JOGOS OLÍMPICOS

Bruno Fratus aponta erro sobre polêmica na natação em Paris 2024

Fratus disse que a polêmica na natação é reflexo da prática de 'podar lideranças' exercida por gestões passadas da CBDA; veja o que ele falou
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Medalhista de bronze nos 50m livre nos Jogos de Tóquio 2020 (disputados em 2021), Bruno Fratus se posicionou sobre a grande polêmica envolvendo a natação brasileira durante a Olimpíada de Paris 2024: o corte de Ana Carolina Vieira e a punição a Gabriel Santos, que deixaram a Vila Olímpica sem autorização na sexta-feira (27/7).

Fora da competição por motivos físicos, o nadador está presente na França como comentarista dos Canais Globo e têm acompanhado a situação “de fora”. Em resposta durante entrevista nesta terça-feira (30/7), o atleta não citou nomes, mas deixou claro que a polêmica é reflexo de grande erro das administrações passadas da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA): a prática de “podar lideranças”.

“A gente vem de administrações que podavam lideranças entre os atletas, mas precisamos fazer o oposto, incentivar a criação de lideranças. Que bom que essa essa histórico de podar lideranças já ficou morto e enterrado no passado, mas eu acho que só ‘não podar’ não é o suficiente, a gente precisa incentivar os atletas a gente a serem líderes do grupo a serem líderes do grupo, da própria carreira, das próprias escolhas, da própria vida”, disse.

Não existe um culpado, até porque todo mundo tem um pouco de culpa. Todo mundo tem algo que pode fazer melhor, e a questão não é nem o desenvolvimento de atletas, de talentos, mas o desenvolvimento de líderes né. Esse problema que nem a gente teve agora foi por falta de liderança. Não é que tem que ter um chefe na equipe, é que cada atleta tem que ter um nível de liderança”

Bruno Fratus, nadador brasileiro

Fratus citou exemplos de países que, para ele, fazem bom trabalho no incentivo às lideranças na natação: a Itália, o Canadá (time feminino), os Estados Unidos – que, segundo ele, foram “quem inventou esse conceito (de cada atleta ser um líder)”, a Austrália e a Grã-Bretanha.

‘Precisamos ser melhores’

Para Bruno Fratus, a natação brasileira se acomodou e tem dependido muito de “resultados individuais”. Ele deixou claro que sente falta de um plano bem definido para que o esporte se desenvolva no país.

“Precisamos ser melhores. A natação brasileira é gigante, tem um legado muito grande, uma história muito grande. Mas, em algum momento do caminho, acabamos ficando confortáveis demais, sem a necessidade de justificativa, de entrega. Precisa haver um plano para que a nossa natação seja o que ela possa ser, não dá só para a gente ficar sempre, que nem a gente tem feito até hoje, contando com resultados individuais. A gente senta e reza para aparecer um Guilherme Caribé, um Cachorrão (Guilherme Costa), uma Bia Dizotti, uma Mafê (Costa). Temos dado a sorte de eles aparecerem, mas não temos um plano de fato de tanto de criação e manutenção, de desenvolvimento de talentos, criação de líderes”

Bruno Fratus, medalhista olímpico em Tóquio 2020

Entenda a polêmica na natação brasileira em Paris

A expulsão de Ana Carolina Vieira teria ocorrido depois de uma discussão ríspida dela com a comissão técnica. O motivo teria sido a decisão de retirar a nadadora Mafê Costa, sétima colocada nos 400 m livre nestas Olimpíadas, da equipe de revezamento, para que focasse somente nas disputas individuais.

Ana Carolina teria ficado insatisfeita com isso, já que o revezamento ficaria enfraquecido, e confrontado rispidamente integrantes da comissão. Segundo a Folha, o entrevero foi feio, com “gritos e dedos na cara”.

Essa atitude agressiva, aliada ao fato de ela e o namorado, o também nadador Gabriel Santos (do revezamento 4 x 100 m livre), terem deixado a Vila Olímpica sem autorização, teria resultado na decisão de exclusão de Ana Carolina do Time Brasil. Gabriel recebeu apenas uma advertência.

“Além desse fato [a saída da Vila], a atleta Ana Carolina, de forma desrespeitosa e agressiva, contestou decisão técnica tomada pela comissão da seleção brasileira de natação”, diz comunicado divulgado pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil) na manhã deste domingo (28/7).

Na mensagem em vídeo dirigida a seus seguidores, a nadadora declarou que “a partir do momento que anunciaram que eu estava fora [da delegação brasileira), por más condutas, não consegui contato com ninguém”.

“Eu não consegui ter contato com ninguém, em nenhum momento eu consegui ficar sozinha”, prosseguiu a nadadora. “Tinha uma moça me acompanhando o tempo todo. Pedi para ela deixar eu falar com o psiquiatra, ela não deixou em nenhum momento. Eu falei ‘eu quero uma água’, e eu não podia ir pegar.”

“Saí de lá [da Vila Olímpica], deixei meus materiais, não sabia o que fazer. Eu fui para o aeroporto de shorts, tive que abrir minha mala toda no aeroporto. Eu estou desamparada, não tive acesso a nada.”

Ana Carolina não identificou quem era a moça que ela disse que a acompanhava durante o desligamento do Time Brasil, mas que ela a orientou a “entrar em contato com os canais do COB”.

Nesse momento de sua fala em rede social, a nadadora expôs que tinha conhecimento de um caso de assédio, não solucionado, na equipe nacional de natação. Não explicitou, porém, se aconteceu com ela ou com outra pessoa.

“Como eu vou entrar em contato com os canais do COB, sendo que eu já fiz uma denúncia e nada foi resolvido? De assédio, dentro da seleção.”

Ana Carolina concluiu afirmando estar “triste, nervosa, mas com o coração em paz”. “Eu sei quem eu sou, do meu caráter, da minha índole, e é isso que importa”.

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