A temporada de 2023 do Cruzeiro – a primeira após a volta à elite nacional – ficou marcada por momentos opostos. O clube sofreu com a falta de uma ‘casa própria’, teve fraco desempenho no Campeonato Mineiro e brigou até o fim contra novo rebaixamento à Série B do Brasileirão. Em meio a tudo isso, a Raposa ainda enfrentou dilemas que, teoricamente, não faziam parte do modelo de gestão da Sociedade Anônima do Futebol (SAF).
Veja, na retrospectiva abaixo, os momentos que marcaram o ano do Cruzeiro.
Impasse com o Mineirão
Antes mesmo de estrear como mandante no Estadual, o Cruzeiro havia rompido relações com a Minas Arena, concessionária que administra o Mineirão. Ronaldo Fenômeno, gestor da SAF celeste, anunciou que não jogaria no estádio em 2023 e escolheu o Independência como alternativa.
À época, Ronaldo criticou o trabalho da Minas Arena na gestão do Gigante da Pampulha e afirmou que o acordo com o governo de Minas era confortável para a empresa. O Cruzeiro pleiteava uma maior participação na arrecadação dos jogos com camarotes, estacionamento e bares, além de prioridade para uso do local.
‘Tropeço’ no Mineiro
A equipe estrelada sofreu no início da temporada e não cumpriu o objetivo traçado pela diretoria para o Mineiro, que era chegar à final. O Cruzeiro se classificou à semifinal aos trancos e barrancos após desempenho abaixo do esperado na fase de grupos: três vitórias, três empates e duas derrotas.
O time, então comandado pelo técnico Paulo Pezzolano, só conseguiu a vaga na última rodada, mas de nada adiantou. O Cruzeiro foi eliminado pelo América depois de dois reveses no mata-mata.
Saída de Pezzolano
A Raposa sofreu um duro golpe com a eliminação. Pezzolano anunciou a saída do clube logo após o jogo e, de certa forma, comprometeu parte do planejamento para a temporada. Ele deixou o cargo em 19 de março.
Emocionado na entrevista coletiva, o uruguaio explicou que enfrentava dificuldades para se concentrar em seu trabalho desde o fim de 2022. Segundo ele, o Cruzeiro precisava de um profissional que estivesse 1000%.
No entanto, na realidade, Pezzolano já havia comunicado à diretoria que queria partir para novos desafios em 2023, mas foi convencido a ficar e mantido no comando mesmo assim. Esse pode ter sido o primeiro erro da gestão SAF no ano.
Chegada de Pepa
Pepa chegou ao Cruzeiro com a missão de substituir o treinador campeão da Série B de 2022 e manter a equipe na Primeira Divisão. E nos primeiros jogos do Campeonato Brasileiro, tudo indiciou que o português teria sucesso na passagem pela Toca 2. Ele conseguiu quatro vitórias nas seis rodadas iniciais do torneio.
Primeiro jogo no Mineirão
Ainda em meio ao impasse com o Mineirão, o Cruzeiro só voltou a atuar no estádio em 10 de maio. Na ocasião, 51.846 cruzeirenses lotaram o Gigante da Pampulha para ‘matar a saudade’ e acompanharam a derrota por 2 a 0 para o Fluminense, pela 5ª rodada da Série A.
Antes disso, o Cruzeiro havia jogado em três estádios diferentes na condição de mandante. O time estrelado passou pelo Independência; pelo Kléber Andrade, em Cariacica, no Espírito Santo; e pela Arena do Jacaré, em Sete Lagoas.
Eliminação na Copa do Brasil
Pepa não conseguiu atingir outro objetivo esperado pela SAF: o de chegar nas quartas de final da Copa do Brasil. O Cruzeiro iniciou a principal competição mata-mata do país na terceira fase, diante do Náutico, e se deu bem. Entretanto, a empolgação durou pouco. A Raposa caiu nas oitavas para o Grêmio em pleno Mineirão.
Oscilação e queda de Pepa
Embora tenha tido um começo surpreendente no Cruzeiro, Pepa ‘pagou o pato’ pela queda de rendimento do time no Brasileirão. O treinador não resistiu à sequência de sete jogos sem vencer na competição e foi demitido em agosto.
Pepa dirigiu o Cruzeiro em 21 partidas no Brasileiro, com seis vitórias, sete empates e oito derrotas. Sob o comando do português, o time marcou 20 gols e sofreu 20. Ele deixou a equipe na 12ª posição, com 25 pontos.
Aposta frustrada em Zé Ricardo
O substituto de Pepa foi Zé Ricardo. A decisão do Cruzeiro em contratar o carioca não passou nem perto de ser unanimidade entre os torcedores. À época, os celestes se mobilizaram nas redes sociais contra o acerto com o profissional, mas não tiveram peso na escolha final da diretoria.
Zé chegou à Raposa com contrato até dezembro de 2024, o que nem passou perto de ser cumprido. Ele foi demitido pouco depois de dois meses de trabalho. Assumiu o time na 11ª posição, com 27 pontos, e tinha a missão de levar o Cruzeiro à próxima Copa Sul-Americana, mas pouco fez para atingir essa meta.
Zé Ricardo não resistiu à série negativa da equipe e muito menos à pressão da torcida pela entrada na zona de rebaixamento. Ele deixou o Cruzeiro na 17ª posição, com 38 pontos. Ao todo, foram três vitórias, dois empates e cinco derrotas (36,66% de aproveitamento).
Punição por invasão de campo
A derrota por 1 a 0 para o vice-lanterna Coritiba, na Vila Capanema, em Curitiba, pela 34ª rodada da Série A, foi o estopim para o fim da passagem de Zé pela Toca 2. O Cruzeiro foi muito apático no jogo que ficou marcado por invasão de torcedores no gramado e uma verdadeira ‘batalha campal’.
Irritados com o gol sofrido no fim do jogo, membros das torcidas organizadas do Cruzeiro invadiram o gramado. Na sequência, alguns dos torcedores coxa-brancas pularam o alambrado do estádio e iniciaram uma briga no meio-campo.
Jogadores dos dois times, as comissões técnicas e a equipe de arbitragem correram da confusão e se protegeram nos vestiários. O episódio de violência fez com o que a partida fosse paralisada e retomada após 30 minutos. A Polícia Militar do Paraná precisou intervir e conter a confusão.
Dias depois, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) puniu o Cruzeiro com jogos sem a presença de sua torcida pelas cenas da barbárie. O time celeste jogou três partidas consecutivas do Brasileirão – contra Fortaleza (fora), Vasco (casa) e Goiás (fora) – sem o apoio dos cruzeirenses nas arquibancadas.
Autuori salva Cruzeiro do rebaixamento
Sem um treinador para a reta final do Brasileiro, o Cruzeiro apostou em uma solução caseira. A diretoria convenceu o diretor técnico Paulo Autuori a assumir o time nos últimos seis jogos e deu certo. Ele teve aproveitamento de 55,5% nesses compromissos.
O Cruzeiro estava na 17ª posição, com 37 pontos, quando Autuori assumiu. A equipe tinha duas partidas a menos em relação aos concorrentes diretos na luta contra o rebaixamento à Segunda Divisão.
Autuori encerrou sua missão invicto. Ele conduziu os jogadores às vitórias contra Fortaleza (1 a 0) e Goiás (1 a 0), além de ter empatado com Vasco (2 a 2), Athletico-PR (1 a 1), Botafogo (0 a 0) e Palmeiras (1 a 1).
Classificação à Sul-Americana
O planejamento inicial da SAF previa que o Cruzeiro encerrasse o Brasileirão em 12º lugar, com 53 pontos, e garantido na Sul-Americana. Apesar de não ter alcançado a pontuação e nem colocação desejada, o clube terminou com a vaga garantida.
A participação da Raposa na competição em 2024 será a sétima na história. Os mineiros jogaram as edições de 2003, 2004, 2005, 2006, 2007 e 2017, mas todas sem sucesso.
‘Jejum’ no Mineirão em 2023
O Cruzeiro encerrou a temporada com os piores números do clube no Mineirão. Nunca antes a Raposa havia tido estatísticas tão baixas no Gigante da Pampulha. O estádio belo-horizontino foi palco de apenas um triunfo celeste neste ano.
De maio até dezembro, a equipe conseguiu uma vitória, sete empates e cinco derrotas – 25,6% de aproveitamento. Antes de 2023, o pior desempenho no Mineirão havia sido em 2021, quando venceu só sete partidas. Esses foram os únicos dois anos em que o clube não bateu a marca de dez vitórias no estádio.
Pior ataque do Brasileiro
O Cruzeiro também sofreu com outro problema neste ano. O time terminou o Brasileiro como dono do pior ataque: apenas 35 gols marcados em 38 rodadas. O setor de frente deixou a desejar.