Seleção Brasileira Masculina de Vôlei no maior torneio esportivo do mundo, entre 27 de julho e 10 de agosto.

*O ponteiro Honorato, do Slepsk Malow Suwalki, da Polônia, é o jogador coringa, o 13º. Ou seja, ele está liberado para assistir aos jogos e participar dos treinos, mas só poderá atuar caso algum companheiro seja cortado por lesão. De forma inédita em Olimpíada, a Federação Internacional de Vôlei (FIVB) autorizou que as seleções inscrevam esse suplente.

Experiente Flávio Gualberto

Natural de Pimenta, cidade com pouco mais de oito mil habitantes localizada ao oeste de Minas Gerais, o experiente central Flávio viverá a magia da Olimpíada pela primeira vez aos 31 anos. Mas, guiado pelo foco e pela disciplina, a idade nunca foi uma questão. Na verdade, deu a ele a maturidade necessária para chegar à competição da melhor forma e realizar o maior objetivo profissional.

Em entrevista exclusiva ao No Ataque, Bruna Gomide, modelo, biomédica e esposa do central, contou detalhes dos bastidores. 

“Determinado em tudo que faz, Flávio sempre se cuidou muito fisicamente para realizar o sonho de jogar a Olimpíada. Nos últimos anos, atuando na Itália, ele amadureceu profissionalmente. Acredito que isso tenha colaborado para a convocação”, salientou Bruna. 

Início da trajetória

Flávio iniciou a carreira na base do Minas. Disputou inúmeros campeonatos na categoria tanto pelo clube quanto pela Seleção. Na temporada 2012/13, vestiu a camisa do Olympico e jogou a Superliga B. Retornou ao Minas em 2013 e permaneceu até 2019. Em 2015, ele integrou a equipe ‘B’ da Seleção Brasileira para os Jogos Pan-Americanos (prata) e para a Copa Pan-Americana (ouro).

No período como atleta minas-tenista, subiu ao pódio com o elenco principal várias vezes: medalhista de prata no Campeonato Mineiro (entre as temporadas 2013/14 e 2018/19) e na Copa Brasil (2018/19), além de bronze no Sul-Americano (2013/14) e novamente na Copa Brasil (2014/15). Depois de atuação de destaque na Superliga, ganhou a primeira oportunidade na Seleção Brasileira principal, sob o comando do técnico Renan Dal Zotto, e venceu a Copa do Mundo (2019).

Na temporada 2019/20, Flávio assinou contrato com o Sesc. Lá, conquistou o Campeonato Carioca. Antes do início da pandemia de Covid-19, o clube anunciou que não seguiria com o projeto masculino. Àquela altura, o central já era um dos principais nomes da equipe nacional e ficaria sem clube. Foi quando ele recebeu proposta do Zawiercie, da Polônia, para viver a primeira experiência internacional em 2020/21. 

Casamento ‘às pressas’ e experiência internacional

Com o intuito de se mudar para a Europa na companhia da namorada, Flávio organizou a cerimônia de casamento “às pressas” – ele apenas adiantou os planos do casal. Em 12 de junho de 2020, após pouco mais de dois anos de relacionamento, ele e Bruna se casaram em cerimônia reduzida devido à pandemia. 

Na sequência, deixaram o país rumo à Polônia. Nos dois anos posteriores, Flávio defendeu o Valentia e o Perugia, ambos da Itália. Desde então, venceu a Supercopa da Itália (2022/23 e 2023/24), a Copa Italiana (2023/24), a Liga Italiana (2023/24) e o Mundial de Clubes (2022/23 e 2023/24). Para a temporada 2024/25, o central permanecerá no país europeu, mas, dessa vez, no Trentino.

O roteiro na Seleção Brasileira

Com pouco tempo de casa, Flávio se consolidou nas convocações recentes da Seleção Brasileira. Em 2021, por exemplo, integrou o elenco que conquistou a Liga das Nações. A troca no comando técnico da Seleção não o afetou, já que Bernardinho, de volta à equipe nacional após oito anos, o manteve nas listas. 

O central do Trentino iniciou os dois amistosos anteriores à Olimpíada, ambos contra a Alemanha, como titular, o que indica a colaboração efetiva para com a equipe nacional e a probabilidade de ser utilizado com frequência nos Jogos Olímpicos.

O momento é ainda mais especial

Em entrevista exclusiva ao No Ataque, Flávio disse estar próximo de realizar sonho: “Participar dos Jogos Olímpicos é o máximo da carreira esportiva. Sensação de gratidão também, de realização de que todo o trabalho que vem sendo feito há muito tempo está sendo concretizado”.

Mas situação externa ao vôlei torna a ocasião ainda mais especial: a esposa Bruna está grávida do primeiro filho, Theo. A mais de 1.000 quilômetros de distância da mulher, o central vive misto de sentimentos: a ansiedade pela Olimpíada e a dor da saudade na reta final da gestação. “Difícil estar longe da família, não ter ninguém próximo. Meu grupo aqui acaba se tornando uma família. Ela teve um ultrassom e eu não pude participar ao vivo. Eu consegui ver um pouquinho e fiquei muito feliz de poder ver meu filho por imagem”, desabafou Flávio.

Bruna completou 32 semanas de gravidez e brincou com a possibilidade de o filho nascer durante os Jogos: “Espero que não. Ainda faltam algumas semanas para o Theo nascer. E eu converso com ele todos os dias para esperar o papai voltar”.

Distante fisicamente, o casal se mantém conectado como pode. “Ficar longe é sempre a parte mais difícil. Agora está ainda mais. Fazemos de tudo: ligações, mensagens, vídeos. Flávio gosta e participa, mesmo que por vídeo chamada, de todos os detalhes sobre o filho. Mas agora o foco total é na Olimpíada. E ele mesmo sempre fala ‘é tudo por vocês’. Estamos muito orgulhosos”, contou a esposa.

Antes das partidas, Bruna faz questão de desejar sorte ao central da Seleção Brasileira. Agora, o neném também participa e deixa as mensagens ao papai. “A experiência de viver uma Olimpíada enquanto esperava a chegada do Theo vai ser a história mais incrível que o Flávio vai contar ao filho”, finalizou Bruna, que enxerga no marido a personificação de esforço, dedicação e inteligência.

Na mesma linha, o central tem um desejo: “Voltar com uma medalha para homenagear ele (Theo)”.

A experiência conta

Forte no bloqueio e no ataque, Flávio acredita que a experiência também pode contribuir para com o elenco: “Posso ajudar não só com pontos durante a partida, mas ajudando também os mais jovens dando algumas dicas. O conhecimento e a vivência são pontos que contam muito nesses momentos de decisão em uma competição tão difícil”.

Para chegar longe e buscar a tão sonhada medalha, o central disse que é preciso fazer diferente da VNL. No torneio anterior à Olimpíada, a Seleção Brasileira foi eliminada ainda nas quartas de final após derrota para a Polônia. “A gente precisa ter um algo a mais em todos os aspectos, fazer um pouquinho a mais, porque Jogos Olímpicos são muitos especiais, têm um peso maior. É viver esse momento, viver cada ponto 100%. Jogar sempre como se fosse o último ponto”, avaliou.

Quem é Flávio?

  • Nome: Flávio César Resende Gualberto
  • Modalidade: vôlei
  • Data de nascimento: 22/4/1993 (31 anos)
  • Local de nascimento: Pimenta, Minas Gerais
  • Olimpíadas anteriores: será a primeira experiência
  • Principais conquistas: Supercopa da Itália (2022/23 e 2023/24), a Copa Italiana (2023/24), a Liga Italiana (2023/24) e o Mundial de Clubes (2022/23 e 2023/24), Copa do Mundo (2019), Liga das Nações (2021), entre outros

Adriano, a cara da nova geração

Nascido em Ituiutaba, município localizado no centro-norte do Triângulo Mineiro, o ponteiro promissor de apenas 22 anos assinou o primeiro contrato profissional aos 17. Com pouco tempo de carreira, Adriano já viverá o sonho de participar dos Jogos Olímpicos.

O jovem atleta começou a se dedicar ao vôlei longe da cidade natal, em Juatuba, a mais de 600 quilômetros. Quando adolescente, atuava pelo time da prefeitura da cidade. Em 2019, assinou o primeiro contrato profissional com o Canoas para disputar a Superliga B, mas a pandemia de Covid-19 fez com que a competição fosse cancelada. Ele não ficou desamparado. Na temporada posterior, se transferiu ao Itapetininga. 

Ascensão brilhante no Campinas

Destaque individual, terminou com o bronze no Campeonato Paulista e encerrou a Superliga em quarto lugar. Pela temporada positiva, chamou atenção do Campinas, que o contratou. Desde 2021, portanto, Adriano atua pelo time paulista.

Com exceção do terceiro lugar no estadual, todas as conquistas profissionais do ponteiro foram pelo Campinas: campeão do Campeonato Paulista (2021/22 e 2022/23), vice-campeão da Copa Brasil (2021/22) e da Superliga (2023/24) e bronze no Sul-Americano (2021/22). No ano passado, o jovem atleta foi um dos principais nomes da equipe durante a campanha surpreendente na liga nacional – o Campinas se classificou ao mata-mata em oitavo, eliminou o favorito Cruzeiro e chegou à final, vencida pelo Sesi.

O futuro da Seleção Brasileira

Em 2021, com o status de revelação da Superliga, Adriano ganhou a primeira oportunidade na Seleção Brasileira. À época, o treinador Renan Dal Zotto o convidou para treinar com a equipe. Poucos meses depois, o ponteiro se juntou ao elenco profissional para disputar o primeiro campeonato com a camisa verde e amarela, o Sul-Americano. No ano posterior, Adriano se firmou. Ele é campeão sul-americano (2021), pan-americano (2023), vice-campeão do Sul-Americano de 2023 e bronze no Mundial de 2022.

Mesmo com a troca no comando, o jovem ponteiro não deixou a lista de convocados. Bernardinho também aposta no mineiro de Juatuba e lhe deu a primeira oportunidade de disputar a Olimpíada. 

Em entrevista exclusiva ao No Ataque, Adriano contou que nem nos melhores sonhos imaginava disputar a Olimpíada tão novo: “Para ser sincero, não esperava já estar nos Jogos Olímpicos tão cedo. Mas acho que tudo isso é fruto do meu trabalho, saber aproveitar as oportunidades e continuar trabalhando a cada dia, buscando mais e mais”.

Na visão do ponteiro, a convocação é resultado de persistência aliada ao apoio de quem esteve e está por perto: “Além do meu trabalho, acho que minha família ajudou muito. Todas as pessoas que tenho ao meu redor sempre me apoiaram, sempre me incentivaram. Isso fez uma diferença muito grande. Sempre tive pessoas me aconselhando, companheiros de time. É gratificante saber que tenho pessoas muito boas ao meu lado”.

Pressão pela idade? Mesmo se existir, é preciso enfrentar. Permitir sentir é essencial e ignorar as críticas pode ser um caminho. “Acho que ansiedade, nervosismo, é uma coisa particular de cada um, mas tem que ter. Se perde o frio na barriga, perde a paixão pelo que faz. Hoje em dia, falar de pressão é muito complicado. Querendo ou não, a gente sabe que tem pessoas na internet falando mal, independentemente do que a gente esteja fazendo, mas tem que saber lidar com isso, colocar a cara a tapa e ir assim mesmo”, finalizou Adriano.

Quem é Adriano?

  • Nome: Adriano Fernandes Procópio Xavier Cavalcante
  • Modalidade: vôlei
  • Data de nascimento: 6/2/2002 (22 anos)
  • Local de nascimento: Ituiutaba, Minas Gerais
  • Olimpíadas anteriores: será a primeira experiência
  • Principais conquistas: Campeonato Paulista (2021/22 e 2022/23), vice-campeão da Superliga (2023/24), Sul-Americano de seleções (2021), entre outros

Participações de Flávio e Adriano na Olimpíada de Paris

  • 27/7 – 8h – Itália x Brasil
  • 31/7 – 4h – Polônia x Brasil
  • 2/8 – 16h – Brasil x Egito
  • 5/8 – quartas de final
  • 7/8 – semifinais
  • 9/8 – disputa pelo bronze
  • 10/8 – final
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