Nicola Negro tem uma carreira cosmopolita no vôlei. Antes de chegar ao Brasil para treinar o Minas, em 2019, o técnico trabalhou na Itália, seu país natal, Polônia, Romênia, Eslováquia, Azerbaidjão e Turquia. Assim, conhece diversos contextos diferentes em que o esporte é praticado.
Em entrevista exclusiva ao No Ataque, Nicola deu sua opinião sobre o que deixa a Superliga Feminina abaixo das ligas das principais potências da Europa, como Itália, Turquia e Polônia. – ele, inclusive, trabalhou nos três países.
“A respeito da liga italiana, da polonesa, da turca, o primeiro de tudo é que há uma diferença enorme de orçamento, de disponibilidade financeira. E existe um problema enorme para trazer jogadoras (estrangeiras) importantes para o Brasil. A nível mundial, o vôlei brasileiro sempre é visto com grande respeito. Mas, geograficamente, está ali (longe dos ‘grandes centros’). Enquanto isso, nos campeonatos europeus, há a Champions League, eles jogam entre eles. As jogadoras às vezes preferem ganhar um pouco menos mas ficar no vôlei europeu do que ter uma experiência no vôlei brasileiro”, iniciou.
Para além das questões financeira e geográfica, destacadas por Nicola como as principais, o técnico do Minas destacou outro ponto, referente à mentalidade dos clubes da Superliga.
“Falta coragem. Falta coragem na escolha das jogadoras, coragem no estilo de jogo, isso que vejo de diferente em relação ao vôlei europeu e ao vôlei americano”
Nicola Negro, em entrevista exclusiva ao No Ataque
Dificuldade em contratar jogadoras estrangeiras
Nicola revelou que o Minas muitas vezes teve dificuldades para fazer contratações de jogadoras estrangeiras devido ao mercado “mais complicado para os clubes brasileiros” e que à vezes, antes de chegar uma atleta, “outras 20” eram buscadas antes, mas negavam.
“Sendo sincero, raramente chegamos ao objetivo inicial nas contratações, mas não por por falta de vontade ou falta de posição da diretoria, é porque o mercado é muito complicado. Quando vejo criticarem alguma jogadora estrangeira que chega, gente, às vezes nós buscamos 20 jogadoras antes disso, mas ouvimos ‘Não’, ‘Não, obrigado’, ‘Pode ser na próxima temporada’. É um mercado muito complicado, e vai ser sempre mais complicado para os clubes brasileiros”
Nicola Negro, ao No Ataque
“Assim, só tenho respeito pela diretoria de Minas, pelo que fez e pelo que me colocou à disposição, porque eu sei o esforço, mas não é que não chega uma jogadora por falta de vontade. Foi sempre um trabalho muito em sincronia e, no momento que faltou isso, tomei a minha decisão de sair, mas tudo com muito respeito”, finalizou.
Nicola voltará ao vôlei europeu
O treinador italiano admitiu o retorno ao Campeonato Italiano e deixou “pistas” que apontam o destino. Nicola disse que foi procurado por uma equipe que perdeu para o técnico para o Eczacibasi, da Turquia. Esse é o caso do Chieri, clube italiano que deve anunciar a saída de Giulio Cesar Bregoli nas próximas semanas.
“Aconteceu que um bom clube italiano perdeu o treinador, que assinou com Eczacibasi, da Turquia. Por coincidência, eu estava há 20 dias no mercado, e o clube, sabendo que estava livre, me buscou. Mas foi tudo depois da minha saída do Minas. Vou voltar para a Itália depois de seis anos muito importantes para mim no Brasil”
Nicola Negro, em entrevista exclusiva ao No Ataque
A passagem de Nicola Negro pelo Minas
Nicola Negro assumiu como técnico do Minas em maio de 2019. Ele foi anunciado para substituir o compatriota Stefano Lavari, que deixou o time da Rua da Bahia logo após a conquista da Superliga de 2018/2019.
Em quase seis anos, Nicola construiu trajetória de enorme sucesso, com 25 finais alcançadas e 13 títulos conquistados – é o maior campeão da história do clube.