Como grande parte dos jovens brasileiros, Matheus Brasília sonhava em ser jogador de futebol. Hoje levantador do Cruzeiro e da Seleção Brasileira, ele começou no vôlei por “acaso”, graças à irmã.
Em entrevista exclusiva ao No Ataque, o atleta de 28 anos destrinchou como foram os primeiros passos dele no esporte, no projeto social Amigos do Vôlei, liderado por duas ex-jogadoras da Seleção Brasileira: Leila Barros, a Leila do Vôlei, atual Senadora da República, e Ricarda Lima.
“Comecei lá em Brasília ainda pequeno, minha irmã tem um papel talvez um pouco diferente, ela que foi o ponto para eu começar no vôlei; eu, garoto brasileiro, como todos, gostava é do futebol, jogava futebol e, e aí, meu pai me levava para as quadras de futsal. Jogava bastante, toda semana. E aí eu comecei naquela ilusão, quero ser jogador de futebol, quero ser jogador de futebol.”
Matheus Brasíia
“Meu pai não vinha de uma família que cultua o esporte. Sempre foi incentivada a prática esportiva, independente de qual seja. Mas na minha família não tinha até então atletas, eu tive um tio que tentou ser jogador lateral, só que aí minha avó não deixou, falou para ficar e estudar. Mas minha família sempre gostou muito, não conheci meu avô, mas minha mãe dizia que ele sempre acompanhava muito futebol, levava meu tio, investia, pagava para os técnicos colocarem meu tio para jogar (risos). Tinha toda essa história”, prosseguiu.
O pai de Brasília, que o levava para jogar futebol e futsal, tomou decisão semelhante à da avó dele – “e aí, nessa ilusão, meu pai falou: ‘Não, vamos parar, vamos estudar’. Aí ele deixou de me levar tanto”. Contudo, a necessidade da irmã de praticar uma atividade física fez com que o jovem brasiliense a acompanhasse em uma prática totalmente nova para ele; o vôlei.
“Em contrapartida, a minha irmã precisava fazer alguma atividade física, orientada pelo médico. Nesse momento, surge um projeto da Leila e da Ricarda, que é o Amigos do Vôlei, em Brasília. Cada cidade satélite tinha um núcleo do projeto. Perto da minha casa tinha um. Aí, meus pais pensaram: ‘Vamos colocar a Larissa lá, ela faz vôlei, mais tranquilo. O Matheus vai junto para não ficar em casa’. Aí fui me destacando, tomando gosto e progredindo, depois fui para uma escola em Brasília que é a Católica, muito voltada para o esporte. Foi assim que comecei, meio por acaso, ‘de paraquedas’. Não me tornei jogador de futebol, mas me torneio jogador de vôlei (risos).”
Matheus Brasília, levantador do Cruzeiro e da Seleção Brasileira
Leia a íntegra da entrevista de Brasília ao No Ataque
- Quando percebeu que poderia atuar como profissional? E como decidiu pela posição de levantador?
“É uma boa pergunta, porque acho que desde o desde o meu primeiro ano, teve um um técnico lá, o Léo, que ele sempre colocou a gente para treinar muito fundamento, muito fundamento. Então, e a gente tinha um tinha um muro muito extenso lá. E aí era uma garotada, um projeto sensacional, né? Uma garotada, muita gente mesmo assim. Acho que aí ressalta a importância de um projeto social assim.
Eu vejo o esporte não como um um início assim para você vir a ser atleta profissional, se profissionalizar, mas um modelo de gestão pública assim para tirar as criançasas crianças da rua, o esporte traz muitas outras vertentes sociais mesmo assim de disciplina,. Então, o projeto social é importante nesse ponto, não para a gente ter mais atletas, mas para a gente ter cidadãos melhores.
E aí tinha um um um muro muito extenso, a gente treinava muito toque na parede, e eu tinha uma facilidade com toque. gostava de tocar, de levantar, nunca fui dos mais altos também, então ia lá levantar, tinha facilidade, gostava de ver o pessoal atacando, gostava de levantar a bola boa, de ver meus companheiros felizes.
E aí, acho que desde o início assim, eu tive esse essa vontade de ser levantador mesmo. Joguei em outras posições, no decorrer aí da base, mas levantador sempre foi o ponto máximo assim para mim. Acho que veio natural a opção por ser levantador, acho que não fui nem eu que escolhi, o levantador que me escolheu.
Matheus Brasília
- Como foi sair de casa com apenas 15 anos para ir jogar no Pinheiros? Como você foi convencido a aceitar?
Vai muito de encontro com isso. Acho que (a virada de chave) foi nesse ponto aí quando eu fui para o Pinheiros. O técnico Silvio, depois de um campeonato de Brasileiro de Seleções, eu com a Seleção do DF, o professor Silvio me me chamou, me convidou para integrar as categorias de base do Clube Pinheiros. E ali eu eu tive um despertar, que vi como o voleibol realmente é.
Se você pega São Paulo, você pega Minas Gerais, assim, as categorias de base já são mais voltadas ao profissional, assim, no alto rendimento, né? E lá eu tive esse esse despertar assim, eu quero seguir isso para a minha vida.
Acho que até então, quando eu estava em Brasília, por ser um ambiente muito escolar, muito de formação nessa questão de projetos sociais, não tinha esse esse esse molde assim, até porque a gente não tinha até então representantes na Superliga no Estado do DF. Então, quando eu cheguei no Pinheiros, que aí eu vi a realidade e gostei e falei assim: “Não, eu quero seguir isso para a minha vida”. Foi nesse ponto.
- O Brasília Militar conversa ou tem influência no Brasília jogador de vôlei? Você traz algum dos ensinamentos pra quadra?
“Sim, totalmente, acho que totalmente. Acho que essa essa questão do militarismo com esporte andam lado a lado, tem um jargão militar muito famoso que diz que o esporte imita o combate. As questões, as questões de, de disciplina, de hierarquia, de resiliência, vão muito com, com os princípios militares.
Então, além do programa que faço, porque eu sou militar através do esporte, né, que é o PAAR, o Programa de atleta de alto Rendimento do Ministério da Defesa, onde integram as três forças, tanto o exército, a marinha e a aeronáutica.
Eu sou militar do exército, o exército é responsável pelo voleibol e é um projeto. A gente estava conversando um pouco no off aqui a questão do da questão dos das modalidades olímpicas, os de esportes de menos investimento. E e o PAAR, é muito importante para a formação do esporte olímpico brasileiro.
Hoje, o Ministério da Defesa com o programa do de atleta de alto rendimento das Forças Armadas, talvez seja um dos maiores investidores do esporte olímpico brasileiro ao lado dos clubes olímpicos. Esse ponto é muito importante. E e essa questão do militarismo dentro do esporte é fundamental, acho que me me ajuda em muitas questões, em questões que quando a gente vai integrar o programa.
A gente passa por um duas semanas de um curso de adaptação à vida militar, onde você vai entender tudo, as bases do militarismo, faz um curso de formação e nesse curso de formação você aprende fundamentos importantíssimos que você leva para o esporte, não tecnicamente, mas de corpo de espírito mesmo, aquele espírito de de batalha, de guerra, de estar sempre em prontidão, obstinado nos seus objetivos, quando você pensa que o seu corpo não aguenta mais, você sempre tem um pouquinho a mais para se doar, para dar, para batalhar, para buscar os seus objetivos. Isso é muito do do militarismo.
Hoje em dia, graças a Deus a gente não tem tantos conflitos como era antigamente, de guerras mesmo. E o esporte veio como um um aliado a isso. Hoje as guerras modernas atuais que a gente tem são as batalhas travadas dentro de quadra. Então, esse ambiente ajuda a dar o seu melhor, estar sempre pronto, se doar mais, resiliente, além de todos outros fundamentos que um atleta precisa ter, de disciplina, de combatividade. Então, o militarismo, ele chega num ponto que me ajuda muito dentro de dessas questões no esporte.
Tecnicamente, o programa permite alguns atletas viver só do seu esporte, se dedicar fielmente aos seus treinamentos, porque tem a a a parte de ajuda financeira, de instalações também que as Forças Armadas dispõem para os atletas praticarem dentro da da dos quartéis. Então, é muito importante esse programa, me ajudou muito. Estou chegando ao fim do meu período, mas com valores e experiências muito gratificantes.
- Você foi contratado pelo Cruzeiro no ano passado. O que e quem mais te impactou nos primeiros treinos?
Jogar no Cruzeiro é um sonho para qualquer atleta, né? E eu sempre tive como um objetivo. Então, quando eu atingi que eu cheguei, foi uma sensação muito muito especial, muito especial mesmo.
É, de ver todo como o o corpo geral do de comissão técnica, atletas, é, diretoria, é, envolto e dedicado realmente ao projeto e a conquista de títulos e a evolução e e nunca tá satisfeito, ah, ganhamos um título, vamos em busca de outros e essa constante evolução, acho que foi o que mais me chamou a atenção, porque vai muito de encontro com o meu perfil, aquilo que eu busco para minha vida como atleta, né?
De de buscar sempre melhorar, de buscar sempre evoluir, de não se acomodar, de não deixar as glórias passadas te deixar mais tranquilo. Não, vamos em busca do próximo, vamos evoluir, vamos melhorar. Então todo esse empenho de toda a equipe de de todo o grupo, é, em pro dos objetivos, me chamou muita atenção. E claro, além de tá ao lado de referências no esporte, né?
Jogar com a Alaça e o cão, o próprio Felipe, que tem uma história fantástica dentro do do do Cruzeiro e Douglas que já Cara, acho que tá raro ao lado de grandes atletas, é, buscando grandes objetivos, disputando campeonatos finais, títulos, é é uma sensação fantástica. Acho que isso que me chama atenção até hoje.
- Você foi campeão mundial antes de ser continental. Ganhou praticamente tudo na 1ª temporada. Quando chegou ao clube esperava se encaixar tão bem e tão rápido à equipe?
Ah, é difícil falar. Esperar? Não, mas eu costumo falar que eu trabalho para isso. Acho que sempre trabalhando com esse objetivo. Acho que a gente se preparou bastante.
Foi uma temporada muito intensa, de jogos e de tudo. A gente trabalha para conquistar títulos, trabalha e busca sempre estar em finais. No final você vai ganhar ou perder, se você vai conquistar ou não, aí é consequência do jogo, né!?
As duas melhores equipes podem chegar lá, o título vai tá bem servido para qualquer um, afinal foi a final. Acho que é isso que a gente busca, estar sempre em finais, estar sempre buscando títulos. O título é consequência de um trabalho e da performance bem feita. Então, falar que esperava? Não, mas a gente se prepara e trabalha para isso.
Acho que não é surpresa também. Claro, contente, feliz que tudo deu certo, que a gente se preparou bem, que a gente atingiu os objetivos, mas de certa forma é o DNA do Cruzeiro, trabalhar e buscar títulos.
- Você tem uma foto de 2014 com William Arjona no Instagram. Hoje, joga no clube em que ele fez história. Como é isso para você?
O William é uma referência máxima na modalidade e na posição. Acho que não tem para onde correr, foi sem dúvida um dos melhores levantadores do Brasil. Que eu vi jogar talvez tenha sido o melhor.
O William, sem dúvida, está entre os melhores que eu vi jogar. Ele sempre foi uma referência.
Tive o prazer de trabalhar com ele uma temporada, onde eu aprendi bastante. Foi um sonho realizado, com certeza. Eu cresci vendo ele fazer história aqui em Minas com o Cruzeiro. Aquele time multicampeão de craques, um time que em todas as posições só tinha craques que jogariam em qualquer lugar do mundo tranquilamente.
É muito especial, é um legado que tem uma responsabilidade muito grande. Acho que estar no Cruzeiro você carrega uma responsabilidade muito grande, não só pela história do clube, mas pelos atletas que passaram e fizeram essa história acontecer também, mas eu levo com uma tranquilidade assim branda, bem tranquilo mesmo.
Acho que é o que eu busco para minha carreira. Tenho a mentalidade sempre de trabalhar e evoluir e o que eu posso fazer é me dedicar ao máximo pelo clube para manter essa história sempre lá no topo.
- Agora sobre o jogo de ontem com o Campinas, o Cruzeiro perdeu a segunda na Superliga. Teve uma temporada (2023/24) recente que perdeu só uma fase inicial. É algo do time ou da Superliga que está ainda mais equilibrada? Quais os principais rivais?
Sem dúvidas a Superliga vem se fortalecendo com o tempo. Acho que é algo muito positivo.
O voleibol brasileiro passou por um momento de instabilidade e agora está começando a retornar com um investimento maior, tendo como consequência mais equipes em capacidade de disputar títulos. Então, é sempre muito válido, né?
Acho que quem tende a ganhar isso é o voleibol brasileiro, os fãs que acompanham, que vão ter mais atletas capacitados, vão ter mais campeões olímpicos, vão ter mais campeões dentro do nosso país.
Assim, a gente tem grandes atletas espalhados mundo afora, se a gente puder retornar, fortalecer nossa competição, nossa principal competição nacional, sem dúvidas, nossa seleção tende a ganhar.
Então é um movimento positivo, válido. Acho que as equipes estão se fortalecendo, a cada temporada que passa o equilíbrio fica maior. Ano passado já foi uma Superliga equilibrada. Esse ano tende a ser mais.
Aí você vê resultados que pode-se dizer, zebra, mas que não é tão zebra assim, né? É fruto da capacidade de gestão de projetos, de se fortalecer, de contratar, de gerir profissionalmente um projeto, que é o modelo que o Cruzeiro faz muito bem ao longo dos anos, então, as equipes estão se capacitando.
Teve resultados adversos, inesperados, um Goiás ganhando de um Campinas, até a nossa própria derrota para o Sesi, por ter sido em casa. Foi um alerta. Acho que a derrota de ontem também é mais uma capacidade dessa questão de equilíbrio mesmo.
Então, é difícil você apontar, mas acho que tem as equipes tradicionais que são a gente, o Cruzeiro, muito tradicional, que busca títulos sempre. O Campinas, que está fazendo esse movimento nos últimos anos, é finalista das duas últimas Superliga.
O Minas, que é uma equipe tradicional, foi campeão da Copa Brasil na temporada passada. O Sesi que ganhou há dois anos atrás, é uma equipe já com uma tradição. O Praia Clube se fortaleceu bastante, é um projeto que está crescendo ao longo da temporada.
Eu apontaria essas cinco equipes por tradição, por conhecer, ter um modelo já pronto, mas você não pode descartar aquelas equipes que correm por fora, que são perigosas também. Você vê o caso do Suzano que é uma equipe tradicional, nos anos 90 fez história dentro do voleibol brasileiro e já tá batendo na trave aí no Campeonato Paulista três temporadas.
É uma equipe perigosa que pode chegar, pode ter bons objetivos Então a gente tem esse equilíbrio grande que eu acho que o voleibol tende a ganhar. Acho que é importante ter também, para fomentar.
- Ainda sobre o Campinas, como você se sente por ter perdido um jogo em que o Cruzeiro teve match points?
Bom, derrota eu sempre fico irritado. Acho que fico irritado, fico digerindo, fico vendo que a gente precisa melhorar, quais foram os pontos que a gente falhou, que a gente não obteve a vitória.
Aí entra a irritação e a análise, eu vou analisar tudo, meu próprio jogo, que a gente poderia ter feito diferente, o que a gente poderia ter feito melhor, para não cometer os mesmos erros ao longo dos jogos.
A gente sabe que é uma temporada longa, difícil você passar ileso a temporada inteira, então a gente precisa evoluir, acho que é claro que a vitória é muito melhor, a derrota te deixa em alerta.
Te traz alguns malefícios, mas a gente tem que tirar o lado bom de todos os jogos, não só na derrota, na vitória também tem, tem essa mesma crítica, essa mesma análise feita para a gente manter sempre vencendo.Precisamos evoluir, é uma constante evolução.
O que a gente fez no Campeonato Mineiro deste ano, que foi muito bom, já passou, a Supercopa veio também, coroou com o título, passou também, a gente teve bons lances. É natural, uma parte de oscilação durante a temporada, ainda mais uma sequência muito intensa de jogos que a gente tem que antecipar por conta do mundial. Então você acaba não tendo tanto tempo para trabalhar, para aprimorar alguns pontos.
A gente precisa fazer isso com o carro andando mesmo, é complicado, mas a gente tem capacidade, tem atletas capacitados, tem uma comissão técnica capacitada para nos ajudar e voltar a evoluir dentro dos requisitos que a gente precisa.
- Como é jogar contra o Bruninho? Ele te elogiou para nós na final da Superliga ano passado, falou que você mereceu o título da Superliga e o de melhor levantador
Bruno é uma referência, uma referência gigantesca. Talvez um dos maiores atletas que o Brasil já teve, não só no voleibol, mas em todas as modalidades. Ele é um cara especial demais, um líder excepcional, um cara que é multicampeão, ganhou tudo o que disputou, onde disputou, foi campeão. É inspirador.
É legal ver essa questão de diferenças de estilos de jogo. O William era um cara mais da parte de fazer magias. O apelido do El Mago não é à toa. O Bruno é aquele cara líder, aquele cara que vai na raça, que vai tecnicamente sempre buscando evoluir, melhorar.
Então, cara exemplo mesmo, um levantador muito completo, muito completo mesmo, não só na parte de levantamento, que é muito inteligente, tem estratégias, consegue ter uma leitura de jogo fenomenal, consegue tirar o melhor dos seus atacantes, um cara que saca muito bem, bloqueia, defende, um levantador completo. É inspirador, acho que o legal é isso, é você batalhar e duelar contra grandes jogadores.
Acho que aí que você vai evoluir, aí que você vai está sempre buscando, jogando contra grandes jogadores que vai despertar. É um modelo a ser seguido. O Bruno é um exemplo a ser seguido, realmente um cara que com quase 40 anos e está com fome de um garoto, como se tivesse começado a jogar ontem com aquela vontade.
Então, realmente, eu me identifico muito com o estilo de jogo dele, essa questão da liderança, da vontade de querer sempre ser melhor. Acho que jogar contra ele é um privilégio, não tem outra palavra, é um privilégio mesmo jogar ao lado, jogar contra, ver esses grandes atletas em quadra.
- Como foi viver a segunda temporada pela Seleção, ter bons momentos mas sofrer a eliminação inédita na fase de grupos do Mundial? Ficou abalado psicologicamente?
Eu fiz bastante essa análise durante esses meses que passaram e retornei ao clube. Tudo, se faz uma análise ali da temporada e eu consigo dividir em dois momentos.
Dois momentos, um momento muito positivo, acho que começo de ciclo é sempre desafiador. É um grupo novo sendo montado, um grupo que tem pouco tempo de quadra, pouca experiência em jogos internacionais, e a gente tá numa seleção brasileira, sempre vai ser cobrado ao máximo para reviver as glórias passadas.
Tem que ter um pouco de paciência e entender que o voleibol teve essa globalização. O equilíbrio é maior hoje. Hoje você não consegue apontar duas, três equipes que vão ser favoritas ao máximo.
Tem ao mínimo sete equipes com a capacidade de estar em finais, buscar títulos. A gente fez uma primeira parte de temporada muito boa, que foi a Liga das Nações. A gente termina em primeiro geral, jogando bem.
Acho que uma derrota, se eu não me engano para Cuba, na primeira etapa. Então a gente termina com uma derrota, jogando contra grandes seleções. Num momento muito desafiador, que pede lideranças como o Bruninho, que pede lideranças como o Lucão, que são sempre muito positivas, mas que atletas precisam também assumir esse papel, buscar novos líderes, buscar novas referências para uma seleção.
A gente teve poucos jogadores que viveram completo essas experiências, alguns muito jovens, outros mais experientes, outros com um tempo maior, mas poucos. E aí a gente sai numa semifinal para a Polônia, que talvez seja uma das melhores seleções hoje, talvez esteja entre as três melhores.
E aí a gente tem uma medalha, né? Volta ao pódio depois de alguns anos sem estar na na Liga das Nações no pódio. E aí a gente vai para uma outra parte da temporada que é o Mundial com todo mundo muito empenhado.
A gente sabia que seria mais difícil do que foi na Liga das Nações, até porque na Liga das Nações a gente tava meio em cheque, ninguém sabia muito se o Brasil ia ou não. Ah, sem o Bruno, sem Lucão. Então, as outras equipes não conheciam muito e aí a gente chega num Mundial com um pódio de uma Liga das Nações, já chegam em um outro status.
As equipes se conhecem, tem mais estudos, tem mais informações a respeito da nossa equipe e aí a gente precisa evoluir nesse quesito. A gente estava muito empenhado, tinha condições de chegar a uma disputa de medalha, acho que era o nosso principal objetivo e tava correndo tudo bem. Estreia é sempre difícil, perde um set contra a China, mas é estreia, tudo bem né?
Não é esse bicho de sete cabeças e a gente vai, faz um belo jogo contra a República Checa, ganha 3 a 0, tem duas vitórias no mundial e aí vai para o jogo contra a Sérvia. A gente faz o nosso pior jogo da temporada no mundial e acaba sendo derrotado por 3 sets a 0, acho que isso joga um balde de água fria gigantesco.
E aí por sets, por combinações de resultado, a gente não consegue classificar para a próxima fase. É frustrante.
Não preocupante, mas frustrante realmente, acho que a gente não esperava. Até porque se você for pegar a campanha, se você faz os três jogos, você ganha dois, perde um, é eliminado, perder um para Sérvia, se Sérvia não é uma equipe boba, uma equipe de tradição também, não é uma equipe que não tem história dentro do voleibol, uma equipe tradicional, assim você perder de três é um absurdo.
Pela situação, pelo resultado, sim, foi um absurdo, mas não é que é um absurdo do voleibol se perder para a Sérvia. Pode acontecer. Mas a sensação de frustração é grande porque a gente não atinge o objetivo, né?
Ficou a sensação ruim, sensação ruim por a gente ter sido eliminado precocemente do mundial, mas não tem outro jeito, é voltar a trabalhar, é estar melhor, se empenhar melhor, trabalhar melhor na próxima temporada para a gente não vivenciar essa sensação de novo. Acho que a gente precisa evoluir, a gente precisa melhorar em muitos pontos, acho que isso é inevitável.
A gente não pode se permitir ser eliminado dessa forma, acho que temos que saber sofrer nesse momento para voltar melhor. Então, o balanço que faço da temporada de seleções é essa.
A gente teve um momento muito bom ali, onde a gente retornou a um pódio e depois um balde de água fria com uma eliminação precoce numa combinação que poderia trazer um objetivo, mais um dos objetivos cumpridos, que era a disputa de medalha, mas infelizmente, faltou no jogo contra a Sérvia, ter feito melhor.
Mas é sair fortalecido desse momento, trabalhando, buscando não vivenciar momentos assim de novo.
- Time do Brasil ficou abalado ao saber da morte da mãe de Bernardinho horas antes do jogo decisivo? Como ficou o clima pro jogo?
Sim, acho que sem dúvidas. Acho que quando se perde um ente querido qualquer um sofreria. Nesses momentos o atleta e quem vive do esporte e tem um momento que você entra dentro de quadra e aí você consegue desligar do mundo externo. Você fica focado naquilo que você precisa fazer no momento.
Acho que não chegou a atrapalhar, acho que a gente tem a confiança do Bernardo e em cada um dos atletas que estavam lá, infelizmente foi um dia ruim, acho que como acontece com qualquer equipe, você não tem um dia tão bom dentro de um jogo. Infelizmente, naquele momento, naquelas circunstâncias, foi o nosso momento ruim da temporada.
Acho que não adianta ficar procurando motivos, ficar procurando questões que possam ter atrapalhado. É assumir a responsabilidade que a gente não fez um bom jogo, que a gente precisava ter performado de uma forma melhor.
Acho que é um jogo decisivo, a gente precisava ter encarado como tal, mas infelizmente a gente não conseguiu, acho que não foi por falta de vontade, não foi por falta de treino, de nada, foi um mau momento, um mau dia que a gente não conseguiu atingir o nosso melhor.
Talvez nas próximas situações é se preparar melhor, é chegar nesses jogos derradeiros, nesses jogos decisivos, a gente ter uma postura diferente para não acontecer de novo, acho que são lições que a gente tem que aprender, lições duras, mas que precisam ser vivenciadas para fortalecer o processo e chegar a buscar medalhas, títulos, essas questões.
- Como é a convivência com Bernardinho? Conte bastidores
Bom, acho que a convivência antigamente era pior, né? Porque eu escuto o pessoal falando que era mais difícil. Ele foi adaptando ao mundo moderno, vamos se dizer assim. Acho que é claro, é natural, que o mundo de hoje não é o mesmo mundo de 10, 20 anos atrás.
São gerações diferentes, pessoas diferentes, informações, mais acesso a informações. Então, tudo isso muda, né? Não é que você tá diferente, você evolui. Acho que com o tempo ele como o líder que ele é, como o treinador multicampeão que é, sabe lidar com o grupo da forma que necessita. Tanto que a gente teve um objetivo que foi voltar ao pódio.
E os bastidores, tem essências que não que não muda, né? Aquele cara que vai pega no pé, que quer fazer você melhorar, que quer ver você atingir o que você pode atingir de treino, de cobrança. Acho que a essência você não muda.
Acho que molda alguns pontos, não estão como era antigamente, mas é similar, vamos se dizer assim, similar ao Bernardo dos anos 90, 2000.
- Ficou frustrado com a não ida a Paris 2024? Como enxerga esse momento de mais oportunidades na Seleção após a saída de Bruninho?
Acho que o objetivo de qualquer atleta é disputar uma Olimpíada. Frustração eu acho que ela existe, acho que tem que existir.
Acho que você tem que querer, você tem que buscar disputar uma Olimpíada e quando você não atinge seus objetivos, você fica frustrado assim, mas não é frustração naquele sentido de vitimismo. Não, aquela frustração de, cara, eu quero atingir esse objetivo, eu quero isso. Então, eu vou me esforçar para atingir ele. Acho que tudo tem o seu momento. Acho que talvez não estava preparado para aquele momento.
Tem a próxima Olimpíada. Tô buscando meu espaço. Acho que falar de seleção é sempre muito complicado porque tem grandes atletas com o mesmo objetivo que o seu e eu tô fazendo a minha parte para buscar o meu objetivo. Acho que eu tento trabalhar dessa forma, buscar o meu espaço para atingir o meu objetivo.