“Se eu pensar só em mim, diria: ‘esquece lá embaixo (as categorias menores), vou montar time para ser campeão’. Mas não, penso no clube. Se daqui a seis, sete anos, jogadores aparecerem e derem frutos, posso não estar mais aqui, mas saberei que ajudei.” Essa é a prioridade de Erasmo Damiani nas categorias de base do Atlético. Em entrevista exclusiva ao No Ataque, o gerente do setor do clube, que ocupa o cargo desde 2021, explicou o que mudou desde sua chegada, projetou expansão da captação para mercados estrangeiros, opinou sobre o que diferencia o Galo das outras potências do país, como o Palmeiras, e comentou outros diversos aspectos que tangem a formação do clube.
Para Damiani, a principal mudança implementada foi o “olhar para a iniciação”. Diferentemente de gestões passadas, Erasmo concentra foco maior na captação de atletas para as categorias mais baixas, que englobam do Sub-11 ao Sub-14. Isso, na visão dele, ajuda o Atlético a competir com “os maiores do Brasil” e pode dar bons frutos para o clube no futuro.
“Quando cheguei aqui, o Atlético não tinha um olhar para a iniciação. Quanto mais cedo eu começar o processo de observar os atletas, melhor. Com um atleta de 10, 11, 12 anos eu consigo competir financeiramente com os maiores do Brasil hoje, os times que compram jogadores na base, de igual para igual agora. Mas se eu esperar o atleta completar 15… por exemplo, o Gabriel Veneno, se esperasse ele completar 15 ou 16 anos, ia ter que pagar quanto para tê-lo no clube?
Erasmo Damiani
Veneno, ponta-direita de 15 anos que acumula convocações para a Seleção Brasileira Sub-15 e é visto como uma das principais joias do clube, é o maior exemplo dessa mudança, para Damiani, que explicou como o jovem baiano chegou ao clube: “Ele foi jogar a Copa 2 de Julho (tradicional torneio de base da Bahia), o Dennys Dilettoso (coordenador de captação do Atlético) viu, gostou e já foi direto nele. Quando chegou o quarto jogo, quando todos queriam ir atrás dele, nós já tínhamos fechado com o clube dele”.
“Temos que ter essa criatividade de chegar na frente de alguns clubes, porque na hora que colocar dinheiro, nós estamos perdendo, ainda não temos condições de colocar dinheiro para adquirir jogadores.”
Exemplo do Palmeiras
Ex-gerente de base do Palmeiras, Damiani opinou que o “olhar para a iniciação” implementado por ele no alviverde foi um dos fatores cruciais para que o clube paulista se tornasse, no futuro, a maior potência de base do país, com sucessivas vendas milionárias de jovens, como os atacantes Endrick, vendido para o Real Madrid (operação total girou em torno de 72 milhões de euros, cerca de R$ 409 milhões) e Estêvão, vendido ao Chelsea (operação total girou em torno de 61,5 milhões de euros, cerca de R$ 356,7 milhões); e o zagueiro Vitor Reis, vendido ao Manchester City por 37 milhões de euros (R$ 232 milhões).
“Pegamos o Palmeiras em um momento crítico, com o Paulo Nobre presidente. Lá, fizemos um ‘trabalho sujo’, uma reformulação enorme, e não tinha dinheiro para nada, tínhamos que economizar muito. Começamos o processo de implementação das categorias Sub-11, Sub-12 e Sub-13. O Palmeiras tinha o futsal e não tinha o futebol de campo (nessas categorias), então o atleta saía dali e ia para o Santos, o São Paulo.”
“Começamos todo esse processo (de ascensão da base) com a iniciação, depois chegou o João Paulo Pimenta (atual diretor de base do Palmeiras, que substituiu Damiani) e desenvolveu mais”, opinou o dirigente do Atlético.
Além disso, Damiani considera que o “equilíbrio da parte financeira do Palmeiras promovido por Paulo Nobre (ex-presidente do clube paulista)” também foi crucial, porque, a partir disso, o clube paulista “começou a investir em jogadores de base. Ele citou o exemplo do atacante Estêvão, que deixou o Cruzeiro com 14 anos após imbróglio judicial e fechou com o alviverde.
“O Estêvão veio ‘de graça’ para o Palmeiras, mas o clube pagou quantias altas para o empresário e o pai dele, levanto em conta que era um atleta de 15 anos. Internamente, no clube, perguntam pra mim: ‘Mas o que Palmeiras faz e nós não conseguimos fazer?’. Um dia, numa reunião, fiz uma pergunta: ‘vocês pagariam 35, 40 mil reais para um menino de 14, 15 anos?’. Todos dizem: ‘Não, sem condições’. Pois é, nossa folha da Sub-15 e da Sub-14 é de 18 mil, enquanto o Palmeiras paga por um jogador 35 mil de salário”, afirmou.
Expansão para mercados estrangeiros
Cada vez mais, vê-se clubes brasileiros investindo em contratações de jogadores estrangeiros já para as categorias de base – seja de atletas sul-americanos ou até de atletas nascidos no continente africano, que têm ganhado mais espaço recentemente, com representantes no Flamengo, no São Paulo e no Santos.
Damiani garante que, com o mercado nacional “inflacionado até na base”, o Atlético olha para a América do Sul, a África e até mesmo a Europa e pretende “trazer alguns jogadores de fora do país” em 2025.
“Estamos analisando, porque tem muitas questões de trâmite devido à idade, hoje um atleta estrangeiro menor de idade, não pode vir em definitivo, mas pode ficar três meses treinando com a gente para observarmos e depois voltar para o seu país. Mas temos que olhar alguns mercados que são interessantes, o futebol brasileiro está inflacionado até na base, tem clube pagando alto para comprar jogadores, então temos que olhar países sul-americanos, africanos e até europeus”, afirmou.
Atlético chegou perto de contratar jogador africano
Erasmo vê com bons olhos o processo de clubes brasileiros expandirem horizontes e investirem em atletas africanos. Ele garantiu que o Atlético mapeia jogadores do continente, que já foi visitado diversas vezes por profissionais da base alvinegra: “O Victor Aurélio, quando era o nosso coordenador de captação, chegou a ir para África; o Dennys, que hoje é o nosso coordenador, já foi duas vezes e está indo pela terceira vez”.
Damiani ainda contou que o Galo esteve próximo de um jogador nascido na África, mas perdeu a corrida pela contratação do jogador para um clube europeu: “Tinha até um jogador que tínhamos mapeado para cá, mas o Real Bétis, da Espanha, contratou ele porque colocou dinheiro na frente, colocou Euro”.
“Estamos mapeando jogadores (do continente africano). Mas precisaremos de paciência porque estamos trazendo o atleta de fora, cultura diferente, língua diferente, tudo diferente. Se vem uma atleta africano que fala língua francesa, tem que ter um profissional para ajudá-lo a aprender o português mas também que fale a língua dele, para que ele se sinta seguro”, concluiu.
Damiani projeta boas revelações para o Atlético no futuro
Erasmo Damiani projeta uma boa “safra” de revelações do Atlético entre 2028 e 2030, anos em que o clube “espera ter vida própria”, segundo “planejamento estratégico” citado por ele que vem sendo desenvolvido “desde o ano passado pela SAF, com Bruno Muzzi no comando”.
“Quando falo de planejamento estratégico para 2028, 2030, não quero dizer que só vamos ter jogadores nesses anos, mas que o jogador que chegou no clube com 12, 13, 14 anos, em 2022, 2023, vai ter 18 anos em 2028, e vai estar próximo de estar pronto para performar na equipe principal ou para render financeiramente para o clube”, afirmou.
Damiani considera que especialmente as categorias Sub-15, Sub-16 e Sub-17 do Galinho têm “sequência de bons jogadores”, que podem render bons frutos financeira e esportivamente para o Atlético.
“No ano passado, tivemos 10 jogadores convocados para a Seleção Brasileira nas categorias de base, coisa que o Atlético não tinha há muito tempo. Na Sub-15 tivemos três: Gomide (meio-campista), Veneno e Guilherme (zagueiro, capitão da Seleção). Ìndio e João Mathias (meio-campistas) foram para a Sub-16, Assef foi para a Sub-17. Temos vários jogadores nos quais acreditamos e vamos fazer de tudo para que eles desenvolvam.”
“Temos dois jogadores titulares na Seleção que está no Sul-Americano Sub-20 (Robert, goleiro, e Alisson, atacante), a última vez que tínhamos ido um jogador titular nessa competição foi em 2019, com o lateral-direito Emerson Royal. Então, de 2021 para 2025, antes não tínhamos jogadores na Seleção e agora começamos a ter”, complementou.
Leia a entrevista na íntegra
– O Atlético iniciou o planejamento para a atual temporada ainda no ano passado, já que acertou a ida para os EUA. Diante disso, como foram os bastidores da escolha dos times que iriam disputar a Copinha e o Mineiro?
“Em novembro, quando teve a inscrição da Copa São Paulo, eu mantinha contato quase que diariamente com o Victor e com o pessoal do profissional para entender como seria a programação para janeiro. Até porque a Copa São Paulo, em novembro, eu preciso passar uma relação de 25 atletas e depois não posso substituí-los. Se eu levasse 25 que estavam no jogo contra o Democrata-GV eu não teria um time para jogar a Copinha.
“Nós conversamos bastante, tinham ainda os jogos da Copa do Brasil e da Copa Libertadores, então estava tudo muito incerto do que aconteceria em janeiro para o Galo. Então fizemos várias reuniões, o presidente participou de algumas, para definirmos se iríamos com uma equipe de juniores para começar o Estadual e a Copinha se iríamos com um time mais novo.
“Quando chegou mais perto de afunilar, da inscrição, batemos o martelo. Vai ficar um grupo para começar o Estadual e outro vai para a Copinha. Em uma semana montamos o time que ficaria para o Estadual e outro que iria para a Copinha.”
– Na Copinha o time teve bons momentos, com Pedro Cobra, Índio, Pfeifer e Pedro Ataíde sendo os grandes destaques do time na competição. Qual a importância de dar visibilidade aos atletas mais jovens? Alguns serão promovidos ao sub-20?
“Foi uma surpresa positiva a Copinha. Claro que queríamos ir mais longe, todos querem, mas acho que o ponto principal é isso. Nós terminamos os jogos com seis jogadores com 16 anos, a segunda menor média da Copinha. Tivemos Vitão titular, Índio titular, ambos com 16 anos, Pedro Cobra jogando sua primeira Copa.
“Ao mesmo tempo que tivemos 23 jogadores que estrearam no Mineirão contra o Democrata-GV, na Copinha 16 nunca tinha disputado a competição. É um saldo positivo por isso, porque conseguimos ver alguns jogadores que nós, no ano passado, por ter 15 anos, 16 anos, terminando a idade de juvenil e alguns que estavam nos juniores, mas 2006 (nasceram nesse ano), como o Lucas, lateral-direito, Pedro, lateral-esquerdo, jogadores que tiveram pouca minutagem. A Copinha serviu muito para vermos esses jogadores. Pelo resultado não foi o que queríamos, mas pelo lado de evolução e do que podem evoluir esses atletas no futuro, a Copinha foi extremamente positiva.
“Claro que os atletas de 16 anos que se sobressaíram, como o Índio e o Vitão, é antecipar um pouco e eles estarem no juniores (sub-20), como alguns outros atletas que no decorrer do ano podemos puxar para vivenciar o Brasileiro sub-20, uma situação diferente, para que eles possam amadurecer, como está acontecendo nesses jogos do profissional.
“Na verdade o ano está acabando para esses atletas. A Copa São Paulo é o término da categoria juniores. Esses atletas estão no limite deles.”
– Já o time do Mineiro começou com dois empates nas duas primeiras rodadas. Qual avaliação você faz do desempenho do time nesses jogos e o que esperar para o jogo contra o Pouso Alegre?
“O torcedor é ansioso. Ao mesmo tempo que ele quer que o atleta da base esteja no profissional, ao mesmo tempo no primeiro erro do atleta ele já faz uma crítica. O Savinho sofreu muito com o torcedor do Atlético. Eu vivenciei no Mineirão, ele sofreu. Hoje é fácil, ‘ah o Savinho’, mas naquele momento…
A paciência que eles têm com alguns jogadores de 30 anos, não têm com meninos de 16 a 18 anos, que ainda está em um período de maturação, está em um período de ganho muscular, de lastro de treinamento.
Diante disso, nós temos sempre que controlar o seguinte: hoje a rede social faz parte, e eles mais ainda. Quando acaba o jogo vão abrir o celular para ver. E nisso temos que trabalhar a cabeça o seguinte: o torcedor vai criticar, vão ter mais críticas do que elogios. Temos que ter o discernimento de entender o que é uma crítica positiva e uma negativa e não se abater.
É uma profissão que nós escolhemos e é isso. Futebol todo mundo conhece, sabe como funciona. Se deixar uma pessoa durante meio dia para ver como funciona, telefone não para de tocar, todo mundo conversando, informações. As pessoas vão ver que não é fácil o dia a dia do futebol.
O processo em cima desses atletas passa a ser positivo nesses jogos. Nem o Robert jogou, Delfim foi banco, Paulo também. Olha a grandeza que é jogar no Mineirão, templo sagrado do futebol brasileiro, de Minas. Sete mil torcedores, se juntarmos desde 2021, que foi quando cheguei, se pegarmos todos os jogos da base, do sub-15 ao sub-20, não tivemos sete mil torcedores.
Aproveito o momento para agradecer a torcida, que apoiou e cantou os 90 minutos, incentivou. Acho que eles sentiram que ali são jovens. Hoje no Brasil, Flamengo, Botafogo e Galo estão jogando com atletas mais jovens, mas o Flamengo tem alguns mais experientes como Pablo, Carlinhos, o Botafogo também. O nosso não. O jogador mais velho do nosso time tem 23 anos. Ontem a média (de idade) foi de 19.8, que saiu jogando.
Tem que dar um pouco de tempo, e é um amadurecimento. Esses três jogos para eles serão fundamentais, esse terceiro jogo também, vão estar um pouco mais soltos. Pegamos uma chave com dois jogos fora de casa.
O jogo passado (primeira rodada) aquela temperatura desumana, jogo 11h da manhã. Mas faz parte para o crescimento e amadurecimento deles. O principal é isso, mostrarmos que alguns jogadores, claro que não todos, vão ter essa oportunidade, mas que têm leque para chegar em um futuro próximo no profissional.”
– Tem possibilidade desses atletas serem utilizados com o retorno do profissional ou eles entram de férias?
“Nós conversamos com o Victor quase todos os dias, com o Lucas (Gonçalves, auxiliar) também. Têm funcionários do profissional que estão aqui fazendo recorte dos jogos, dos treinos, mandando para a comissão (técnica). Existe essa sintonia entre nós e o profissional, e aí no retorno vamos saber se alguns vão permanecer ou não, se serão dados alguns dias ou não. Vamos saber com o retorno.”
– O Guilherme Dalla Déa é considerado por muitos um dos melhores técnicos de base do Brasil. Já o Léo Silva é um grande ídolo que está começando agora. Como é o trabalho deles no dia a dia, qual o diferencial de cada um? Acredita que o Léo possa ser o sucessor do Dalla Déa?
“Eu levei o Gui para a Seleção em 2015, estava entre ele o Zé Ricardo, que está no profissional hoje. Eu o conheço, sei a forma que ele trabalha, e a formação. Eu sou de uma linha que penso sempre na formação, não no resultado.
Sei que às vezes coloco meu trabalho em risco porque às vezes você não ganha, mas daqui a três, cinco anos, mesmo que eu não esteja no clube, vou falar: ‘esse atleta começou com a gente lá embaixo, nós trabalhamos, acreditávamos no desenvolvimento, então o Guilherme trabalha muito isso.
O Léo Silva está no segundo ano, dois anos e meio como auxiliar. Um contraponto do Gui, um cara que já vivenciou lá dentro, tem todo um contexto dentro do Atlético, um multicampeão, capitão, então também passa muitas coisas para os atletas. Essa sintonia entre eles, a conversa, é fundamental para que possamos desenvolver esses atletas. Cada um fazendo a sua parte.
O gol contra o Democrata-GV foi uma jogada ensaiada do Léo Silva, a linha defensiva é o Léo que trabalha muito. O gol foi de uma jogada que eles treinam desde que começamos a preparação. Caminha sim, no futuro, para ser treinador do sub-20, do sub-17, passar de auxiliar para ser treinador em alguma categoria, a depender do andamento do clube.”
– Falando agora de alguns garotos de forma mais individual. A começar pelo Iseppe. Como está a situação dele, que teve alterações nos exames cardiológicos? Existe um prazo para recuperação?
“O Iseppe foi fazer o exame de rotina do profissional, alguns atletas fizeram, como o David Kauã, e aí foi constatada uma alteração. Nós preferimos ser conservadores do que atropelar o processo. O departamento médico do profissional está bem atento a isso, conversamos bastante.
Estamos entendendo um pouco mais o que aconteceu, se é uma questão de idade, da formação. Mas entre colocá-lo para jogar, poderia estar rendendo, mas se no domingo ele passa mal naquele calor em Ubá, ‘poxa, nós fizemos o exame’.
Nós precisamos ser conservadores, mas pensar que temos um atleta de 18 anos ainda, que tem uma carreira muito grande pela frente para se desenvolver. Está fazendo falta sim nesse grupo, porque já é um jogador mais rodado, com experiência, característica diferente que nós temos, mas não estamos pensando a curto prazo, mas sim a longo.
Ele está fazendo um exame de 14 dias. Está com um aparelho de 14 dias, após isso o clube e o departamento médico vão poder entender qual o procedimento. Estamos sendo conservadores, pensando no desenvolvimento do atleta.”
– Outra promessa do Atlético que chama muito atenção é o Gabriel Veneno, que tem apenas 15 anos. Muitos torcedores já gostariam de ver ele no time da Copinha. Por que ele ficou de fora da competição e qual o planejamento do clube para o jogador neste ano? Sub-17 já é uma realidade? Ele atrai o interesse de times da Europa?
“Isso foi muito questionado, porque ele não foi (para a Copinha). Se vamos com uma equipe mais madura para a Copinha, o Gabriel estaria na relação. Uma coisa é colocarmos ele para jogarmos 15, 20 minutos, outra coisa é você ter que jogar com 15 anos 60 minutos, 50, e ter que entrar daqui a pouco para decidir.”
Nosso time que foi na Copinha é um time novo, tínhamos dois jogadores titulares com 16 anos, treinávamos com seis jogadores de 16 anos, daqui a pouco eu teria mais um com 15.
Pensamos que o melhor para ele se desenvolver era melhor ele ir para a Espanha, porque também é um ativo do clube, e que ele se prepare nesse ano. Daqui a pouco tem o sub-17, e aí sim em um processo de evolução.
Muitos jogadores da Copinha não tinham jogado o ano todo, então se colocássemos ele lá, daqui a pouco estaríamos, ao invés de ajudá-lo e pensando no clube, estaríamos o prejudicando, porque tem essa cobrança, essa ansiedade. Temos que trabalhar aos poucos para que ele possa se desenvolver.
Mesma situação, foi um atleta que chegou aqui em setembro de 2023. Está em um processo ainda de crescimento e desenvolvimento. Ele veio de uma escolinha, tem treinado fundamentos, aprendendo um pouco mais, tendo discernimento da parte tática. Agora a parte técnica deixamos livre, aquele caos organizado quando tiver a bola no pé.
E quanto ao interesse europeu, sempre tem clube perguntando. No Brasil sempre têm muitos observadores, eles vão nos jogos, acompanham, sempre perguntam como é o dia a dia, o fora de campo, então existe sim um monitoramento, assim como outros atletas dentro do clube.”
E como o clube pode se proteger desse assédio?
“Nós só podemos fazer o contrato profissional quando ele completar 16 anos. Hoje a grande maioria dos clubes de fora respeitam o processo. Daqui a pouco, fazendo uma suposição. Ele completou 16 anos e tem um clube de fora querendo, nós profissionalizamos, e aí o clube já faz a proposta, como foi feito com o Estevão (no Palmeiras). A nossa segurança passa a ser a partir do momento que o atleta tem o contrato profissional.”
“(No Brasil) é uma decisão do jogador, mas aí existe uma multa de 200 vezes o que o clube gastou com ele durante a formação. Às vezes ele passa a ser caro. O primeiro contrato profissional a prioridade é minha, e na renovação também. O clube passa a estar seguro a partir do primeiro contrato profissional. Mesmo que ele não queira, eu sempre vou ter a prioridade.”
“Nós temos um pouco de segurança nessa questão, e quem representa os atletas sempre fala: ‘vamos deixar o atleta crescer no processo em que ele está, porque já conhece o clube, a estrutura’. É um trabalho diário com os empresários, família, hoje pai e mãe participam muito do processo. São conversas diárias com vários representantes, porque temos quase 300 atletas na base do clube.”
Um outro atleta que se destacou muito na base mas não conseguiu se firmar no profissional foi o Isaac, que está emprestado ao Nacional. Na sua visão, o que faltou para ele ter um melhor rendimento?
“O Isaac na base sempre produziu, claro, sempre tendo que melhorar algumas coisas. É um atleta que foi para o profissional, teve um problema na questão da renovação de contrato, deu um problema com os empresários, que acertaram uma coisa e depois sumiram, não vinham.
Houve um desgaste nessa questão que quem se prejudicou foi o atleta. Eu falei um dia, conversei com o pai, com ele, falei que quem sai prejudicado com isso é seu filho, porque é uma briga desnecessária.
Ele entrou pouco com o Coudet, até na Libertadores, no Mineirão. Aí é aquela história, todo mundo, ‘ah, não foi bem’. E os meninos às vezes sentem isso. Acho que o clube entendeu que seria bom ele vivenciar uma outra escola.
É a mesma situação do Maykon, lateral-esquerdo 2005 do Noroeste, que é nosso. Está jogando o Campeonato Paulista, jogou contra o Palmeiras. Às vezes pensamos em dar oportunidade para esse atleta em outro lugar para que ele possa amadurecer e voltar para o profissional do Atlético não como opção, mas como um jogador pronto para estar desenvolvendo no dia a dia.”
O Vitinho foi emprestado ao Dnipro, da Ucrânia, no ano passado. Você pode explicar qual foi o pensamento do clube com essa negociação, por que o Atlético decidiu emprestar ele para um clube tão distante? Conte um pouco dos bastidores.
“Nossos atletas são monitorados. Às vezes aparece uma oportunidade que é boa para o clube, boa para o atleta, e daqui a pouco, ah o Vitinho está jogando no juniores, já é o terceiro ano, não tem mais o que extrair dele, o profissional com o elenco que tem não é fácil chegar lá e já cravar.
O grande problema é que ele foi para um clube em um país onde começou uma guerra, porque a Ucrânia, o Shakhtar, tem muito brasileiro que vai para lá e desenvolve, vários jogadores viraram, produziram no profissional.
É mais um pensamento do profissional, que nesse momento ele não está apto para estar no time de cima, então vamos emprestá-lo para ele se desenvolver lá, jogar, ser titular no profissional, porque é muito diferente.
No jogo contra o Democrata-GV, se temos quatro jogadores mais velhos, seria um jogo diferente, mas são todos da mesma idade. Às vezes procuramos isso. Depende da oportunidade do atleta, da oportunidade para o clube, e analisamos se é interessante ou não o empréstimo ou daqui a pouco até um negócio futuro.”
Ainda dentro disso, como o clube trabalha nessa transição de jogadores, até mesmo na base? Alguns torcedores que acompanham mais a base apontam que há uma certa demora em subir atletas de categoria, como o Iseppe, o Veneno (sub-17), Índio (sub-20). Como é feita essa avaliação?
“Interessante a pergunta. Quando cheguei em 2021 tinha semanalmente, e até hoje tem com o Victor, mas com o Caetano trocávamos muitas informações. E eles conhecem os atletas pelo nome. O Rodrigo foi várias vezes ver jogos nossos no sub-15, no sub-17. O nosso processo sempre foi de passar informações. O Rubens, final de 2021, foi um que de tanto falarmos.”
E até aquele momento existia um processo no Atlético, uma transição, não era uma transição correta. A partir de 2022 melhorou mais ainda porque criamos um canal via Whatsapp. O profissional começou a utilizar muitos atletas da base para treinamento. O sub-17 treinava contra o profissional, o sub-20 também, às vezes pediam o jogador pelo nome, porque começaram a conhecer pelo nome.”
O Alisson foi um processo, ficou mais de um ano mais treinando do que jogando, e hoje está caminhando para fazer parte da equipe principal e dependendo ser até titular.”
Hoje essa sintonia é fundamental. O profissional não chama, quero um lateral-direito, um meia, não, fala por nome: eu quero o Iseppe, o Índio, o Vitão, o David Kauã, hoje no treino queremos esses jogadores, hoje o treino vai ser diferente, traz o time titular do sub-17.”
Hoje tem um canal mais transparente. Temos um canal dos analistas de desempenho, então todo jogo há um recorte. Se perguntar, se o Cuca quiser as ações defensivas do Iseppe, vamos ter o recorte, eles também, as ações ofensivas, os pontos positivos e negativos, o que precisa melhorar. Quando ele chegar lá, já tem o mapeamento do que é o atleta.”
No ano passado o clube adquiriu, e sabemos da situação que o Galo vive, hoje temos o GPS padronizado do profissional até o sub-14. Para a parte da fisiologia, da preparação física, é fundamental, porque eles têm todos dos dados da minutagem.”
Nós tínhamos um problema porque tínhamos um aparelho diferente no profissional. Por exemplo, o Louback correu 12km, mas no aparelho dava 9km, mas poxa, ele correu pouco, a média do profissional é 11km, então isso está padronizado. Você consegue ter mais dados para ter o desenvolvimento do atleta para chegar ao profissional.”
Rubens se destacou muito no Sub-20 como meia, por dentro, mas no profissional nunca jogou nessa posição. Você acha que isso pode ter sido prejudicial pra ele?
“O jogador hoje não pode jogar só em uma função, tem que fazer outras, o futebol hoje exige isso. Na base eu falo muito: “Não podemos enquadrar que o menino é só lateral-direito, ou esquerdo, temos que colocá-los em outras funções para desenvolver melhor. O Rubens fez o lado esquerdo todo (lateral e meia) na base, e no treino, com o Turco, precisava de lateral-esquerdo para jogo contra o Brasiliense porque o Arana estava na Seleção, e ele foi e deu conta. Aí é o ‘feeling’ do treinador do profissional, vai do olhar de quem está no profissional. Nossa função é passar as informações de como ele foi na categoria de base.
O Atlético tem o caso do Bernard, que era LD, aí foi jogar no Democrata, o Micale já começou a colocar ele à frente, mas ele ainda voltou pro Galo lateral, no profissional, com o Dorival, aí o Cuca colocou ele de ponta e sabemos o que aconteceu. Às vezes é o olhar do treinador do profissional para o desempenho do atleta no dia-a-dia. A partir do momento em que ele sai de baixo e vai para o profissional, nós não temos mais o controle dele. E o desenvolvimento dele dentro do treinamento profissional. Sempre falo pra eles que eles ainda não são profissionais, que eles tão indo lá para serem avaliados, então dêem a vida no treino, porque a primeira impressão é a que fica. O Paulo Vitor foi assim, ainda não tinha jogado um jogo oficial como titular pelos juniores e já foi puxado pelo Coudet pro time principal.”
O Atlético hoje trabalha com um time sub-23, certo? Qual a sua avaliação sobre essa categoria? A tendência é que isso continue em 2025, qual o planejamento do clube para essa categoria?
“Ano passado jogamos o Brasileiro Sub-23 com jogadores sub-20, só Robert e Delfim desciam às vezes. Não temos calendário no Brasil pra uma competição Sub-23, tenho que trabalhar com o Sub-20. Tínhamos que antecipar alguns atletas por isso. No ano passado jogamos o Sub-23 porque entendemos que precisávamos que os atletas amadurecem mais, jogamos contra Botafogo, CRB, Vitória que realmente eram Sub-23. E muitos estão sentindo menos esses 2 jogos do Mineiro porque já jogaram uma competição com nível maior de lastro. Ainda na base, as vezes você fala ‘ah, mas ele tem 18 anos” mas ele só vai fazer 19 em dezembro, ele está mais próximo da categoria mais baixa do que do profissional, é muita diferença ainda nesse processo de maturação dos atletas, sabendo sempre que estamos lidando com base, no profissional os jogadores chegam e os torcedores acham que tem que ter o mesmo lastro que Arana, Hulk, mas não, esses meninos ainda estão pegando lastros de treinamento.“
A base do Atlético tem revelado muitos goleiros nos últimos anos, como Cleiton, Matheus Mendes, Gabriel Delfim, Robert, Pedro Cobra. Qual o segredo e como trabalhar para manter esses jovens no clube ou saber o momento certo de vender, emprestar… E o Robert, pode ser promovido ao profissional com a saída do Mendes para o América?
“A gente sempre fala ‘escola de goleiros’. Eu trabalhei num clube que eu brincava que era ‘escola de goleiros’, mas era uma escola pública e sucateada. Mas no Atlético eu diria que é uma escola bem conceituada, trabalho muito bem feito no desenvolvimento, a sincronia base-profissional. O Danilo, como treinador de goleiros do profissional, é responsável por todos os treinadores de goleiros das categorias menores. Então hoje, da iniciação ao sub-20, todos tão ligados ao Danilo. Ele também recebe os recortes dos treinos, os meninos do sub-26 às vezes treinam com o profissional, o Kaio, de 16 anos, tá nos EUA.“
Por que o Kaio?
“Tinha Copinha e Mineiro. Aí o Delfim desce para jogar, tem o Pedro Cobra, ainda tem o Bernardo e o Estêvão. Foi um planejamento, e aí pensamos ‘o Kaio é um jogador que já tem contrato profissional, é um jogador no qual a gente acredita, tem um processo de evolução, já foi de Seleção Brasileira no Avaí, joga muito bem com os pés, e treinou bem no profissional.
Há um processo de informações, do que precisa melhorar, o Danilo conversa muito comigo, temos uma amizade desde o Palmeiras, onde trabalhamos juntos. Eu também passo meu olhar do que precisa melhorar em alguns goleiros. Há um recorte muito grande dessas informações, isso faz com que os goleiros tenham esse desempenho.”
Robert no profissional?
“Aí a gente fala do Robert. Eu não sei, vamos ver como vai ser o desempenho, amanhã começa o Sul-Americano Sub-20. Se ele for bem demais, pode ser que nem apareça mais aqui, no profissional, porque o Sul-Americano, eu participei de alguns, em 2017 nós tivemos 6, 7 jogadores que foram vendidos pós-Sul-Americano, sem sequer chegar a pisar no profissional das suas equipes.
Então, é um planejamento sim (Robert subir para o profissional). Daqui a pouco, pode ser que com a saída do Matheus Mendes para se desenvolver e jogar, pensando no Delfim (como reserva), o Robert pode ser um terceiro goleiro. Ou até nós vemos; o Atlético precisa contratar um goleiro para ser reserva do Everson? Não, ó, então o Delfim vai jogar de titular para ter (rodagem?), ele jogou contra o Atlético Goianiense, agora jogou três jogos no Mineiro, isso também dá moral para o atleta. Então, se o Everson não puder jogar, o Delfim não vai comprometer, e o reserva, se for o Robert, não vai comprometer, o Pedro Cobra tam´bem não. Então existe essa segurança.”
Em termos de projeto, o Atlético entende que todos os times das categorias da base têm que ter um mesmo padrão de jogo (e espelhar o padrão do profissional) ou cada categoria é trabalhada de uma forma?
“Eu sou totalmente contrário a isso. Claro que, se o profissional joga de um jeito, nos juniores, temos que ter esse espelho do profissional, mas como no futebol brasileiro a durabilidade de um treinador na equipe profissional não é como no mercado europeu você tem que ensinar o atleta a jogar de todas as formas.
No Atlético, por exemplo, o Coudet chegou e tirou os atacantes de lado. Então o Atlético sentiu, depois que o Coudet saiu, que não tinha atacante de lado. Então eu tenho que deixar alguém pronto na base, se eu abdicasse dos atacantes de lado provavelmente o Caio Maia não estaria jogado no ano passado, estreado pelo profissional, agora está lá no Estados Unidos, Então na base nós temos que fazer o atleta vivenciar todas as formas de jogar, até porque no momento de um jogo muda muito, sai de u, 4-3-3 para um 4-4-2 ou 4-3-2-1 ou 4-1-2-3. Na base, prefiro que tenhamos um leque maior de informações pros atletas porque é um processo de formação.”
12- Como vocês têm trabalhado a captação do clube? Hoje o foco é mais em categorias menores? E como é o processo de globalização, existem jogadores de outras nacionalidades nas categorias de base? Erasmo, desde que você chegou ao clube, quais foram as principais mudanças em termos de filosofia na base?
“Cheguei aqui em 2021. A pandemia ainda não tinha terminado. Como o CT da base é junto com o profissional, nós só voltamos em setembro de 2021. Quando cheguei, o Atlético não tinha – teve com o André Figueiredo, depois não – um olhar para a iniciação.
Eu entendo que, quanto mais cedo eu começar o processo de observar os atletas, melhor. Com um atleta de 10, 11, 12 anos eu consigo competir financeiramente com os maiores do Brasil hoje, os times que compram jogadores na base, de igual para igual agora. Mas se eu esperar o atleta completar 15… por exemplo, o Veneno, se esperasse ele completar 15 ou 16 anos, ia ter que pagar quanto para tê-lo no clube?”
Se eu pensar em mim eu ia dizer: ‘esquece lá embaixo (as categorias menores), vou montar time para ser campeão’. Mas não, eu penso no clube. Se daqui a seis, sete anos, jogadores aparecerem e derem frutos, eu posso não mais aqui, mas saberei que ajudei. Dou exemplo do Palmeiras, pegamos o clube em um momento crítico com o Paulo Nobre, e lá fizemos um trabalho sujo naquela época. Quando eu assim, quero dizer que tivemos que fazer uma reformulação enorme dentro do Palmeiras, não tinha dinheiro para nada, eu brinco que o palito do almoço se lavava para usar na janta, tínhamos que economizar muito. Aí começou um processo de começarmos a ter as categorias Sub-13 e Sub-12. Vários jogadores que apareceram no profissional do Palmeiras lá na frente começaram nesse processo, no Sub-11. O Palmeiras tinha o futsal e não tinha o futebol de campo, então o atleta saía dali e ia para o Santos, o São Paulo. Começamos todo esse processo (de ascensão da base do Palmeiras) na iniciação, depois chegou o São Paulo e desenvolveu e organizou mais.
“O meu pensamento, então, sempre é nesse processo da iniciação. E a captação é fundamental nisso, hoje o mundo está globalizado e, provavelmente, vamos trazer alguns jogadores de fora do país. Estamos analisando, porque tem muitas questões de trâmite, devido à idade, hoje um atleta, se tem menos 18 anos, não pode vir em definitivo, mas pode ficar três meses treinando com a gente para observarmos e depois voltar para o seu país. Mas temos que olhar alguns mercados que são interessantes, o futebol brasileiro está inflacionado até na base, tem clube pagando alto para comprar jogadores, então temos que olhar países sul-americanos, africanos e até europeus.
Victor, quando era o nosso coordenador de captação, chegou a ir para África, o Dennys Dilettoso, que hoje é o nosso coordenador, já foi duas vezes e está indo pela terceira vez. Tinha até um jogador que tínhamos mapeado para cá, mas o Bétis levou porque colocou dinheiro na frente, colocou Euro. Mas estamos mapeando sim jogadores para trazemos, vamos ter que ter paciência porque estamos trazendo o atleta de fora, cultura diferente, língua diferente, tudo diferente. Precisamos ter essa paciência para desenvolvê-lo e o clube precisa dar a estrutura também, por exemplo, se vem uma atleta africano que fala língua francesa, tem que ter um profissional para ajudá-lo a aprender o português mas também que fale a língua dele, para que ele se sinta seguro, porque para qualquer um de nós, se fôssemos para um país que não dominamos nada, seria difícil, estranho, nos primeiros dois, três meses você quer voltar para casa correndo.“
– O Palmeiras é um case de sucesso pela quantidade de vendas e jogadores de alto nível que tem revelado. Qual é o diferencial deles e o que o Atlético pode fazer para estar mais próximo disso?
“Tem dois são dois pilares. Um deles é o processo que começamos em 2013, de ter as categorias menores. Antes, o Palmeiras não disputava Sub-11, Sub-13 do Campeonato Paulista, e Corinthians, São Paulo, Santos jogavam. Perdíamos jogadores de 11 anos porque íam jogar o Estadual por outros clubes.
Aliado a isso, a parte financeira do Palmeiras foi equilibrada pelo Paulo Nobre, e o clube começou a investir em jogadores também. O Estêvão, por exemplo, veio “de graça” para o Cruzeiro, pagou uma quantia alta para o empresário e para o pai, levanto em conta que ele tinha 14 anos. Internamente, no clube, perguntam pra mim: ‘Mas o que Palmeiras faz e nós não conseguimos fazer?’. Um dia, numa reunião, fiz uma pergunta: ‘vocês pagariam 35, 40 mil reais para um menino de 14, 15 anos?’. Todos dizem: ‘Não, sem condições’. Pois é, nossa folha da Sub-15 e da Sub-14 é de 18 mil, enquanto o Palmeiras paga por um jogador 35 mil de salário.
Se o jogador é diferente, o Palmeiras acredita ( que pode pagar esses valores), tem essa estrutura. O Atlético ainda está caminhando para isso, há um planejamento estratégico que estamos desenvolvendo desde o ano passado com a SAF, com o Bruno Muzzi no comando, que estima que em 2028, 2020, o clube começará a ter a sua vida própria. (Hoje) eu não consigo entrar com dinheiro, por exemplo, o Benedetti, zagueiro do Palmeiras, tentamos trazer para cá no começo do ano, mas o o Palmeiras colocou o dinheiro na frente e nós não tínhamos dinheiro na frente. E hoje, um clube menor quer o dinheiro, podemos até tentar fazer um empréstimo com opção de compra, mas outro clube vai e coloca 100, 200, 500 mil, 1 milhão, nós não temos isso.
Por isso, temos que ter criatividade de buscar os jogadores mais novos. O Índio, por exemplo, é de São Paulo, mas nenhum clube de São Paulo viu o que nós vimos quer dizer o Wendel porque ele é ele é indígena, né? O Gabriel Veneno foi jogar a Copa 2 de Julho (tradicional torneio de base da Bahia), o Dennys Dilettoso (coordenador de captação do Atlético) viu, gostou e já foi direto nele.“
– Acredita que com esse trabalho a tendência é que o Atlético revele mais jogadores daqui para frente? O que o torcedor pode esperar da base nos próximos anos?
“Eu sempre falo: quem revela não é a base, quem revela é o profissional. Posso ter 10 Neymar e 10 Vinícius Júnior na base, mas se o profissional não olhar, todos vão embora. Agora, eu posso ter um jogador meio Vini Júnior, meio Neymar, e o profissional olhar e desenvolvê-lo.
Nós formamos o atleta para que ele se desenvolver no profissional. Quando falo de planejamento estratégico para 2028, 2030, não quero dizer que só vamos ter jogadores nesses anos, mas que o jogador que chegou no clube com 12, 13, 14 anos, vai ter 18 anos em 2028, e vai estar próximo de estar pronto para performar na equipe principal ou para render financeiramente para o clube.
Pelo que estamos vendo do desenvolvimento dos atletas, nós temos uma sequência de alguns jogadores, não vou dar nomes, mas temos bons jogadores de um nível bom para o (futuro do) Atlético. No ano passado, tivemos 10 jogadores convocados para a Seleção Brasileira nas categorias de base, coisa que o Atlético não tinha há muito tempo. Temos dois jogadores que jogam amanhã pelo Sul-Americano Sub-20, a última vez que tivemos um jogador titular nessa competição foi em 2019, com Emerson Royal. Então, de 2021 para 2025, antes não tínhamos jogadores na Seleção e agora começamos a ter, na Sub-15 tivemos três, Gomide, Veneno e Guilherme (capitão), Ìndio foi para a Sub-16, Mathias, Assef foi para a Sub-17. Temos vários jogadores nos quais acreditamos e vamos fazer de tudo para que eles desenvolvam. Agora, nós cuidamos deles por três horas, nas outras 21 horas é o externo, aí temos que contar com a ‘ajuda’ do externo também.“
– Já teve algum caso de indisciplina no clube que você precisou administrar internamente? Quando isso acontece, como confiar no atleta?
“Nós não somos formadores de jogadores de futebol, nós somos formadores, estamos preparando um ser humano para que ele esteja pronto para enfrentar o mundo, porque infelizmente dos 300 atletas, não são todos que chegarão àquele 0,001% de jogadores que ganham acima de X por cento, muitos vão pagar o almoço para comer a janta, então nós temos que prepará-los para o mundo.
Lidamos com várias classes sociais dentro do clube, mas claro que no futebol a maioria vêm de uma classe mais humilde, que tem mais problemas. Então você começa a ter a desenvolver isso então assim o nosso tentamosTentamos sempre abordar com eles vários temas do dia-a-dia, violência doméstica, violência sexual e redes sociais.
Quando temos problemas que fogem um pouco (do normal), nosso departamento de psicologia entra, participa, vamos lá e conversamos com o atleta. Muitas vezes, não colocamos a família, porque ela pode, ao invés de ajudar, atrapalhar. Às vezes falamos para o empresário o que está acontecendo, sentamos com o atleta e o empresário.
No ano passado, tivemos uma situação em que achamos que o atleta tinha envolvimento com apostas. Chamamos ele, fomos claros e abertos, falamos: ‘Cara, fala a verdade. Estamos aqui para te ajudar, até para podermos entender o porquê disso’. Conseguimos contornar, a psicóloga fez o acompanhamento, o atleta foi sentindo a confiança que estávamos dando para ele.
“Envolve vários fatores, é da idade. Eu falo internamente, com essa idade nós fizemos coisas erradas também. Agora, não dá para ficar persistindo (no erro), porque se temos 30 jogadores e dois ‘fora da casinha’, daqui a pouco esses dois podem levar os demais (para o ‘mau’ caminho), aí tem que dizer: ‘Olha, infelizmente tudo que tentamos contigo não foi’. Mas é a nossa função de tentar sempre recuperar o ser humano.”