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Praia Clube tem NBA como inspiração em projeto milionário de arena; veja detalhes

Em entrevista exclusiva ao No Ataque, presidente do Praia e arquiteto que desenhou nova arena destrincham projeto, prazos e valores

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Minas Gerais vai ganhar, em breve, um novo ginásio poliesportivo de alta modernidade: a Arena Praia Clube. Com a ambição de transformar a experiência dos torcedores que forem acompanhar os jogos de vôlei, futsal, handebol e basquete em um “espetáculo”, o clube uberlandense se inspirou na NBA e pretende investir pesado para a construção de um palco esportivo multiuso, apto a receber shows e outros tipos de grandes eventos.

Em entrevista exclusiva ao No Ataque, o presidente do Praia, Paulo Henrique Nascimento, e o arquiteto e engenheiro civil Luiz Volpato, autor do projeto, destrincharam os detalhes da nova arena, revelaram quanto dinheiro o clube deve gastar na construção e estimaram prazos para o início e o fim das obras.

A moderna praça esportiva será construída no mesmo local do antigo complexo de ginásios do clube, localizado no Bairro de Copacabana, Zona Sul de Uberlândia. A estrutura precisou ser quase inteiramente demolida depois da tempestade que assolou a cidade em 28 de setembro de 2020. O teto do complexo colapsou com as chuvas e fortes ventanias, e a estrutura ficou muito danificada.

“A partir daí, começou-se a pensar o que poderia ser feito. Após vários laudos, constatamos que nesse complexo de quadras e no ginásio não daria para fazer reforma, teríamos que desmontar todinho, virou praticamente tudo sucata”, iniciou Paulo.

“Logo após a demolição, começamos a procurar um arquiteto que pudesse fazer um novo projeto para aquela área. Surgiram vários nomes, entre eles o do Luiz, que foi indicado. Ele trouxe o primeiro estudo, a gente olhou, gostou e começamos a trabalhar em detalhes. Nessa idas e vindas, já estamos há sete meses trabalhando no novo ginásio”, explicou.

Luiz Volpato, cujo escritório fica em Curitiba (PR), já é conceituado no ramo da arquitetura de praças esportivas. Ele projetou, por exemplo, a reforma da Arena da Baixada, do Athletico-PR, para a Copa do Mundo de 2024, e a Nova Vila Belmiro, arena multiuso que deve ser construída pelo Santos.

“Não é a primeira praça esportiva que faço, mas a forma como foi desenvolvida nos dá segurança para saber que o resultado vai ser muito legal, muito próximo do que foi pensado e atendido”, conta Luiz.

“Foi um trabalho muito rico que fizemos ao longo de quatro meses, quando foi finalizado o projeto arquitetônico. Agora já estamos na fase do desenvolvimento de projetos de engenharia.”

O que foi aproveitado da antiga arena?

Ao No Ataque, Paulo e Luiz explicaram que, embora quase tudo do antigo complexo tenha “virado sucata”, algumas estruturas remanescentes foram aproveitadas para o novo projeto: uma parte da arquibancada e dois vestiários, que serão reformados.

“Não existe em arquitetura, engenharia, ‘ganha-ganha’. O clube está sendo muito respeitoso com relação a fazer o necessário. Por exemplo, o prédio caiu, desabou, mas sobrou uma arquibancada. Poderia fazer nova? Sim. Mas dá para aproveitar a que está ali? Dá. Então vamos aproveitar. Estamos aproveitando tudo que é possível, porque não estamos fazendo um alargamento da área de ocupação”, afirmou Volpato.

“Basicamente, é a reconstrução da arena que já tinha, porém, com normas de segurança e acessibilidade renovadas; com cadeiras, conforto, instalações sanitárias e praça de alimentação”

Luiz Volpato

Detalhes e novidades do projeto

O novo ginásio contará com uma miniarena com capacidade para 2.099 espectadores acomodados em cadeiras com encosto, além de três quadras de treinamento e uma academia multifuncional.

Além disso, serão instalados vestiários para árbitros, sala de reuniões, espaço para crioterapia e pronto-socorro, bloco de acesso com sanitários, praça de alimentação e um andar exclusivo para camarotes.

A principal mudança

O arquiteto contou que a “grande diferença” do novo projeto, além das modernizações e novas acomodações, é a mudança na entrada principal da arena. O objetivo? Torná-la mais “democrática” a partir de uma “abertura para a cidade”. No ginásio antigo, a portaria principal ficava dentro do clube e podia ser acessada apenas por sócios, enquanto os não associados entravam por outro portão.

“A grande diferença é a parte da frente, que seria equivalente à parte dos fundos do (antigo) prédio, de frente para uma rua. O projeto está apresentando uma abertura para a cidade. A principal entrada está dentro do clube, mas voltada para a rua, para receber com igualdade tanto o sócio quanto o visitante, a imprensa, aquela população que não é fixa do clube. O sócio vai ter benefícios como associados, mas a instalação ficará muito democrática, atenderá muito bem ao associado e ao público de modo geral.”

Luiz Volpato

Camarotes e instalações de imprensa

“Criou-se uma nova área de camarotes, foram melhoradas as instalações dos camarotes técnicos de produção para a imprensa, a chegada dos equipamentos de imprensa – porque eles são sempre, né, monta, desmonta… Então, foi criado um encaminhamento simples, fácil, para que os técnicos de operação possam fazer isso de forma rápida, tendo rápido acesso a as cabines de imprensa”, explicou Luiz.

Acústica e climatização

“Também houve uma preocupação no sentido da questão acústica da Arena, porque ela tende a ter muito mais eventos. E a preocupação climática, porque as temperaturas de Uberlândia são bastante elevadas. Sabemos que a adoção de ar-condicionado para equipamentos de grande porte não é muito recomendada pelo tamanho das cargas instaladas, custos, manutenção. Então, desenvolvemos, através dos revestimentos de fachada, de cobertura e circulação de ar natural uma forma para que haja conforto térmico muito maior, porém sem lançar mão de soluções e equipamentos de elevado custo”, disse o arquiteto.

Acessibilidade

“Tanto para o sócio que vem do clube ou aquele que entra na rua, é em nível. O percurso é feito totalmente em rampas acessíveis até chegar ao nível do hall de entrada. A partir do momento que ele passa a catraca, entra para a área de arquibancadas. As pessoas com deficiência, suas posições estão colocadas neste nível”, iniciou Volpato.

“Para os camarotes que ficam no nível superior, temos as escadas e elevadores. Para os sanitários que estão no nível inferior, elevador e escada. Então, tudo completamente acessível, os banheiros separados, com acessibilidade, para os portadores de necessidades especiais”, afirmou.

“Com relação aos operadores do espetáculo, os técnicos, temos os acessos pelas escadas, que fazem a circulação vertical dos camarotes, e pelo elevador. Para o bar que está anexado ao ginásio, tem o acesso em rampa e também terá para o elevador” explicou o arquiteto.

Arena multiuso: inspiração na NBA

“Hoje a pessoa vai para uma arena e quer assistir a um espetáculo, não quer só ver um jogo”. Sob esse lema, o presidente Paulo Henrique cita a inspiração na NBA, a principal liga de basquete dos Estados Unidos, e aponta que o Praia Clube é “pioneiro” na união entre esporte e entretenimento.

“Antes de ter o acidente com o nosso ginásio, já fazíamos apresentações nos intervalos dos jogos de vôlei, dança, brincadeiras. No futsal, por exemplo, chamava o povo da torcida para participar, já fizemos banda tocando nos intervalos dos jogos. Naturalmente, vai ser um evento social e esportivo num só. É bem o que os americanos fazem há muito tempo. Você vai a um jogo da NBA, tem o basquete, mas também entretenimento à disposição de quem está no ginásio, além da alimentação, bons banheiros, camarotes, shows. Isso tudo soma para um evento de sucesso”

Paulo Henrique, em entrevista exclusiva ao No Ataque

O presidente do Praia Clube explicou à reportagem que o projeto da nova arena prevê utilização maior do espaço para shows: “O Volpato já fez num molde que, se amanhã precisar fazer um show de porte maior, tipo um show de rock, sertanejo ou outras modalidades, pode ser feito também”.

Luiz explicou que a nova dinâmica permite a versatilidade de eventos no ginásio e garantiu que a capacidade poderá ser de até “sete a oito mil espectadores” em shows que utilizem o espaço da quadra.

“Queremos um grid, um passadiço que os funcionários possam circular no topo mais alto da quadra, a partir dos 12,5m, que é a altura mínima para competições internacionais. E esse grid, que vai suportar uma carga, poderá ser feito o que você puder imaginar. Se quiser descer uma grande cortina, se quiser colocar novos elementos de iluminação, som…”, destacou.

“A instalação para o esportivo, quando ela vira musical, se você tem as instalações complementares, ela vira uma casa de maior capacidade. Por que não prepará-la para isso? Sabemos que a vocação do clube é esportiva. Porém, se pode melhorar as condições culturais, de novos espetáculos, de rentabilidade, para melhorar as instalações, por que não fazê-lo? Não tem como você ter uma casa de 40 mil, 50 mil, 60 mil, 70 mil metros quadrados, no caso do Praia oito mil, para ter eventos esporádicos. Ela não se paga. Trazer essa possibilidade de utilização da estrutura com mais rotatividade é fundamental”

Luiz Volpato

Prazos da Arena Praia Clube

Luiz Volpato estima que o início das obras da Arena Praia Clube será em setembro. O projeto de engenharia está em fase final de execução, e ainda há dois passos para o começo da construção: a orçamentação da obra, que deve ser feita até junho; e a contratação de funcionários, prevista para até agosto.

“Dá para apressar? Dá. Dá para atrasar? Também dá. Procuramos orientar o clube a ser sempre firme, mas dar o tempo necessário. Às vezes vem um input de engenharia que a gente é obrigado a mexer em layout e, nisso, acaba percebendo que outra mudança é necessária. Estamos falando de meses, dias a mais para uma obra que vai ser usada por 50 anos, 60 anos. Sei que na angústia de fazer e reposicionar a arena pro clube é importante. Mas se você analisar o que pode ganhar por isso, acaba virando nada. O clube tem sido muito consciente nesse sentido”, contou o arquiteto.

“Eu entendo que é bem possível no final de 2026 ter essa obra pronta. No ritmo em que estamos avançando, a forma que o clube responde, as questões que só o clube pode responder, essa obra tem toda a condição de estar pronta ao final de 2026.”

Luiz Volpato, em entrevista exclusiva ao No Ataque

Quanto o Praia vai desembolsar?

Paulo e Luiz calculam que o Praia Clube deve desembolsar algo em torno de R$ 32 milhões na obra: “Se nós temos 8.400 m² de área construída, vezes um preço médio do metro quadrado para ‘galpão’ em Uberlândia que deve gerar em torno de R$ 4 mil, então estamos falando de cerca de R$ 32 milhões. Mas é um valor que não tem a ver com o orçamento”.

“Muitas vezes as pessoas falam: ‘Ah, mas o cara disse que o orçamento era esse, custou aquilo’. Não, isso não é um orçamento. É uma estimativa para ver para onde é que está indo, sé possível, viável para o clube ou não. Mas o preço, o orçamento, realmente, só vai ser possível quando colocar esses projetos no mercado e ter a devolutiva dos fornecedores. Aí você vai ter o preço real”

Luiz Volpato

O presidente do Praia Clube lembrou que o clube vai receber cerca de R$ 4,25 milhões provenientes do seguro pela danificação do antigo ginásio: “Ainda está em fase de análise. Tentamos fazer um seguro maior, mas a seguradora tem um limite de R$ 5 milhões. Temos que pagar uma franquia, então por volta de R$ 4.250.000 é o que a gente receberia do nosso seguro. Vamos colocar esse dinheiro na obra também”.

Política de ingressos

Antes do acidente no ginásio antigo, o Praia não cobrava o ingresso do público que ia à Arena para acompanhar os jogos de vôlei. Mas, com a migração para o Ginásio do UTC, onde tem mandado seus jogos, o clube passou a cobrar.

Paulo garante que a cobrança nas entradas deve seguir na nova arena.

“Com a nova arena, nossa despesa básica ali aumentará bastante. Ar-condicionado, camarotes, serviço de bar, shows, obrigatoriedade de geradores para poder fazer as transmissões, segurança. Estamos pensando em continuar cobrando o que cobramos no UTC. É simbólico. Nas quartas de final da Superliga Masculina, cobramos do sócio R$ 10 e do não sócio R$ 20, o ingresso solidário. Perto do que o povo cobra aí por futebol, por outros esportes…A gente brinca, é só o dinheiro da limpeza para que, no outro dia, o ginásio esteja pronto para os outros esportes”

Paulo Henrique Nascimento, presidente do Praia Clube

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