Leonardo Jardim não é apenas o técnico do Cruzeiro, responsável pelos treinamentos e pelas escalações. O português de 50 anos atua, também, como manager – isto é, coordena diferentes setores do clube e tem respaldo da diretoria, liderada por Pedro Lourenço, sócio majoritário da Sociedade Anônima de Futebol (SAF), para tomar decisões extracampo.
O Cruzeiro acertou a contratação do comandante em fevereiro deste ano. À época, as prioridades eram evitar uma eliminação precoce no Campeonato Mineiro e encontrar o encaixe ideal de um time composto por nomes estrelados. Leonardo Jardim não recuperou a equipe a tempo de brigar pelo título estadual, mas, em compensação, ganhou tempo de trabalho na Toca da Raposa.
O início no Campeonato Brasileiro e na Copa Sul-Americana não animaram, apesar de os movimentos nos bastidores terem agradado a Pedro Lourenço, que chegou a dizer, ainda em março, que estava encantado com o trabalho do recém-chegado. No mesmo momento, o mandatário celeste detalhou que Leonardo Jardim participava de tudo no clube.
Primeiras movimentações de Jardim no Cruzeiro
A primeira movimentação de impacto sugerida pelo treinador teve relação com a base. Pouco depois de ter assinado contrato, Leonardo Jardim exigiu que os atletas do sub-20 passassem a treinar na Toca da Raposa 2, onde a equipe principal realiza atividades. Dessa forma, o time feminino voltou à Toca 1.
Quatro jogadores das categorias de base foram promovidos ao profissional desde então: o zagueiro Janderson, o lateral-esquerdo Kauã Prates, o volante Murilo Rhikman e o atacante Kaique Kenji.
O comandante também solicitou que o departamento de futebol fosse mais atuante em relação aos atletas emprestados pelo Cruzeiro. “Ele quer um relatório de cada jogador emprestado no clube e do que cada um deles está fazendo. Eu nunca vi isso nesse tempo em que estou no clube”, disse Pedrinho, na função desde abril de 2024.
Antes do encerramento da janela de transferências, Leonardo Jardim exigiu a contratação de um ponta. O Cruzeiro, então, buscou o atacante Wanderson, o único que chegou com o aval do treinador, já que o elenco havia sido montado sob as orientações de Fernando Diniz, que deixou o clube em 27 de janeiro.
Liberdade para mexer nas peças
Com o passar do tempo e com o aval da diretoria, Leonardo Jardim realizou mudanças, até então, surpreendentes nas escalações. Depois de colecionar frustrações, bancou nomes de peso e deu espaço a outros. O empate por 1 a 1 com o São Paulo, pela terceira rodada do Brasileiro, marcou a mudança de fase da Raposa, que parece ter encontrado ali uma base.
Na ocasião, permaneceram Cássio, Fabrício Bruno, Lucas Romero e Matheus Pereira. Perderam espaço William, Jonathan Jesus, Marlon (emprestado ao Grêmio), Matheus Henrique (lesionado), Eduardo, Gabi e Dudu. Nas vagas, entraram Fagner, Villalba, Kaiki, Lucas Silva, Christian, Wanderson e Kaio Jorge.
Caso Dudu
O ‘caso Dudu’ evidenciou ainda mais a força do treinador. Em 25 de abril, após derrota por 2 a 1 para o Palestino, pela terceira rodada da Sul-Americana, o atacante declarou insatisfação com a reserva. Posteriormente, foi cortado do duelo com o Vasco. Antes do triunfo por 1 a 0, pela sexta rodada da Série A, Pedro Lourenço indicou a um torcedor presente no Parque do Sabiá, em Uberlândia, que o camisa 7 estava de saída.
O comportamento interno de Dudu motivou a decisão de Leonardo Jardim, que claramente recebeu suporte do sócio majoritário da SAF. Nos dias seguintes, Cruzeiro e o ex-ponta do Palmeiras acertaram a rescisão de contrato.
Gabi se recupera
Gabi agiu de forma diferente. Fez caminho inverso ao de Dudu e, prestigiado pela torcida, passa por momento de recuperação. Mesmo no banco, o atacante é o artilheiro da equipe, com nove gols e uma assistência em 19 jogos oficiais. Dia após dia, o camisa 9 mostra a estrela que o guia. Mesmo acionado por poucos minutos, tem anotado tentos salvadores e feito diferença nas atuações.
Após o empate por 0 a 0 com o Atlético, Leonardo Jardim fez questão de elogiar o compromisso do atacante: “Ele precisa (de mais chances) e merece… Eu gosto muito… Uma palavra a ele, que não necessita disso, mas ele tem sido um profissional excelente, tem sido um jogador de grupo e, simplesmente, tenho que tomar decisões e só podem jogar 11″.
Jardim recuperou jogadores
Quando o Cruzeiro enfrentava dificuldades para engatar, Leonardo Jardim compartilhou um diagnóstico. Disse que parte do elenco não estava entregando o que podia: “Temos que resgatar esses jogadores… Temos talentos, mas eu acredito que vamos conseguir aumentá-lo com o nível de trabalho e exigência nos treinos para colocar esses jogadores ao seu nível”.
Assim o fez. Alguns jogadores cresceram desde a chegada do comandante português. O caso mais notório é o do zagueiro Lucas Villalba. No primeiro compromisso com a camisa celeste, Leonardo Jardim revelou ter se assustado com o desempenho do defensor. “Eu fiquei tão mal com a qualidade que apresentou. Falei: ‘Como o cara joga no Cruzeiro?’ Busquei informação, ele tinha jogado cinco minutos em dois meses. Estava completamente fora de forma.”
O jogador perdeu espaço na zaga e começou a ser testado na lateral esquerda. Pouco a pouco, conquistou a confiança do treinador e garantiu vaga cativa entre os titulares, ao lado de Fabrício Bruno. Seguro nas partidas, Villalba faz a estatura de 1,77m não ser empecilho. O argentino também tem se destacado pelos passes longos aos jogadores ofensivos.
No processo de mudanças, Fagner ganhou a titularidade na lateral direita. No meio-campo, chama a atenção a recuperação de Lucas Silva, outro titular de forma incontestável.
Jardim confirma que o trabalho é além do campo
Recentemente, Leonardo Jardim disse que será difícil reforçar o grupo, mas por um bom motivo. Em campo, a Raposa tem exibido atuações dignas de elogios e colecionado resultados positivos – apesar da campanha desastrosa na Sul-Americana.
Diante do encaixe e das respostas assertivas à torcida, o treinador explicou que será difícil agir no mercado.
“Hoje, é mais difícil trazer jogadores para o Cruzeiro do que era há três meses. Nossos jogadores têm mostrado talento, capacidade. Não é qualquer jogador que vem jogar no Cruzeiro… Neste momento, nem estou pensando na janela porque esse grupo está dando resposta efetiva, mesmo os que jogam menos, e estou satisfeito. Os próprios jogadores mostraram que os reforços vieram de dentro”
Leonardo Jardim, treinador celeste
Na mesma oportunidade, o treinador confirmou que o trabalho é além do campo: “Em relação ao meu papel, é o mesmo que foi quando cheguei. Vocês sabem muito bem, fui claro. Não queria ser um treinador só para escalar os 11. Tenho papel importante no treino, no planejamento, em termos de capacidade física, de psicologia, de organização e também dos jogadores que queremos buscar para nosso modelo de jogo – não só estratégico, mas comportamental”.
No momento, Leonardo Jardim trabalha em conjunto com o departamento de futebol para desenvolver uma pasta de scout que permita melhor análise de possíveis reforços. A próxima janela de transferências nacional se abre em 2 de junho.
Departamento de futebol do Cruzeiro
O departamento de futebol do Cruzeiro segue o mesmo. Também realizam tarefas relacionadas ao elenco o vice-presidente Pedro Junio, o CEO Alexandre Mattos e o diretor-executivo Paulo Pelaipe. As movimentações, contudo, passam pelo crivo de Leonardo Jardim.
Momento do time
O Cruzeiro começou bem o Brasileirão e ocupa a terceira posição. São 17 pontos em oito partidas, com cinco vitórias, dois empates e duas derrotas. No domingo (25/5), às 20h30, o time celeste encara o Fortaleza, fora de casa, pela nona rodada.
Na Copa do Brasil, a equipe ganhou do Vila Nova-GO por 2 a 0, pelo jogo de ida da terceira fase, no Mineirão. O embate de volta será nesta quinta-feira (22/5), às 19h, no Serra Dourada, em Goiânia.
Já na Sul-Americana, a Raposa cumpre tabela no Grupo E, já que não tem mais chances de classificação (somou quatro pontos em cinco rodadas). O confronto derradeiro será com o Unión, da Argentina, na quarta-feira (28/5), às 21h30, no Mineirão.
