VÔLEI

Ovacionada, Sassá chora com documentário e revela função que exercerá no Mackenzie: ‘Noite memorável’

Documentário sobre trajetória de Sassá no Mackenzie foi lançado nessa quinta (28/3), em Belo Horizonte; campeã olímpica deu entrevista exclusiva ao No Ataque

Perseverança. A palavra que melhor define a carreira da campeã olímpica Welissa de Souza Gonzaga, a Sassá, foi a escolhida para dar nome ao documentário sobre a trajetória dela pelo Mackenzie, lançado na noite dessa quinta-feira (27/3) no auditório do Instituto Padre Machado, no Bairro Santo Antônio, localizado na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.

O No Ataque esteve presente na primeira exibição do curta-metragem e viu a agora ex-atleta ser ovacionada pelos presentes – que iam desde o técnico do Minas, o italiano Nicola Negro, que a treinou na Polônia, até dirigentes, integrantes da comissão técnica e atletas profissionais e de base do Mackenzie – e chorar de emoção com a homenagem.

“Foi incrível, uma noite memorável, só tenho a agradecer imensamente o Mackenzie pelo carinho, pela iniciativa de contar um pouquinho da minha história, principalmente agora encerrando a carreira. Quero dar os parabéns para a equipe que produziu o documentário, ficou incrível. A participação dos meus pais, o momento especial que vivemos na Superliga B ano passado… foi realmente memorável.

Sassá, em entrevista exclusiva ao No Ataque

Sassá se despediu das quadras como jogadora na noite da última sexta-feira (21/3), aos 42 anos, ao fim de partida contra o Flamengo, no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, pela 22ª e última rodada da primeira fase da Superliga Feminina. Natural de Barbacena, no Sul de Minas Gerais, a tetracampeã nacional aproveitou o evento para anunciar, junto aos dirigentes do Mackenzie, que agora é a Supervisora de Vôlei do clube.

No início do mês, após a líbero/ponteira anunciar que se aposentaria ao fim da temporada, o time belo-horizontino já havia revelado convite para que ela passasse a integrar a comissão técnica. Nesta sexta, portanto, foram oficializados o aceite de Sassá e a nova função dela. O cargo, embora conste como parte da comissão técnica, está mais ligado à área de gestão e ao “extraquadra”, como explicou a própria à reportagem.

“Estar ao lado dos meus pais, familiares e amigos neste momento é extremamente importante, porque a gente acaba deixando ‘um filho’, passamos 30 anos na quadra, então abandonar, encerrar um ciclo é muito duro. Mas estou com a cabeça tranquila, com foco em outros projetos, em ajudar o Mackenzie na área de supervisão, e muito feliz por tudo que consegui construir ao longo da minha carreira, por ter representado a Seleção Brasileira, foi uma honra muito grande. Só tenho a agradecer por todo esse carinho e esse amor recebido na noite de hoje”, disse Sassá.

O documentário

Dirigido por Vitor Colares, o documentário foi filmado ao longo da histórica campanha do Mackenzie na Superliga B 2023/2024, que culminou no título da competição – o segundo troféu nacional da história do clube.

O curta-metragem conta com entrevistas do técnico da equipe, Gabriel Leite, de diversos dirigentes, da própria Sassá e dos pais dela , que também estiveram presentes no Instituto Padre Machado nesta quinta.

Ao longo do filme, foram revelados bastidores da contratação da campeã olímpica em 2023. Naquele ano, ela chegou a anunciar aposentadoria, mas voltou atrás para jogar por três meses em liga dos Estados Unidos – nesse período, recebeu a proposta do Mackenzie.

Dirigentes do clube revelaram que chegou a haver certa desconfiança interna devido à idade avançada dela e à suposta dificuldade da contratação, por se tratar de uma atleta renomada, campeã olímpica. Além disso, a ideia era que ela voltasse a trocar de posição para vir a Belo Horizonte – em 2015, atendendo a pedido do técnico da Seleção, Zé Roberto, Sassá decidiu mudar de ponteira para líbero, visando mais longevidade na carreira e adequando-se às mudanças do esporte (com 1,79m, ela era considerada uma atacante baixa), mas Gabriel Leite a queria como ponteira na Superliga B.

A negociação, no entanto, foi muito mais fécil do que todos esperavam. Assim que recebeu a primeira ligação de Gabriel, a atleta demonstrou gostar da ideia. Ela tinha interesse em encerrar a carreira em Belo Horizonte, morando e jogando perto dos pais, que vivem em Barbacena, e já tinha boas referências do Mackenzie, conhecido por revelar grandes talentos como Sheilla, Gabi Guimarães e Carolana.

Conforme o documentário mostra, Sassá aceitou a proposta de imediato e só pediu uma coisa ao Mackenzie: sigilo absoluto até que se encerrasse seu contrato na liga estadunidense. O desfecho do curta mostra cenas emocionantes do título da Superliga B, no qual a campeã olímpica foi protagonista.

A nova função de Sassá

Sassá explicou ao No Ataque que terá função de dirigente no Mackenzie: “A princípio seria mais uma função extraquadra, primeiro porque acredito que tem que haver uma preparação para estar na beira da quadra (como técnica, auxiliar técnica…), existem cursos que são exigidos pela CBV, então não é uma transição a curto prazo, se você quiser trabalhar mais na parte prática”.

“Me identifiquei muito na área da gestão nessas últimas semanas, em que tive a oportunidade de acompanhar o trabalho do Mateus, do Hugo, que é o nosso supervisor, foi uma parte que mexeu muito comigo e que eu gostaria de seguir. Óbvio que vai ter uma preparação, alguns estudos, mas quero ajudar da melhor forma possível o Mackenzie nessa área. Fico extremamente agradecida por esta oportunidade”, prossegiu.

Sassá revelou à reportagem que, antes da aposentadoria, já conversava com o Mackenzie sobre o desejo mútuo que ela continuasse no clube após encerrar a carreira.

“O Mackenzie sempre deixou muito claro a vontade da minha continuidade no clube. Não sabíamos ainda como seria essa função e essa continuidade, mas sempre teve uma conexão muito forte entre mim e o Mackenzie e esse desejo de continuar no clube. Mas ainda não tinha nada certo, um convite formal. Analisando um pouco nessas últimas semanas, a parte de gestão foi a que mais me tocou.

Sassá, ao No Ataque

A barbacenense, no entanto, admitiu a vontade de estudar para se tornar técnica no futuro e citou como exemplo a ex-levantadora Fofão, campeã olímpica com a ponteira/líbero.

“Tenho vontade de ter uma experiência, por isso quero me preparar bastante. Tive contato com a Fofão e vi o quanto ela estudou nos últimos anos, no pós-carreira dela. Ela estudou bastante, conseguiu chegar a uma Seleção Brasileira de base. Temos que ter dedicaçãoo e nos prepararmos para realizarmos um bom trabalho, porque a categoria de base é extremamente importante, formar o atleta para que ele chegue no profissional é muito importante, são muitos detalhes, fundamentos, então você tem que ter uma metodologia bem apurada. Acredito que para isso não só a prática, como a teoria também seja muito importante.”

A carreira de Sassá

Welissa deu seus primeiros passos no vôlei pelo Olympic, de Barbacena, como ponteira. De lá, foi para o Vasco, onde estreou na Superliga 2000/2001, se destacou e atraiu a atenção do Rio de Janeiro – hoje Flamengo.

No Rio, Sassá ficou por sete temporadas e participou de icônico time que conquistou as Superligas de 2005/2006, 2006/2007 e 2007/2008. Na sequência, foi para o Osasco, onde venceu a Superliga de 2009/2010 ao encerrar sequência de quatro troféus consecutivos do ex-time.

Pela Seleção Brasileira, a barbacenense foi multicampeã: além do ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim, na China, em 2008, ela também conquistou cinco medalhas de ouro em Grand Prix (2004, 2005, 2006, 2008 e 2009), uma na Copa dos Campeões (2005), uma nos Jogos Mundiais Militares (2019), uma na Salonpas Cup (2008) e duas em Campeonatos Sul-Americanos (2009 e 2010)

Exaltada pelo bom passe, boa recepção e bom “fundo de quadra”, Sassá não tinha o ataque como principal fundamento, já que era considerada uma ponteira baixa, com 1,79m. Com as mudanças do vôlei e as atletas cada vez mais altas, Zé Roberto Guimarães pediu que ela se tornasse líbero em 2015 – o pedido foi acatado pela mineira imediatamente, visando longevidade.

“Minha troca de posição foi com o objetivo de prolongar ao máximo a carreira. A partir do momento em que vamos ficando mais velhas, o corpo não corresponde mais como queremos, a mente até procura trabalhar mais mas o corpo não acompanha, então a mudança para líbero foi muito em função disso. Alguns fundamentos do ataque não conseguimos exercer com tanta facilidade como quando tínhamos 20, 25 anos. E na função de líbero a gente não salta, o que já ajuda muito na questão de impacto de joelho, ombro, então dá para prolongar um pouco mais a vida útil”, disse, ao No Ataque.

Sassá, então, seguiu a carreira como líbero. No Mackenzie, ela jogou como ponteira em 2023/2024 mas, na elite da Superliga, voltou a atuar como líbero. A última temporada dela como profissional, no entanto, foi marcada por muitas lesões. Apesar de pouco tempo em quadra, ela liderou o time belo-horizontino rumo à permanência na Primeira Divisão, principal meta em 2024/2025 – até a última rodada, a equipe ainda conseguiu sonhar com icônica classificação para os playoffs.

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