Guará era um verdadeiro ícone nas ruas de Belo Horizonte ao fim da década de 1930. Goleador do Atlético, o atacante impressionava pelas capacidades em campo e foi um dos destaques alvinegros na conquista do Torneio dos Campeões de 1937, agora reconhecido como o primeiro Campeonato Brasileiro da história. Ao No Ataque, familiares do “Perigo Louro” relembraram memórias de um dos nomes mais importantes do clube mineiro e comemoraram a unificação por parte da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
“Vô é um ídolo histórico do Atlético. Ajudou a fundar a base que é o clube, que hoje tem estádio e virou um clube internacional. Foi um dos primeiros profissionais mais bem pagos do futebol. O futebol não era visto de forma positiva. Era coisa de malandro, igual o samba. (…) O céu está em festa. Todo mundo lá comemorando: Kafunga, Guará, Nicola, Resende. Todo mundo feliz.”
Gabriel Januzzi, neto de Guará
Foram 168 gols em aproximadamente 200 jogos com a camisa preta e branca. O quarto maior artilheiro da história do Atlético marcou três dos 18 tentos anotados pelo time comandado por Floriano Peixoto no Torneio dos Campeões de 1937.
Na última sexta-feira (25/8), pela relevância histórica da competição – com embasamento, principalmente, na cobertura midiática da época -, a CBF reconheceu a conquista que sela o Galo como tricampeão brasileiro. A notícia foi devidamente comemorada pelos atleticanos e, é claro, pelos familiares de Guará.
“Todo mundo ligou um para o outro! Felizes, mandando mensagem, vendo vídeos. Foi muito bom. Os primos… Todo mundo se falando, as tias. Ficou todo mundo muito feliz”, contou o neto Gabriel à reportagem.
Gabriel não chegou a conviver com o avô, falecido em 1978, mas cresceu ouvindo histórias icônicas sobre o jovem atacante que encantava Belo Horizonte com seus gols. “Meu bisavô não queria que ele fosse jogador, mas ele começou bem em Ubá e chegou no Atlético aos 16, 17 anos. Morou debaixo do Estádio Antônio Carlos, em Lourdes. Era um outro futebol”, pontuou.
“Onde ele ia, todo mundo conversava com ele. Ele sentava nos bares e era reconhecido. Até hoje, nós familiares somos reconhecidos por algumas pessoas. ‘Seu avô era muito querido’, eu já ouvi várias vezes. Vô conseguiu superar esse preconceito com o futebol e se tornar um ótimo atacante”, prosseguiu.
Reconhecimento por uma história de sucesso
Filha de Guará, Kátia Januzzi endossou os relatos do sobrinho. Ela destacou o reconhecimento dos atleticanos com o tamanho do pai na centenária história do clube.
“A torcida atleticana é muito grande, e eu fico impressionada porque todo mundo com quem eu converso conhece o Guará”, revelou. Kátia também falou sobre a reação da família ao tomar conhecimento da notícia. “É mais um reconhecimento! Todo mundo ficou muito feliz. Ficaram doidos para ir amanhã no jogo. É um reconhecimento muito legal, depois de muitos anos”, disse.
A década de 1930 marcou um período de transição significativo no futebol brasileiro. Clubes romperam com a Confederação Brasileira de Desporto (CBD) para profissionalizar o exercício da profissão na Federação Brasileira de Futebol (FBF), e o Torneio dos Campeões de 1937 foi o primeiro expoente dessa nova era.
“É um reconhecimento muito válido, porque ajudou no processo de estabilização do profissionalismo no Brasil. Acabou simbolicamente com rixas de federações. Isso é um reconhecimento justo, porque a CBF já tinha reconhecido outros campeonatos”, argumentou Gabriel Januzzi.
Por fim, o neto do ídolo histórico do Atlético, agora campeão brasileiro, destacou a importância da unificação e do avivamento dessa memória para uma verdadeira eternização dessa página na história alvinegra.
“Vô é a referência histórica desse time junto com Kafunga (ex-goleiro). É muito importante para a gente não esquecer. A gente não pode esquecer nossa memória, nossa história. E contar essa história para os jovens é importante para que eles saibam da origem do clube, como era o futebol. Para não acharem que o futebol sempre foi isso, esse jogo milionário. Era uma coisa bem rústica, de jogo jogado, sem glamour em volta. Mas a partir daí eu acredito que os astros começaram a ter esse impacto na sociedade”, encerrou.
“Ele era um craque e uma estrela de renome. A gente ficou muito feliz por ele ter esse reconhecimento. E agora não tem jeito. Agora está na história com muita força para a gente cantar: ‘Somos campeões dos campeões’. Sempre que tem essa parte do hino a gente dá uma arrepiada. Agora com mais força do que já tinha antes.”
Gabriel Januzzi