VÔLEI

Léia vive o luto e o sonho de ganhar a Superliga aos 40: ‘Meu pai está me acompanhando’

Multicampeã pelo Minas e destaque do Bauru, a líbero Léia disputará a final da Superliga Feminina de Vôlei nesta quinta-feira (1/5) contra o Osasco

Uma atleta de alto nível é construída por diversas histórias. E Léia, talvez, esteja vivendo uma das mais experiências mais antagônicas da carreira. A líbero disputará a final da Superliga Feminina de Vôlei aos 40 anos sendo uma das destaques do Bauru, ao mesmo tempo que lida com a morte do pai, que ocorreu no início de abril.

Quinta passadora mais eficiente da competição (63,72%), Léia venceu o torneio três vezes pelo Minas, equipe em que é idolatrada. No Bauru, ela é pilar do time que sonha com seu primeiro título do campeonato na história. Nesta quinta-feira (1º/5), às 15h45, a equipe fará clássico com o Osasco pela final da Superliga, no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.

Assim como Dani Lins, levantadora campeã olímpica em Londres 2012, as atletas têm 40 anos e lideram o Bauru em busca da conquista. Porém, a idade não é levada em consideração por Léia, como ela afirmou em entrevista exclusiva ao No Ataque após treino na véspera da decisão da Superliga.

“Eu tenho 40 anos, mas, na verdade, eu não me sinto com 40. E o esporte é isso, enquanto a gente está sentindo o frio na barriga, a gente entra e dá o melhor. Eu estou tendo essa oportunidade de jogar até agora, mas eu não fico pensando muito na idade não. É uma honra, é um privilégio poder chegar nessa idade e estar disputando um torneio dessa dimensão que é a Superliga”

Léia, líbero do Bauru

E essa confiança na veterana é vista nas colegas de time. Companheira da líbero no Pinheiros, há uma década, na Seleção Brasileira e agora no Bauru, Lorenne não poupou elogios à atleta e usou o termo “guerreira” para definir as últimas semanas de Léia.

“Léia é uma pessoa muito tranquila, muito calma. Isso ajuda muito na quadra. Tem pressão de torcida, patrocinador, técnico, todo mundo falando o tempo inteiro, e ter alguém que traz essa calma, para voltar para o nosso eixo assim, traz tranquilidade. É muito bom para a gente. Eu admiro muito ela, torço muito por ela. Ela foi uma guerreira muito forte porque, infelizmente, o pai dela morreu, e ela jogou, continuando lá com a gente. A admiração só cresce, cada dia mais”

Lorenne, oposta do Bauru

O luto recente

Só que a longa e vitoriosa carreira de Léia ganhou um capítulo triste em meio à caminhada rumo à decisão da Superliga 2024/25. No segundo jogo das quartas de final, diante do Fluminense, no Rio de Janeiro, em 3 de abril, Léia sofreu com duro baque da morte do pai, Jaime. Para ir ao enterro, ela precisou de ajuda de dirigentes do clube paulista para conseguir chegar a tempo.

Uma semana depois, a líbero voltou à ação e, em meio ao luto, teve grande atuação no terceiro jogo contra o Flu, no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, e foi eleita a melhor em quadra. A classificação à semifinal somada ao drama pessoal resultou em uma entrevista emocionante após a partida.

E menos de um mês depois a morte do pai, a líbero jogará uma das partidas mais importantes da carreira. Porém, devido à insanidade da reta final de temporada, Léia revelou ao No Ataque que ainda não assimilou totalmente a morte do pai. E seguirá desta maneira na decisão.

“Eu estava até falando com a minha mãe que está acontecendo tudo tão rápido. Às vezes vem uma sensação de que o meu pai só está viajando, que não aconteceu. A gente ainda não teve esse tempo para viver um luto e espero não viver um luto. Espero ficar com esse sentimento de que ele está viajando. Toda vez que eu jogo, eu sempre fico com a sensação de que ele está no sofá de casa acompanhando. Então, vai ser dessa maneira”, disse Léia.

Mesmo com a dor de perder o pai, a líbero do Bauru deixa claro que a busca pelo título segue com a mesma vontade, já que sempre jogou não só para os familiares, mas também para a equipe e os torcedores da equipe paulista.

“Eu venho para o treino, eu vou para o jogo com a sensação de que o meu pai está em casa. Para mim é uma viagem. A minha busca pelo título é diária, não é só pela ida do meu pai. É diária. Tudo que eu treino todo dia é pela equipe, por todo mundo que torce. Meu pai sempre foi meu herói, meu amor, sempre será. Então assim, é difícil falar que é por causa dele. Eu trabalho, treino todo dia, como se ele estivesse lá no sofá de casa mesmo”

Léia, líbero do Bauru

Léia fez história no Minas

Léia é considerada uma das maiores líberos da história do Minas. Ela atuou em Belo Horizonte por sete anos, entre 2015 e 2022 e, nesse período, firmou-se como uma das melhores jogadoras da posição no Brasil, acumulando convocações para a Seleção Brasileira de Vôlei – inclusive para a os Jogos Olímpicos do Rio 2016′.

Com a camisa minas-tenista, Léia conquistou 11 títulos: duas Superligas (2018/2019 e 2021/2022), quatro Sul-Americanos (2018, 2019, 2020 e 2022), uma Copa Brasil (2019) e quatro Mineiros (2017, 2018, 2020 e 2022)

Em 2022, aos 37 anos, a libero decidiu deixar o Minas rumo a um “novo desafio” e acertou com o Bauru, time pelo qual conquistou a Supercopa do Brasil e o Campeonato Paulista de 2022.

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