ESPORTE NA MÍDIA

‘Cuca não entendeu do que se trata’, diz comentarista sobre caso de violência sexual

A jornalista Milly Lacombe afirmou que o treinador do Furacão deveria se engajar na luta contra a violência de gênero (assédio, estupro e abuso)
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A jornalista Milly Lacombe disse durante sua participação do Canal UOL que o técnico Cuca, contratado pelo Athletico-PR, deve voltar a trabalhar, mas deveria ter se posicionado e defendido a causa das mulheres na luta contra a violência de gênero (assédio, estupro e abuso).

Cuca havia sido condenado por coação e ato sexual com menor de idade quando atuava pelo Grêmio, em 1987, durante uma excursão na Suíça. Ele e outros jogadores receberam a sentença de 15 meses de prisão e multa de oito mil dólares, mas como nunca retornaram ao país europeu para cumpri-la, o crime prescreveu.

Em 2023, após ser demitido do Corinthians devido a pressão gerada pela torcida em função da condenação, Cuca diz ter buscado uma resolução para o caso. No início do ano, a Justiça da Suíça anulou a punição sob a justificativa de que o treinador não teve um representante legal para se defender no julgamento, que ocorreu em 1989.

“O Cuca tem sim direito a voltar a treinar, e o Cuca é um grande treinador. Isso dito, acho que tem uma diferença muito grande quando a gente aborda a questão pelo viés feminino ou pelo viés masculino. O Cuca e seus defensores nunca entenderam que isso não é sobre ele (Cuca). Isso é sobre uma vida que está acabada, o Cuca pode não ter feito, mas alguém foi estuprada, o Cuca pode não ter feito, mas uma vida acabou quando uma menina foi arrastada para o quarto, e ela tentou se matar depois. E ela tentou se matar, falhou nesta tentativa, mas pouco tempo depois ela morreu muito jovem”, disse Lacombe.

“Acho que essa história é muito diferente do ponto de vista masculino e feminino, e não estou colocando entre homens e mulheres, porque sei que tem mulheres que não entendem e homens que entendem. O que alguns chamam de noite de farra para nós é a morte, mesmo que a gente não morra, a gente nunca mais vive, uma mulher abusada, estuprada, assediada acaba um pouco no ato do abuso, do estupro e do assédio”, acrescentou.

A jornalista falou sobre as diferenças de comportamento entre os gêneros na sociedade. “Então, quando no nascimento falam se é menino ou menina está sentenciada a nossa sorte. Se é menino vai ser criado para pegar muitos, o capital social virá de quantas ele pegou. E a menina vai ser educada para ser bela, recatada e do lar, e vão falar para a gente: ‘fecha essa perninha, não usa saia, não bebe, porque se acontecer alguma coisa a culpada é sua’. Esse é o recado. Não falam: ‘meninos não estuprem’; falam: ‘meninas não se deixem estuprar'”.

Recado para Cuca

Lacombe enviou recado para o treinador. “O Cuca não entendeu do que se trata, o Cuca nunca fez uma referência à menina, ele não precisa falar o que aconteceu. Mas ele poderia falar mais ou menos assim: ‘Aquilo que aconteceu aquela noite é uma coisa da qual eu me arrependo, eu não fiz, mas estava lá e vou lutar a minha vida inteira para fazer com que mulheres sejam emancipadas, para fazer com que mulheres possam andar na rua e se sentir seguras, para fazer com que mulheres entrem em transporte público e não sejam abusadas, para fazer com que nenhuma outra criança de 13 anos tente tirar a própria vida por ser abusada, estuprada ou assediada. Eu vou investir um pouco dos meus milhões aqui na lei Maria da Penha, vou trabalhar umas horas por dia aqui socialmente’. A gente precisa de aliados, mas não é sobre o Cuca, é sobre a gente”, finalizou Lacombe.

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