SÉRIE D

Clube da Série D diz que encerrará atividades caso não conquiste acesso

Acusado de manipular resultado de partida do Campeonato Amazonense, presidente de clube da Série D ameaça encerrar as atividades em 2025; entenda a situação
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Time amazonense que disputa a Série D do Campeonato Brasileiro, o Manauara disse, em nota, que encerrará as atividades caso não conquiste o acesso para a Terceira Divisão Nacional neste ano.

Presidente do clube, que foi fundado em novembro de 2020, Marcus Paulo Rodrigues de Souza redigiu comunicado publicado nas redes sociais do Manauara nessa quarta-feira (3/4). No texto, ele se defende de acusações de envolvimento em manipulação de resutado em partida do Campeonato Amazonense, diz que é perseguido pelo Tribunal de Justiça Desportiva do Amazonas (TJD-AM) e ameaça não disputar competições estaduais e nacionais em 2025 (mesmo já classificado para a Série D do ano que vem) caso a equipe não conquiste o acesso para a Série C do Brasileiro neste ano.

Entenda a situação

Marcus Souza foi acusado de manipular resultado da partida entre Parintins e Rio Negro, pela quarta rodada do segundo turno do Amazonense, disputada no Estádio Francisco Garcia (Chicão), em Rio Preto da Eva, no dia 19 de março.

Quarto árbitro da partida, Walter Francisco Nascimento relatou que o presidente do Manauara entrou no vestiário dos árbitros antes do apito inicial, mesmo sem autorização e sem ter ligação direta com o jogo, para desejar bom trabalho à equipe de arbitragem.

Ademais, Allefe, lateral-direito do Parintins, acusou Marcus de ter entrado no vestiário do Rio Negro antes da partida, que terminou com placar elástico a favor do Parintins: 7 a 0. Os jogadores do Rio Negro abandonaram o campo aos 25 minutos do segundo tempo, forçando que o apito final fosse antecipado.

Allefe relatou, em story no Instagram, que os atletas do time rival tiveram atitudes “suspeitas” durante a partida: “o time vem a campo com cinco jogadores no banco. Faz uma substituição no primeior tempo, as outras quatro assim que começa o segundo tempo. Depois disso, começa o anti-jogo treinador do treinador pedindo para jogador cair. Jogador que tinha acabado de entrar na partida atende o pedido e ainda sai de ambulância para fazer raio-x”.

Apesar do placar elástico, o time de Allefe foi prejudicado pelo abandono. Entenda porque.

Parintins perdeu liderança geral para o Manauara

Com a vitória por 7 a 0 sobre o Rio Negro, o Parintins chegou chegou aos 18 pontos na tabela geral do Amazonense e assumiu a liderança provisória. O líder da classificação geral (que soma as pontuações do primeiro e do segundo turno do campeonato) garante vaga na Série D 2025.

Foi o último jogo do Parintins na fase de classificação geral. O time ainda poderia ser ultrapassado justamente pelo Manauara, que ainda tinha dois jogos a disputar: contra o Rio Negro e contra o São Raimundo

Dias depois, o time enfrentou o Rio Negro e goleou por 8 a 0. Assim, chegou a 14 gols de saldo na tabela geral – justamente um a mais do que o Parintins, que tinha 13.

Essa diferença no saldo foi crucial, no final das contas. Depoois de golear o Rio Negro, o Manauara venceu o São Raimundo e finalizou a fase de classificação geral com os mesmos 18 pontos de Parintins e Manaus – mas ficou em primeiro graças ao saldo de gol melhor que o dos adversários, e garantiu vaga na Série D de 2025.

Acusação de manipulação de resultados

Após o suspeito abandono dos jogadores do Rio Negro no segundo tempo da partida contra o Parintins, quando o placar marcava 7 a 0, o Procurador Geral do TJD-AM, Ruy Mendonça, disse que via indícios de que a partida foi manipulada: “Há indícios fortíssimos de ocorrência de manipulação visando a alteração indevida do resultado e do curso da disputa de jogo, removendo da partida por completo a sua imprevisibilidade. A Procuradoria pedirá ao Tribunal a instauração de inquérito com vistas a apurar a existência de infração disciplinar e determinar a sua autoria. Os culpados serão punidos”.

Dias depois do jogo, o presidente do TJD-AM, Hugo Ribeiro, determinou suspensão preventiva de Marcus Souza, presidente do Manauara, pelo prazo de 15 dias úteis ou até o julgamento da denúncia de manipulação do resultado da partida entre Parintins e Rio Negro.

Manauara e Parintins se enfrentaram

Manauara e Parintins se enfrentaram na tarde dessa quarta-feira (3/4), pela semifinal do segundo turno do Amazonense, no Estádio da Colina, em Manaus.

O Parintins levou a melhor: venceu por 2 a 1 e se classificou à final do returno, que será contra o Manaus. Se vencê-la, o time garantirá vaga na Série D 2025 e disputará o título do estadual também contra o Amazonas, que foi o campeão do primeiro turno.

As duas vagas do Amazonense para a Quarta Divisão Nacional são reservadas aos campeões do primeiro e do segundo turno. Contudo, como o campeão do primeiro foi o Amazonas, que disputa a Série B neste ano e, no pior dos cenários, disputará a Série C de 2025, a vaga passou para o líder da classificação geral do estadual – o Manauara.

Outros desdobramentos de Manauara x Parintins

Após a partida entre Manauara e Parintins, o diretor executivo do Manauara, Luciano Mancha, publicou foto na delegacia e relatou que foi registrar boletim de ocorrência contra Cláudio Nobre, diretor de competições da Federação Amazonense de Futebol (FAF), que brigou com ele após o apito final. Luciano disse que foi “agredido e ameaçado de morte” por Cláudio.

O jogo também teve outro desdobramento: em campo, o goleiro Robert, do Parintins, disse ter ouvido gritos de “macaco” de um torcedor do Manauara que estava atrás do gol. A partida foi paralisada por 17 minutos e o torcedor foi identificado e retirado do estádio.

Após o recomeço, o atacante Léo Itaperuna, ex-Fluminense, abriu o placar para o Parintins e comemorou o gol com o braço erguido e punho cerrado para o alto, gesto antirracista. Depois, o volante Rafinha, do Manauara, empatou a partida e comemorou com o mesmo gesto antirracista. No final do jogo, o lateral Allefe, que acusou o presidente do adversário de invadir o vestiário do Rio Negro na partida que terminou com goleada por 7 a 0 e abandono dos jogadores, deu a vitória para o Parintins.

Veja a nota oficial do Manauara

Há dias venho sendo bombardeado na imprensa por uma suposta ação de interferência no resultado da partida entre Parintins e Rio Negro. Por conta dessa suposição fantasiosa e irresponsável, há um inquérito aberto e apesar de em momento nenhum nem eu nem o manauara termos sido intimados a nada, é claro que a motivação dele é a postagem irresponsável do atleta Aleffe, que postou em rede social que eu e meus diretores teríamos adentrado ao vestiário do Rio Negro. A afirmação do Aleffe é mentirosa. Nunca entrei no vestiário do Rio Negro, comrpovado por depoimentos de membros da comissão técnica do Rio Negro em entrevistas posteriores. Simplesmente passei pela área de acesso à tribuna de honra, convidado pelo diretor de competições Cláudio Nobre que interviu ao ver que eu estava sendo hostilizado no estádio e iria embora. Ao ir para a tribuna de honra vi a porta do vestiário dos árbitros aberta e simplesmente entrei para cumprimentar o diretor da CEAF Weden Cardoso, o fiz, e saí. Tudo sem qualquer animosidade, apenas atos de cortesia. Membros da comissão técnica do Rio Negro, em entrevista às rádios já disseram e repetiram que o time não tinha condições de ter jogado o campeonato. Que não recebiam salário, que não recebiam assistência médica, que não recebiam alimentação adequada, que viviam sob ameaça de despejo, que não treinavam e que não tiveram condições de suportar o peso de um gramado encharcado como o da partida contra o Parintins, partida essa que esteve sob ameaça de cancelamento por conta do estado do gramado. Uma tragédia anunciada na qual a responsabilidade é toda dos gestores do próprio Rio Negro. A sensação que se tem é que se busca um bode expiatório para mascarar uma incompetência geradora de uma situação inevitável.

Por conta dessa mentira irresponsável do Aleffe sou alvo de uma medida inominada que me puniu sem sequer me ouvir e num processo no qual todos os elementos conduzem pra que eu seja absolvido, e serei. Cumpro uma suspensão preventiva de 15 dias num processo em que ao julgar situação idêntica o STJD disse por 7 x 2 que não cabe suspensão preventiva. Na partida contra o nacional cheguei a ser impedido de entrar no estádio, precisando acionar meu departamento jurídico para usar assistir à partida na arquibancada, como qualquer torcedor pode fazer.

Hoje deve acontecer o depoimento do presidente do Rio Negro, e nos causa estranheza que não tenhamos tido notícia de convocação para depoimento nem do Aleffe, nem de atletas do Rio Negro, nem de membros da comissão técnica nem do Rio Negro nem de ninguém do Manauara. Simplesmente haverá o depoimento de alguém que não estava presente na data e que, pelo que se sabe, sequer acompanhava sua equipe em suas partidas. Simplesmente tivemos a informação do depoimento de alguém que tem todo interesse em desviar o foco de suas responsabilidades sobre uma participação sem qualquer profissionalismo, e de olho em receber o patrocínio público destinado aos clubes profissionais do Amazonas.

Infelizmente somente podemos concluir que esse depoimento, a ser dado por alguém sem qualquer credibilidade nem em sua agremiação nem no seio do desporto em geral, será direcionado a produzir mais factóides com o único fim de alimentar as ilações mentirosas e irresponsáveis feitas contra um desportista manauara.

Chama a atenção o fato de um membro da comissão técnica do Rio Negro ter dito ao vivo numa rádio que um dos diretores do Parintins lhe ofereceu dinheiro pra continuarem em campo, e absolutamente nenhuma providência foi tomada pelo TJD para sequer apurar isso. Ainda na mesma entrevista, o membro da comissão técnica do Rio Negro menciona que até membros da federação ofereceram promessa de ajuda financeira pra ajustar salários, o que também não foi objeto de qualquer apuração e nem tampouco de qualquer suspensão preventiva mostrando caráter direcionado do inquérito em curso.

Somente quem não ofereceu nada pra ninguém é que está sendo punido.

Antes disso, já vivia os dissabores de uma perseguição desmesurada quando meu filho, vice-presidente do Manauara foi denunciado por ter supostamente cuspido em direção ao árbitro. Encontramos o responsável, o levamos ao tribunal, ele confessou, e teve sua confissão corroborada por testemunha também presente, e a confissão foi solenemente ignorada sem que se apresentasse qualquer motivo para isso. Meu filho e vice-presidente foi condenado a mais de um ano de suspensão por um fato que não cometeu.

Ainda no espeque da perseguição, tivemos relatado na súmula da partida contra o nacional uma suposta invasão de campo por parte de familiares, o que é totalmente corriqueiro em comemorações, mas somente foi relatado no nosso jogo.

Consta ainda na súmula ter havido a invasão de dirigentes do Manauara, o que também não ocorreu e somente robustece a indizível perseguição ao nosso clube.

O que nos moveu a criar o Manauara foi o desejo de contribuir pra um futebol amazonense forte. Nunca recebemos apoio oficial. O suor do Manauara em campo é mantido com suor dos meus dias de trabalho. Pra exaltar a bandeira da nossa cidade, abdiquei de tempo com minha família. Pra exaltar a bandeira de nossa cidade abdiquei de tempo na minha empresa. Fiz renúncias e sacrifícios, mas à minha dignidade não renunciarei. Lutarei até as últimas instâncias pra desfazer as injustiças que eu e meu filho, vice-presidente, estamos sofrendo, porém essas provavelmente serão nossas últimas lutas no futebol, onde esperávamos lutar apenas dentro de campo, não dentro de tribunais.

O que nos moveu a fundar o Manauara foi fazer esporte, e infelizmente o que estamos vendo é a feitura de política. Dentro de campo já mostramos que sabemos como lutar, mas na política não sabemos e não queremos. Que fiquem os políticos com essa arena. Ela não nos interessa.

Somente entraremos em campo no ano de 2025, se conseguirmos em 2024 o acesso para a série C, o que sabemos ser muito difícil, tendo em vista a qualidade dos adversários. Em não conseguindo este acesso, não disputaremos mais o estadual e nem as competições nacionais, e formalizaremos esta decisão quando do tempo adequado.

Marcus Paulo Rodrigues de Souza
Presidente do Manauara Esporte Clube

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