TIRO LIVRE

Douglas Souza no Cruzeiro e a praga da homofobia

Muitos cruzeirenses festejaram. Mas há uma ala que não se conforma em ver Douglas Souza vestindo as cores do clube. Como se ele não fosse digno de tal missão

Um dos times mais vitoriosos do vôlei brasileiro, o Cruzeiro confirmou, nesta semana, a contratação do ponteiro Douglas Souza. Um reforço de se aplaudir, já que o jogador é um dos principais nomes da posição no Brasil. É, também, um dos atletas mais carismáticos do esporte brasileiro, carregando uma legião de fãs. Homossexual, defende a causa LGBT+ abertamente, doa a quem doer. E aí está justamente o que incomoda muita gente.

Aos 28 anos, Douglas disputou duas edições de Olimpíada, fazendo parte da Seleção Brasileira comandada por Bernardinho que foi campeã nos Jogos do Rio’2016. Também esteve no grupo que terminou em quarto lugar em Tóquio, em 2021, com Renan dal Zotto. Foi para o Vibo Valentia, da Itália, e, na temporada passada, defendeu o Vôlei São José, de São Paulo. Era titular da equipe.

A carreira fala por si. E ele ainda está jogando tanto em alto nível que, mesmo tendo anunciado – há quase dois anos – sua aposentadoria da Seleção, estava na convocação de Bernardinho para a Liga das Nações, em abril, na primeira lista do treinador em sua volta ao comando do time brasileiro. Douglas Souza recusou o chamado, reafirmando a decisão de dar como encerrado seu ciclo com a camisa amarela.

Tudo isso mostra, contudo, como sua qualidade como atleta é inquestionável. Tem cacife para o desafio que recebeu do clube celeste: chega para substituir ninguém menos que o cubano López, ídolo da torcida, que foi para o Japão. Muitos torcedores cruzeirenses festejaram. Mas há uma ala que não se conforma em ver Douglas Souza vestindo as cores do Cruzeiro. Como se ele não fosse digno de tal missão.

Nesta quinta-feira (6/6), uma postagem publicada pelo jogador em conjunto com o clube no Instagram foi invadida por comentários homofóbicos. Ataques do tipo “fora pode fazer o que quiser, mas dentro de quadra joga que nem homem”, “fala igual homem”, “sem lacração” e por aí vai. Reações de tamanha ignorância, esportiva e sociológica, em que a falta de respeito diz o mínimo sobre quem escreve.

Não há espaço para isso nos dias atuais, Não deve haver. A prova é que tais mensagens despertaram reação imediata. E muita gente foi lá, refutar os preconceituosos. Não apenas em defesa de Douglas, mas em defesa de toda uma população que sofre atos violentos simplesmente por se permitir ser quem é.

Douglas é um dos principais representantes da comunidade LGBT+ dentro do esporte. Nunca se escondeu. Pelo contrário: já bateu de frente até com atleta. Um episódio, inclusive, ocorreu em BH. Em outubro de 2021, o central Maurício Souza, então jogador do Minas Tênis Clube, foi dispensado depois de post homofóbico em uma rede social. O primeiro a contestar o posicionamento preconceituoso do colega foi Douglas Souza, que foi apoiado por jogadoras de vôlei, inclusive do próprio Minas como Carol Gattaz.

É impressionante como muita gente ainda se sinta no direito de determinar como deve ser a vida do outro, em vez de se preocupar com a própria. Incorrem em crime, já que desde 2019 o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a casos de homofobia e transfobia se aplica a lei que trata de racismo, com pena de até três anos de reclusão para os infratores.

Não dá para naturalizar ataques homofóbicos, seja nas quadras ou em redes sociais. Não é possível aceitar. Ponto para quem rebate, como fizeram centenas de pessoas no post em que Douglas Souza era o alvo. Bola dentro do Cruzeiro, que se posicionou nas redes sociais, condenando as manifestações preconceituosas e pregando a diversidade e a inclusão.

A nós, da imprensa, cabe cada vez mais jogar luz sobre o assunto. Educar os torcedores e ajudar a formar uma sociedade mais humana.

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