Das pistas de atletismo para os campos de futebol, do Rio de Janeiro para Belo Horizonte e do Cruzeiro para a Seleção Brasileira. Byanca Brasil percorreu longa trajetória antes de dar o maior salto da carreira. Aos 28 anos, a atacante terá a chance de mostrar o seu futebol na última convocação antes da Olimpíada de Paris, na França.
O torneio será disputado entre 26 de julho e 11 de agosto. Em entrevista exclusiva ao No Ataque, Byanca abriu o coração e falou sobre o desejo de lutar por este título com a Seleção. A jogadora citou em vários momentos os sonhos que carrega desde a infância, quando parou de correr e se apaixonou pelo futebol.
“Todo mundo que é um pouco próximo a mim sabe o quanto eu sonhava com este momento na Seleção Brasileira. Todo mundo sabia o quanto eu sonhava com isso e vinha sempre batendo na trave. Não é um sonho da Byanca de agora, é um sonho da Byanca de oito anos de idade”
Byanca Brasil ao No Ataque
A camisa 10 passou por vários grandes clubes antes de chegar à Toca da Raposa, no início de 2023. Em pouco tempo, Byanca se consolidou como referência do time e ídola da torcida. Além de balançar as redes e dar passes decisivos, ela ostenta a braçadeira de capitã do Cruzeiro.
Treinadas por Jonas Urias, as Cabulosas venceram o Campeonato Mineiro no fim de 2023 e foram vice-campeãs da Supercopa do Brasil de 2024, em final marcante contra o Corinthians, a maior força sul-americana da modalidade. Destaque nessas campanhas, Byanca já tem 38 jogos, 31 gols e nove assistências com a camisa celeste.
Reação com a convocação à Seleção Brasileira
Arthur Elias convocou Byanca e mais 25 atletas para dois amistosos preparatórios para a Olimpíada. O Brasil enfrenta a Jamaica em 1º de junho, na Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata. Três dias depois, joga contra o mesmo adversário na Fonte Nova, em Salvador.
“Se tem isso (de aviso prévio), não teve comigo, porque eu realmente não sabia de nada. Eu estava em um almoço lá na Toca (da Raposa) 1, junto com as meninas. Coloquei a convocação só no meu ouvido e pensei ‘ninguém precisa saber se meu nome não estiver lá, para não ficar aquele clima ruim’. Só que quando (o Arthur Elias) começou a falar os nomes, todo mundo ligou o celular.”
“Eu falei ‘meu Deus, se eu não for, já era’. Também estávamos na expectativa da Taty Amaro ir. Quando o nome dela não foi anunciado, eu falei ‘sobrou só para mim. Se eu não for, vai ficar todo mundo com cara de gol contra’. Mas, graças a Deus, meu nome foi o terceiro anunciado, aí deu aquele alívio. Ao mesmo tempo eu não estava acreditando, porque realmente é um sonho não da Bianca de agora, mas da Byanca de oito anos. Ainda bem que falaram meu nome no início, se não o coração ia dar uma acelerada”
“Quando recebi a notícia, eu realmente não estava esperando. Óbvio, a gente sabe do momento que eu estou vivendo e o momento do Cruzeiro impactam na convocação. Mas foi um momento único para mim, muito emocionante. A ficha não caiu na hora. Eu liguei para minha esposa, para minha mãe e para o meu pai. Todo mundo que é um pouco próximo a mim sabe o quanto eu sonhava com este momento na Seleção Brasileira. Todo mundo sabia o quanto eu sonhava com isso e vinha sempre batendo na trave.”
“Eu acho que o tempo vai passando, e a gente vai esquecendo desses sonhos de criança. Vão acontecendo coisas na vida, e a gente vai atropelando. Aí esquecemos o porquê começamos. Todo mundo tem o seu porquê, e o meu, desde o início no futebol, foi vendo a Marta e a Cristiane na Seleção. Então, meu sonho era chegar lá. Tive experiências na Sub-17, na Sub-20 e, agora, na principal. É um sonho realizado, ainda mais por saber que a Marta e a Cris vão estar lá.
Momento no Cruzeiro deixa Byanca confiante para desafio
“Eu me vejo muito pronta. Talvez se eu tivesse ido há uns anos, quando era muito mais jogadora que atleta, eu bateria lá e voltaria. Hoje eu me vejo mais pronta para competir e aproveitar a oportunidade da melhor maneira possível. Eu estou vivendo o meu melhor momento e, muito disso, é por ter entendido que hoje eu sou uma atleta de futebol e não uma jogadora. Eu comecei a investir muito mais no meu corpo, no meu físico e na minha mente. Isso fez total diferença. E eu falo de anos fazendo isso.”
“Hoje estou desfrutando de algo que foi muito trabalhoso e difícil. E, graças a Deus, no melhor clube, que me dá total estrutura e tem um corpo técnico que me ajuda em todos os momentos do jogo. Isso faz muita diferença, e o resultado está aparecendo. Graças também ao grupo, que facilita meu jogo demais. Não tem como não reconhecer isso.”
Olimpíada de Paris
“Eu estou indo com sentimento leve (para os amistosos). Pressão eu senti nesses quatro anos em que entendi o que é ser atleta, pois abdiquei de muita coisa para priorizar a carreira. Tudo isso foi uma pressão para mim. Agora é um momento leve, até por ser a minha primeira convocação para a Seleção Brasileira, então eu não tenho essa responsabilidade. Mas obviamente eu vou buscar esse espaço nas Olímpiadas, porque seria um grande sonho.”
O que a Seleção precisa para voltar a lutar por títulos?
“Não vou falar aquela frase clichê sobre mais investimentos, porque isso é óbvio. Mas eles estão acontecendo, não podemos ser cegas quanto a isso. Os clubes estão entendendo o cenário e melhorando. E com os clubes melhorando os torneios vão ficar mais competitivos e evoluir o nosso jogo. Assim como é lá fora, que tem uma competição muito top”
“Acho que hoje a gente tem um técnico que é muito respeitado (Arthur Elias) por todas. É um multicampeão. Eu já tive a oportunidade de trabalhar com ele durante três anos (no Corinthians) e ganhamos competições importantes, como a Copa do Brasil e a Libertadores. Foi um técnico que me ensinou muito e em que tenho muita confiança. Não por estar indo para a Seleção, mas, sim, por saber o quanto ele trabalhou para ter essa oportunidade.”
“Todas as atletas do Brasil veem essa esperança no Arthur, pelo entendimento dele. Acho que a gente está em boas mãos, agora é um longo período de trabalho, mas buscando os títulos que vierem pela frente.”
Na última sexta-feira (17/5), o Brasil foi escolhido para sediar a Copa do Mundo Feminina de 2027. A decisão histórica marca a modalidade no país, que será o primeiro da América do Sul a receber o torneio.
Como as Cabulosas reagiram à venda do Cruzeiro?
A venda do Cruzeiro para o empresário Pedro Lourenço gerou diversas mudanças administrativas no clube. E, apesar de a maioria dos dirigentes da gestão de Ronaldo Fenômeno ter saído, as figuras de liderança do time feminino permaneceram na Toca da Raposa.
“Nós soubemos (da venda) pelo clube. Foi muito importante a conversa que a gente teve para entender tudo, porque se nós olharmos só a imprensa, a gente acha que já era o futebol feminino e que as coisas vão voltar a ser como eram antes. Acho que quem ficou aqui plantou coisas muito boas, e é muito importante para nós, porque já conhece o nosso trabalho. E continua o mesmo investimento, até acho que melhorará.”
“Porque está todo mundo entendendo que, se querem resultado, tem que investir. Acho que o clube já entendeu isso, e quem estava aqui deixou a sementinha plantada. Com certeza vamos colher grandes frutos pela frente.”
O futebol feminino do Cruzeiro é gerido pela diretora Kin Saito e a coordenadora Bárbara Fonseca. Mesmo dentro da modalidade, ainda não é comum que mulheres ocupem cargos de comando, o que torna a equipe mineira um expoente no Brasil.
“A Bárbara e a Kin se mantém aqui. Elas são o nosso maior suporte, pois são o nosso contato direto (com a diretoria). Nós não chegou a ter medo (de uma possível saída) porque nos elas passaram essa tranquilidade. A gente sabe da confiança que o grupo tem nelas e o quanto elas brigam por nós.”
“(A troca de gestão) foi um momento normal, em que nós só precisávamos da informação (da venda) para não ficarmos comparando com as coisas que estavam saindo nas redes sociais. Nós tivemos essa conversa e foi bem tranquilo, todas pudemos ficar focados no campo, que é o nosso dever.”
Evolução do Cruzeiro no futebol feminino
O Cruzeiro parou diante do Corinthians nos dois últimos torneios nacionais que disputou. Em junho de 2023, perdeu para o Corinthians nos dois jogos das quartas de final do Brasileirão Feminino. A equipe paulista venceu as últimas quatro edições da competição;
Em fevereiro de 2024, as Cabulosas perderam a final da Supercopa do Brasil para o Corinthians, na Neo Química Arena, em São Paulo. Mais de 30 mil torcedores estiveram presentes na vitória corintiana por 1 a 0 sobre o Cruzeiro. Mesmo com o amplo favoritismo do rival, o time celeste fez jogo duro e teve dois gols anulados pela arbitragem.
“No ano passado a gente já conseguiu alcançar (a vaga) na Supercopa do Brasil e a classificação (para o mata-mata do Brasileirão). Infelizmente, pegamos o Corinthians (nas quartas). A gente sabe como estávamos no ano passado, ainda melhorando o trabalho. E a chegada do Jonas Urias (técnico) foi muito importante, deu outra cara ao time.
“A gente chega muito melhor (na Supercopa) e faz outro jogo contra o Corinthians, dentro de uma arena com 33 mil pessoas. O investimento está acontecendo, e nós nos vemos muito pronta para este Campeonato (Brasileiro). Agora é ter um pouco de paciência também, pois o trabalho do Jonas não vai acontecer da noite para o dia.”
“O investimento continua acontecendo, porque continuamos treinando na Toca (da Raposa) 2, com a melhor estrutura. Isso vai fazer muita diferença ao longo do campeonato e longo dos anos. E vamos poder buscar títulos, que é o que vai fazer a diferença para o clube.”
As Cabulosas estão na quinta posição da atual edição do Brasileirão Feminino, com 18 pontos – cinco vitórias, três empates e três derrotas em 11 jogos. Oito das 16 equipes se classificam para as quartas de final do torneio.
