O Superior Tribunal de Justiça Desportiva anunciou nesta quarta-feira (15/1) que acatou a denúncia e julgará sete ex-integrantes do Patrocinense, clube do Módulo II do Campeonato Mineiro. A investigação se deu por possível manipulação de resultados em jogo da Série D do Campeonato Brasileiro de 2024 por parte de três atletas, dois investidores e dois membros da comissão técnica.
Esses ex-profissionais do Patrocinense serão julgados – em data ainda não decidida – pelo STJD. Toda a denúncia se refere ao duelo entre Patrocinense e Inter de Limeira, em 1º de junho de 2024, pela 7ª rodada do grupo A7 da Série D. O duelo, no interior de São Paulo, terminou com a vitória dos donos da casa por 3 a 0.
Procurado pelo No Ataque, o presidente Roberto Avatar destacou que o clube mineiro não será julgado justamente por não estar envolvido com as irregularidades. O gestor deixou claro que o clube encerrou contrato com todos os participantes da denúncia nos dias seguintes à partida contra o Inter de Limeira.
Veja abaixo quem são as sete pessoas que serão julgadas e o porquê das acusações, segundo nota do STJD.
Richard Bala, ex-atleta do Patrocinense
Richard Bala foi protagonista de gol contra sofrido pelo Patrocinense. Foi o terceiro tento da partida, nos acréscimos do primeiro tempo, em um lance considerado anormal e suspeito. O zagueiro, sozinho na área, arrematou a bola contra sua própria meta. Em depoimento, o jogador negou os fatos, porém três envolvidos apontaram com convicção sua participação na manipulação do jogo, além da conclusão da Polícia Federal de unir os principais pontos que atestam a participação de Richard.
O atleta possuía contas em várias plataformas de apostas e há registros de conversas em que ele solicitava apostas em jogos do seu próprio time. Na partida em questão, Richard revelou a sua companheira que apostaria na derrota do Patrocinense por mais de 2,5 gols.
Felipe Gama, ex-atleta do Patrocinense
No minuto 27 da partida, o goleiro do Patrocinense não conseguiu afastar uma bola perdida, permitindo que o adversário ganhasse a bola e marcasse de curta distância abrindo o placar da partida. Em depoimento, os atletas, que também jogavam no clube mineiro, afirmaram que o goleiro gritou que a bola era dele e o próprio deixou o atleta adversário marcar o gol.
Em conversas de WhatsApp encontradas no celular do dirigente Anderson Ibrahin Rocha, foram extraídos elementos indicando a participação de Felipe na manipulação da partida em questão e também em jogos anteriores.
Dener, ex-atleta do Patrocinense
Escalado como lateral, o camisa 2 do Patrocinense foi apontado pela empresa responsável pela investigação como “pessoa de interesse”, por não ter acompanhado adequadamente o avanço do jogador adversário na segunda trave que resultou no segundo gol do jogo. No vídeo da partida é possível apontar a falha técnica do lateral que possibilitou a marcação do gol sem maiores problemas.
Em conversas no celular, Dener confirmou que o jogo havia sido entregue. Em depoimento o jogador afirmou que desconfiou que o goleiro Felipe e o lateral esquerdo Richard Bala podem ter recebido alguma vantagem ou promessa de vantagem.
Embora não haja prova da participação ativa de Dener no esquema de manipulação, o atleta tinha plena ciência do comportamento de outros envolvidos na partida e permaneceu omisso ao não relatar o ocorrido ao seu clube.
Estevam Soares, ex-treinador do Patrocinense
O treinador do Patrocinense na época teve o celular apreendido pela Polícia Federal, que encontrou mensagens entre o dirigente Anderson e Edivaldo Ramalho Da Silva afirmando que um esquema seguro de manipulação precisaria da participação do treinador.
Após ser demitido do Patrocinense, Estevam passou a cobrar de Anderson o valor de R$ 5 mil e demonstrou insatisfação com o repasse de responsabilidades entre Anderson, Iuri de Jesus e Conceição (suposto investidor que estava aportando capital no esquema). Em outra conversa Estevam envia áudio aparentando estar convicto da manipulação de resultados e afirma que o Patrocinense é uma máfia. As investigações indicam que o treinador detinha conhecimento do esquema, tendo contribuído diretamente através da escalação dos jogadores indicados por Anderson, como Rodolfo e Richard Bala.
Rodolfo “Dodô”, auxiliar técnico do Patrocinense
Apesar do nome do auxiliar não estar presente na lista inicial de suspeitos, no decorrer das investigações, as oitivas e material coletado do celular do dirigente Anderson Ibahin confirmaram a participação de Dodô no esquema de manipulação no jogo em debate e em partidas anteriores.
Os diálogos entre Dodô e Anderson são esclarecedores sobre o modus operandi. Em conversa com Anderson, fica clara a função do auxiliar no esquema criminoso, como responsável por fazer reuniões com jogadores cooptados e dar o sinal do que é para ser feito pelos jogadores dentro de campo.
Em depoimento, a PF recebeu a informação de que Dodô ameaçou o zagueiro Guilherme Neto para que contribuísse para a manipulação de resultado na partida contra o Inter de Limeira, informação confirmada em conversas obtidas entre o auxiliar e Anderson.
Anderson Ibrain Rocha, ex-dirigente do Patrocinense e sócio da empresa Air Golden
Apontado no relatório da Polícia Federal como figura-chave por ser responsável pelo agenciamento de atletas operadores do esquema criminoso. A empresa de Anderson é suspeita de cooptar jogadores para atuar no esquema de manipulação de partidas, gerando lucro ilícito para os investidores ligados à sociedade e, consequentemente, para os demais envolvidos.
As suspeitas tiveram início após contrato de gestão firmado entre o Patrocinense e a Air Golden, onde Anderson passou a exercer o cargo de dirigente e gestor do clube, responsável por contratar jogadores e treinador.
Marcos Vinicius da Conceição, investidor para aportes financeiros nas apostas esportivas
Diversos atletas apontaram a participação de Marcos Vinicius da Conceição do Nascimento, de codinome Conceição, no esquema de manipulação da partida citada. Conceição pagou os salários de todo o elenco do clube uma semana antes da partida investigada, além de presentear Richard Bala com um celular e mais R$ 5 mil após a partida com o Inter de Limeira.
Documentos dão conta de que Conceição também estava por trás da empresa Air Golden e atuava junto com Anderson no esquema de manipulação.