VÔLEI

Cosmopolita, estreante da Seleção tem sotaque estrangeiro e foi ‘achado’ jogando em parque

Estreante do Brasil na Liga das Nações Masculina de Vôlei diz que jogar na Seleção nem estava nos seus sonhos: 'Achava muito difícil'

Quem conversa com Chizoba pela primeira vez pode pensar que ele é estrangeiro devido ao sotaque. Estreante da Seleção Brasileira Masculina de Volei na derrota por 3 sets a 2 para Cuba, nessa quinta-feira (13/8), no Maracanãzinho, pela Liga das Nações (VNL), o oposto é fruto de uma grande mistura de culturas. Ele é filho de pai nigeriano, mãe pernambucana – mas que morou muito tempo em São Paulo, cidade natal do jogador -, passou a infância na Espanha, adolescência na Bolívia e construiu a carreira entre Estônia, França, Emirados Árabes Unidos e Polônia,

“Minha família gosta muito de misturas. Minha mãe (casou) com um nigeriano, minha tia com um cubano, minha outra dia com um americano. Não nascemos nem fomos criados nos mesmos países, não falamos o mesmo idioma, nem parecemos iguais, né? Porque eu sou misturado. Mas a gente se ama”, brinca o jogador, que teve boas entradas na inversão do 5-1 de Bernardinho e fez três pontos cruciais para que o Brasil vencesse o quarto set e levasse a partida para o tie-break.

“Eles (os pais, Davis Joseph Sony Ato e Judith Prena Neves) se conheceram através de um amigo há tipo, 40 anos. Meu pai morou muitos anos no Brasil. Eles se apaixonaram, tiveram eu, minha irmã (Larissa Neves, um ano mais velha) e aí decidimos ir embora”, explicou Chizoba.

Os familiares, que hoje moram no Brasil, sequer foram ao Maracanãzinho, já que o atacante pensava que não iria entrar em quadra. Indagado pelo No Ataque, o paulistano explicou: “Vocês acreditam que quarta-feira (5/7) no treino eu dobrei meu tornozelo muito feio? Estava bem inchado e roxo”. No entanto, Chizoba conseguiu recuperação em “tempo recorde” para conseguir jogar a primeira semana da VNL, disputada inteiramente no Maracanãzinho.

‘Não sabia que eu ia jogar’

Devido à lesão, que o tirou da estreia na quarta (11/6), contra o Irã, Chizoba pensou que não jogaria diante de Cuba. Por isso, não chamou seus familiares para assistiram aos seus primeiros momentos com a camisa da Seleção.

“Eles não vieram para cá porque eu não sabia que ia jogar hoje. Se soubesse, teria falado para virem. Vou tentar organizar agora para ver se eles podem vir para o final de semana. Eles nunca tiveram a chance de me ver jogando profissionalmente, então tomara que eu consiga fazer isso acontecer”, disse o oposto. O Brasil enfrenta a Ucrânia neste sábado (14/6), às 10h; e a Eslovênia (15/6) no domingo, no mesmo horário também no Maracanãzinho, para fechar a primeira semana da VNL.

“Só que a minha recuperação foi muito rápida. Muito obrigado, Aridones (fisioterapeuta da Seleção). Eles brincam que eu tenho uma das três recuperações mais rápidas da história da Seleção, porque foi bem rápido mesmo. Pensei que não ia ter a chance de jogar aqui, estava bem chateado, mas eu tive a chance, o doutor me liberou, e estrei, pô, muito feliz”

Chizoba

Jogar pela Seleção não estava nem nos sonhos

A trajetória incomum de Chizoba o fazia acreditar que ele jamais teria a oportunidade de jogar pela Seleção Brasileira. Sem passagens por seleções de base, ele começou a jogar vôlei em ligas universitárias da Bolívia e, ao voltar para o Brasil na adolescência visando mais oportunidades no esporte, foi “descoberto” jogando no Parque Ibirapuera, em São Paulo.

“Morei 11 anos fora. Primeiro seis anos na Espanha, voltei, depois fui embora e passei cinco anos na Bolivia. Foi lá onde comecei a jogar vôlei. Lá não tem uma liga profissional, só tem campeonatos universitários e colegiais, e eu tinha esse sonho de jogar vôlei profissionalmente. Aí falei para minha família que ia voltar para cá e e comecei a chamar todos os times, fui jogar em parque, me acharam jogando no parque, acredita?”

Chizoba

“Os meninos me viram, falaram com o técnico, aí me habilitaram para jogar na Federação Paulista. Aí foi isso, o São Caetano me ligou, fui embora de novo, construí minha carreira na Europa. É a minha estreia na Seleção, primeira vez que jogo num ginásio tão cheio aqui no Brasil”, explicou. Ele passou pelo São Caetano entre 2015 e 2017, depois pelo Goiãnia e, em 2018, fechou com o Pärnu Võrkpalliklubi, da Estônia.

No pequeno país europeu, Chizona se detacou e atraiu a atenção da França, onde passou a maior parte da ainda curta carreira. Entre 2019 e 2022, jogou no Stade Paivetin Volley-Beach e, entre 2022 e 2024, atuou pelo Nantes Rozé Métropole Volley. Após cinco anos no país, ele decidiu ter experiência do outro lado do mundo: no Shabab Al-Ahli, dos Emirados Árabes Unidos.

A experiência no Oriente Médio durou apenas alguns meses. Em 2024, ele acertou com o Cuprum Stilon Gorzów, da Polônia. Lá, se destacou no último campeonato polonês – amplamente considerado um dos mais fortes do mundo – e foi o sétimo maior pontuador da competição, com 539 tentos.

“Não estava nem nos meus sonhos (jogar pela Seleção). Eu achava muito difícil, porque para participar disso é um processo. Você vem participando nas categorias de base da seleção brasileira desde o juvenil. Acho que tem poucos jogadores que não fizeram parte de nenhuma categoria de base da Seleção Brasileira e estreiam logo com a principal, então me sinto muito abençoado. Não tava nos meus planos, mas as coisas se deram, então foi isso, a oportunidade.”

Chizoba

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