Oposta do Osasco, Tifanny pode ficar de fora do Mundial de Clubes Feminino de Vôlei, a ser disputado no Ginásio do Pacaembu, em São Paulo, entre os dias 8 e 14 de dezembro.
Campeã da Superliga em 2024/25 e ícone do time paulista, a atleta não está na lista de inscritos do clube paulista para a competição. Conforme apurou o No Ataque, o motivo é a exigência feita pela Federação Internacional de Voleibol (FIVB) da realização de “mais testes” para atletas transgênero.
Ainda conforme soube a reportagem, o Osasco foi “até onde podia” na situação. Contudo, a FIVB trata da questão diretamente com a atleta, e não com o clube. A entidade superior do vôlei no planeta foi procurada pelo No Ataque, que não recebeu resposta até a publicação da matéria.
A lista de inscritos do Osasco para o Mundial
Além da ausência de Tifanny, a lista de inscritos do Osasco para o Mundial de Clubes conta com surpresa na ponta – a presença da campeã olímpica Natália Zillo.
Protagonista da equipe nas conquistas da Superliga, da Copa Brasil e do Campeonato Paulista na última temporada, a ponteira recusou ofertas de renovação e decidiu atuar em dois países diferentes em 2025/2026 – nos Estados Unidos, onde disputou a Athletes Unlimited Pro League entre outubro e novembro; e na China, onde acertou com o Tianjin Bohai Bank para jogar a liga do país, disputada entre novembro e março.
- Centrais: Mayhara, Valquíria, Larissa, Geovana e Lara
- Ponteiras: Maiara, Maira, Natália, Giovanna, Baird e Lorena
- Opostas: Bianca Cugno e Rebeca
- Levantadoras: Jenna Gray, Marina Sioto e Ana Berto
- Líberos: Camila Brait, Sophia e Molinari Santos
A história de Tifanny
Tifanny iniciou sua carreira no vôlei masculino, em que chegou a defender o Juiz de Fora e iniciou oficialmente o processo de transição de gênero no final de 2012, fora do Brasil. Ela se submeteu a dois procedimentos cirúrgicos e a tratamento hormonal para diminuição dos seus níveis de testosterona, o principal hormônio sexual masculino.
Em 2017, a Federação Internacional de Vôlei (FIVB) autorizou formalmente a oposta a jogar em campeonatos femininos regularizados pela entidade e, ainda naquele ano, tornou-se a primeira mulher trans a jogar a Superliga Feminina, á época pelo Bauru. Quatro anos depois, ela se transferiu para o Osasco, onde fez história em 2024/2025 com a conquist da Tríplice Coroa: Campeonato Paulista, Copa Brasil e Superliga.
Mesmo seguindo a regulamentação do Comitê Olímpico Internacional e fazendo exames regulares, que atestam que ela está bem abaixo do nível máximo permitido de testosterona por litro de sangue, Tifanny foi alvo de muito preconceito até no meio do vôlei, entre jogadoras e ex-jogadoras e até o técnico Bernardinho.
O treinador da Seleção Brasileira Masculina de Vôlei disse, em 2019, após ponto da oposta contra seu time, o Rio de Janeiro (atual Flamengo), a seguinte frase: “Um homem, é f***”. Depois da repercussão negativa após ser flagrado em câmera, ele se desculpou com a atacante. Em 2018, a oposta Tandara, que à época jogava no Osasco e na Seleção Brasileira, também se declarou contra a presença dela na Superliga, sob a justificativa vaga de que “a puberdade dela se desenvolveu no sexo masculino”.
Com o passar dos anos, embora tenha seguido sofrendo com preconceito, a jogadora passou a ser mais aceita na Superliga e chegou a ser cotada na Seleção Brasileira devido ao bom desempenho na Superliga. A convocação nunca aconteceu, mas ela atingiu feito mais importante: abriu portas para as mulheres trans no vôlei – e no esporte em geral – brasileiro.
Osasco se pronuncia
O Osasco se pronunciou a respeito das “polêmicas” da lista, relacionadas, sobretudo, à ausência de Tifanny e à presença de Natália. Leia, a seguir e na íntegra:
“O Osasco Voleibol Clube vem a público prestar esclarecimentos sobre a inscrição de atletas para o Campeonato Mundial de Clubes de Vôlei Feminino 2025, competição organizada pela Federação Internacional de Voleibol (FIVB), que será realizada em dezembro, em São Paulo.
Em relação à ausência do nome da atleta Tifanny Abreu na lista preliminar de inscritas divulgada recentemente, o clube esclarece que a situação está diretamente relacionada ao fato de que Tifanny está se submetendo ao procedimento de autorização pela FIVB através do Comite de Elegibilidade (Sex Eligibility Committee), procedimento exigido pela FIVB para participação, em competições internacionais.
O clube reitera seu total apoio e suporte a Tifanny, que está cumprindo todas as etapas e procedimentos previstos nessas normas de elegibilidade. Por se tratar de um processo em andamento e que envolve informações médicas, jurídicas e técnicas, o clube não comentará detalhes, mas reforça que se trata de um trâmite regulatório novo e próprio das competições FIVB.
Conforme o regulamento do Mundial, os clubes devem enviar uma lista preliminar de atletas. A inclusão de nomes além do plantel atual que disputa a Superliga 25/26, faz parte do planejamento estratégico para que o Osasco esteja preparado para diferentes cenários, sempre respeitando os prazos formais. A presença de uma atleta na lista preliminar não significa, por si só, participação garantida no Mundial com a camisa de Osasco.
O Osasco Voleibol Clube reafirma seu compromisso com a inclusão, o respeito, a transparência e o cumprimento das regras que regem o voleibol nacional e internacional. Continuaremos ao lado de Tifanny, apoiando-a em todas as instâncias cabíveis para tentar viabilizar sua participação no Mundial, sempre em conformidade com as decisões das autoridades competentes.
Por fim, o clube faz um apelo público para que qualquer debate sobre o tema seja conduzido com respeito à atleta e a todas as jogadoras, rejeitando ataques pessoais e manifestações discriminatórias.”