Uma das estrelas da Superliga Feminina de Vôlei, a ponteira sérvia Aleksandra Uzelac, do Fluminense, disse em entrevista ao site Mozzart, nesta sexta-feira (1/3), que foi assaltada duas vezes no Rio de Janeiro no mês passado. Depois disso, ela sofre com crises de pânico e cogita deixar o Brasil.
Ela contou que o primeiro assalto ocorreu quando estava andando de bicicleta. Uzelac estava com uma amiga e foi abordada por dois homens com facões.
“Dois (bandidos) correram em minha direção, levantaram as camisas e tiraram facões. Eram facões realmente enormes. Nem sei como cabiam nas camisas. Comecei a gritar e não sabia o que fazer. Posso dizer que Deus me salvou, porque nem caí da bicicleta e corri para a rua onde há carros e motos. Eu poderia ter sido atropelada. Minha amiga não conseguiu atravessar, ela caiu. Um me seguiu e o outro foi até ela. Parei, joguei a bicicleta fora, esperei por ela e parei um carro. Não pude fazer mais nada. Um táxi parou e fomos juntas até a polícia”, descreveu.
No segundo assalto, a sérvia disse que ficou frente a frente com bandidos armados dentro de um Uber.
“Estava voltando do clube para o meu apartamento, estava jantando com minha amiga. Antes, assistimos a um jogo de futebol do Fluminense, estava tudo ótimo. Entramos no Uber. Mandei uma mensagem para meu namorado Danilo dizendo que estava tudo bem e que chegaria em casa em 30 segundos, já que moro a 100 metros do clube”, disse.
“Eu estava olhando para o telefone, e minha amiga pegou minha mão e começou a gritar: ‘Uzi, Uzi, Uzi’. Olhei e estavam parados na nossa frente dois carros, atrás também, ao lado de duas motos. Homens saem com pistolas. Eles gritavam para darmos tudo o que tínhamos. Abriram a porta e apontaram a arma em direção à nossa cabeça. Estávamos gritando, eram quatro armas, inclusive aquela com silenciadores. Eles nos revistaram e um deles entrou no carro”, acrescentou.
Uzelac fala sobre crises de pânico
Depois dos episódios de violência, a sérvia agora sofre com crises de pânico.
“Na Sérvia, só vimos algo assim em filme. Só quando algo assim realmente acontece com você é que você vê como isso é terrível. Cheguei no meu apartamento com minha amiga, ela estava lá comigo, não dormi nada. Depois de tudo, comecei a ter ataques de pânico. Uma noite foi muito assustador, Danilo também se assustou. Não me lembro de nada, só acordei no meio da noite e comecei a gritar, gritar, pensei que alguém estava me perseguindo. Liguei para minha mãe e disse que queriam me matar no apartamento. Achei que alguém estava me ligando. O trauma é grande. Esse mesmo motorista, que não é carioca, nos contou que já viu situações parecidas e que pessoas foram mortas. Para eles, é como um bom dia”.
“Logo depois, viajamos para um jogo, então eu não estava no Rio. Estou com muita dificuldade para dormir, agora estou tomando remédio por causa dos pesadelos. Fico bem durante o dia, mas é difícil à noite. Ainda estou cansada, porque durante alguns dias não dormi nada. Só agora estou conseguindo fechar um pouco os olhos. Estou tentando me concentrar no vôlei, porque quero lidar com isso e seguir em frente”, destacou.
Família quer a saída de Uzelac do Brasil
A jogadora do Fluminense revelou que a família quer a saída imediata dela do Brasil.
“Mamãe e papai queriam vir imediatamente para voltarmos para casa juntos. É claro que eles não querem que fico aqui. Quem teria certeza (da segurança do Brasil) se algo assim acontecesse com seu filho? Eu acordo no meio da noite e ligo para minha mãe. Eu grito no telefone. Você entende o trauma que isso é para ela também?”, questionou.
Uzelac disse que não sabe se terminará a Superliga Feminina.
“Houve negociações, não havia nada certo se continuaria ou não. Mas, depois de tudo isso, nem tenho certeza se terminarei a temporada no Fluminense. É bem possível que me dedique nos próximos dois meses e me prepare para a seleção. Se eu pedir ajuda de um psicólogo, com certeza será na Sérvia, não aqui. Eles me apoiam no clube, estão lá para tudo, mas tenho que ver o que é melhor para mim. É difícil quando sua vida está em perigo”.