COLUNA TIRO LIVRE

Robinho preso é marco para o esporte no Brasil

A prisão de Robinho no Brasil precisa ser educativa. Mostrar para todos a gravidade do ato que ele cometeu

A prisão do ex-atacante Robinho, na noite dessa quinta-feira (21/3), em Santos, deve ser encarada como um marco no esporte brasileiro. A ida para a cadeia, de um condenado por estupro, deveria ser regra, não exceção. Mas, em um país machista como o Brasil, nem sempre esse é o caminho seguido. Ainda mais tendo o futebol como pano de fundo – um esporte que costuma jogar para debaixo do tapete casos de violência contra a mulher.

A notícia da condenação de Robinho ganhou as manchetes do mundo a conta-gotas. Primeiramente, com a punição na Itália, em 2013, quando ele foi sentenciado a nove anos de detenção por participar de estupro coletivo a uma jovem albanesa.

Como não estava mais na Europa, ele escapou da prisão àquela altura. Foram quase 11 anos de impunidade até que a Justiça brasileira julgasse a validade da condenação por aqui e decidisse que Robinho deveria, sim, cumprir a pena do crime cometido na Europa.

Não haveria como ser diferente. O que ele fez lá é errado em qualquer lugar, sob qualquer ótica. E foi justamente por isso que a notícia do reconhecimento da pena no Brasil virou manchete na imprensa planeta afora.

As mesmas redes de TV que mostraram os dribles e gols do atacante em campo, desta vez voltaram suas câmeras para a imagem dele em um carro descaracterizado da Polícia Federal, deixando o prédio em que mora com a família em Santos e sendo levado para a cadeia.

A prisão de Robinho precisa ser educativa. Mostrar para todos a gravidade do ato que ele cometeu. Escancarar a todos que ainda não entenderam a linha que não deve ser ultrapassada, do respeito sobretudo ao ser humano, à mulher.

Nada dá a um homem o direito de tocar uma mulher sem o consentimento dela. Isso precisa ser ensinado nas escolas, precisa ser falado dentro de casa, nas escolinhas de futebol, em palestras nas categorias de base e até em grupos de atletas profissionais. A mulher não é um objeto.

O futebol costuma dar guarida a agressores de mulheres. Não são poucos os jogadores que cometem violência doméstica e continuam suas vidas tranquilamente nos gramados, sendo contratados pelos clubes como se não tivessem nada a desabonar sua conduta e ganhando altos salários.

A prisão de Robinho

A ida de Robinho para a cadeia é um marco porque mostra que não importa se ele é famoso, um astro do futebol mundial, com currículo vitorioso. Não importa se ele tem dinheiro – diferentemente do que ocorre na Espanha, que concedeu liberdade provisória a Daniel Alves, outro brasileiro também condenado por estupro, mediante o pagamento de fiança de R$ 5,4 milhões. Como se determinasse um preço para atenuar o crime.

Em ambos os casos, há um misto de indignação e vergonha. A forma como eles acreditavam estar acima da lei. A maneira como tentaram descredibilizar as vítimas.

Daniel Alves mudou sua versão, perante a Justiça espanhola, cinco vezes. Inicialmente, negava até ter visto a mulher. Com Robinho, acrescentam-se outros requintes de crueldade. O deboche dele ao se referir à vítima, ao estupro, em áudios gravados pela Justiça italiana, expuseram a face do machismo que impera na sociedade. Ele ria, falava com indiferença, ironizava qualquer menção a punição. Foram definitivos para a condenação.

Seria bom se o esporte se manifestasse firmemente contra tudo isso. Mas a maioria se cala, como se compactuasse com tudo isso. Não se envolver também é tomar partido, ser cúmplice.

Coube a uma mulher, a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, tomar a frente e dizer o que toda mulher gostaria de gritar, ao afirmar que os casos envolvendo Daniel Alves e Robinho foram como um “tapa na cara das mulheres”. É essa a sensação.

Por tudo isso, a prisão de Robinho é marcante. Sinal de esperança. Que ele de fato cumpra a condenação até o fim, pague pelo crime que cometeu, para que não sejam desferidos mais tapas na cara das mulheres.

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