JIU-JITSU

Conheça o Bora Manada, projeto de jiu-jítsu que une inclusão e solidariedade em BH

Projeto social no Bairro Renascença oferece aulas gratuitas de jiu-jítsu e transforma a vida de crianças por meio de esporte, disciplina e inclusão

No coração do Bairro Renascença, na Região Nordeste de Belo Horizonte, existe um espaço acolhedor que serve como palco de transformação para diversas crianças. É no CT Rhinos, da equipe Pascoal Jiu-Jitsu, que o projeto social Bora Manada oferece, de forma gratuita, aulas para os pequenos entre 7 e 12 anos. 

A iniciativa é liderada pelo instrutor Luiz Fernando Diniz Gomes, faixa-marrom e profissional de educação física com mais de duas décadas de experiência, especialmente no ensino público.

Desde maio de 2024, dezenas de crianças têm encontrado no CT Rhinos um local de acolhimento, valores e oportunidades criadas pela prática do jiu-jítsu.

“A ideia é atender crianças que, muitas vezes, não teriam condição de pagar uma academia. Aqui, elas aprendem muito mais que a técnica. Aprendem a respeitar, a persistir, a ter disciplina”, destaca Luiz, em entrevista ao No Ataque.

Uma história que começa com solidariedade

O Bora Manada nasceu do desejo antigo de Luiz Fernando de ter seu próprio projeto social após anos atuando em outras frentes. Ele trabalhou, por exemplo, dando aulas de jiu-jítsu no Instituto Bacana Demais, do comunicador Álvaro Damião, atual prefeito de Belo Horizonte. Além disso, ele é gestor do Tatame Santo – idealizado pelo faixa preta Pascoal Monteiro -, iniciativa que também promove o esporte para crianças e funciona no Bairro Tupi, na Região Norte de BH.

“Quando o projeto do jiu-jítsu no Instituto Bacana Demais acabou, fiquei pensando em uma forma de continuar atendendo as crianças da região. Foi quando o Bora Podcast resolveu apoiar a ideia. O Luiz Carlos Silva, apresentador do Bora, me perguntou o que precisava para iniciar o projeto, e falei: ‘Já tenho meu espaço. O que preciso para começar é quimono para as crianças’. Ele então fez uma doação de 20 quimonos”, relembra.

 - (foto: Ailton do Vale/EM/D.A Press)
O instrutor Luiz Fernando Diniz Gomes lidera o projeto Bora Manada no CT Rhinos,da Pascoal Jiu-Jitsu(foto: Ailton do Vale/EM/D.A Press)

O CT Rhinos, que funciona desde 2020 com treinamentos funcionais, virou oficialmente o centro das atividades do projeto Bora Manada no ano passado. Desde então, o tatame nunca mais ficou vazio. Pelo contrário. A procura foi tamanha que em menos de dois meses já havia uma lista de espera com mais de 40 nomes para apenas 20 vagas iniciais.

“Graças a Deus! Montei uma lista de espera no começo de abril e, quando chegou em maio, já tinham mais de 40 crianças na fila. Pretendia atender 20, mas um amigo me ajudou com mais seis quimonos, então hoje a gente atende 26 crianças”, explica Luiz. 

“A maioria está no projeto infantil, mas quatro delas já treinam com adultos porque foram os primeiros a se inscrever e atingiram a idade limite. Não tive coragem de tirá-los. E um deles, o Richard, já foi campeão de uma competição promovida pelo atleta Caio Gregório. Com 12 anos, ele já rola de igual para igual com os adultos”, ressalta.

Jiu-Jitsu para todos: inclusão como prioridade

Um dos pilares do projeto é a inclusão. Luiz Fernando traz na bagagem mais de 20 anos como professor de educação física, o que lhe deu experiência para trabalhar com alunos em diferentes condições, inclusive crianças diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

“Um de nossos alunos com autismo, inclusive, tem quatro anos, e fizemos uma exceção para ele por causa da idade. Ele entrou junto com o irmão mais velho. No início, ele não fazia nada, só ficava no canto. Mas com o acompanhamento adequado, num determinado dia, na hora dos rolamentos, ele teve iniciativa, entrou na fila e fez o primeiro. Depois disso, passou a interagir, aprender e conversar com todas as outras crianças, mas no ritmo dela, no tempo dela, e hoje treina normalmente. Isso é gratificante demais”, relata Luiz.

O analista de planejamento técnico Thiago Cardoso é pai do Théo e do Otto, duas das crianças atendidas no projeto. Ele conta os benefícios que o jiu-jítsu trouxe para os filhos. “É uma oportunidade de um projeto muito bacana do Luiz. No início coloquei apenas o Théo, com sete anos, mas conversando com o Luiz falei do Otto, que tem TEA, uma situação um pouco mais complicada para interagir com as outras crianças. O Luiz é uma pessoa que deu o maior apoio e paciência, além de todos os alunos que ajudam muito ele nesse desenvolvimento”, destaca.

 - (foto: Ailton do Vale/EM/D.A Press)
Otto, hoje com cinco anos, é uma das crianças atendidas pelo projeto social Bora Manada, no Renascença(foto: Ailton do Vale/EM/D.A Press)

“Até para incentivá-los, eu também comecei a fazer a aula para adultos. Meus filhos ficam empolgados. Aprendem a respeitar hierarquia e a conviver melhor com as outras crianças, são inúmeros benefícios. Já dá para ver a diferença. O jiu-jítsu ajuda demais no desenvolvimento. Aconselho todo mundo a trazer os filhos para o projeto”, salienta.

Já a terapeuta ocupacional Anne Ribeiro Salles, mãe da Julianne Luiza, outra aluna do projeto, também destaca as mudanças que percebeu na filha desde que começou a treinar. “Ela não tinha muito foco, essas coisas. A Julianne hoje tem mais atenção, melhorou a socialização, tem mais responsabilidade. Sabe que não pode brigar à toa e nem machucar outras crianças na escola. Minha menina gosta muito de estar aqui. Ela também faz ginástica e futebol, mas o jiu-jítsu é fundamental. Aqui ela também aprende a se defender, a ter força e autoconfiança”.

Sem patrocínio fixo, mas com apoio coletivo

Apesar do sucesso e da demanda crescente, o projeto não conta com nenhum tipo de patrocínio contínuo. O apoio inicial do Bora Podcast não pôde ser mantido, e desde então, o instrutor tem mantido o funcionamento com ajuda dos próprios pais, dos alunos da turma de jiu-jítsu adulto e amigos empresários que contribuem pontualmente com doações.

“Hoje, o que sustenta é o apoio dos pais e dos meus alunos pagantes. De três em três meses, fazemos festinhas para as crianças, no Dia das Crianças, no Natal. Os pais ajudam, alunos doam bolo, refrigerante, salgadinho. Tenho dois amigos que têm empresa e ajudam quando falta alguma coisa”, conta Luiz.

Fila de espera e o convite à comunidade

Com mais de 20 crianças aguardando uma vaga, Luiz orienta os pais interessados a entrarem em contato e se preparar para esperar. “As crianças não saem. Os pais gostam, e isso é ótimo. Mas isso também significa que quem entra na lista pode demorar seis, sete meses para ser chamado”, explica.

Ele reforça o convite a empresários e apoiadores: “Quer conhecer o projeto? Venha até aqui. O espaço está aberto. Eu converso, explico tudo. Se quiser doar, contribuir, participar, será mais do que bem-vindo. O importante é continuar atendendo essas crianças com dignidade”.

O projeto Bora Manada tem acolhido crianças de diferentes bairros da capital – Nova Floresta, Concórdia, Ipiranga, Palmares, além do próprio Renascença. Famílias que encontram ali mais do que um treino: encontram um refúgio, um guia e uma esperança.

E no meio de tudo isso, Luiz Fernando segue firme, sonhando não com grandes estruturas, mas com continuidade. “Não vislumbro números. Vislumbro manter. Se tiver como crescer, ótimo. Mas o principal é não deixar esse projeto parar. Porque ele não é meu. Ele é das crianças.”

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