VÔLEI DE PRAIA

Como Duda e Ana Patrícia veem queda no ranking e ciclo até Los Angeles 2028

Líderes do ranking mundial de vôlei de praia até o ouro na Olimpíada de Paris, Duda e Ana Patrícia comentam início do novo ciclo até Los Angeles 2028

A caminhada rumo à segunda medalha olímpica dourada começa oficialmente neste mês. Duda e Ana Patrícia iniciam o ciclo rumo aos Jogos de Los Angeles 2028 no fim de março em um momento com questões antagônicas. A dupla brasileira no vôlei de praia conquistou o ouro em Paris e alcançou o grande objetivo da carreira, mas ficou sem jogar nos últimos sete meses e caiu no ranking da Federação Internacional de Vôlei (FIVB).

Só que essa posição é desconsiderada pelas próprias atletas. Em entrevista exclusiva ao No Ataque, a dupla que treina pelo Praia Clube, de Uberlândia, deixou claro que o posto no ranking da FIVB não irá interferir no novo ciclo.

Até Paris 2024, Duda e Ana Patrícia lideravam o ranking, porém a Olimpíada não é considerada pela federação, e elas não somam pontos desde julho, quando disputaram a última competição no Circuito Mundial. Até por isso, caíram para a 31ª colocação.

Depois da conquista nos Jogos Olímpicos, as brasileiras até estiveram próximas de disputar um torneio em João Pessoa, mas Ana Patrícia foi impedida por uma hérnia na lombar – já está totalmente recuperada. Iniciando uma nova temporada, só que 30 posições abaixo da colocação anterior ao ouro, Duda fez questão de destacar que isso tem uma importância para o vôlei brasileiro e pode até alterar confrontos neste novo ciclo, mas não é algo que preocupa a dupla.

“A gente não liga não para isso, viu? [risos] É sempre muito bom estar com a classificação muito boa. Isso é verdade. Só que não olhamos para não causar ansiedade. Existe às vezes [isso de enfrentar rivais mais fortes por estar abaixo no ranking], só que no momento do vôlei de praia, qualquer dupla é como se fosse uma final”, afirmou Duda.

“Sempre temos que querer estar no melhor ranking para às vezes ficar um pouco livre de alguns confrontos. Às vezes deixar para enfrentar lá na frente, em vez de enfrentar antes. Mas assim, a gente até liga porque queremos sempre estar bem, só que eu acho que não vemos muito isso para não causar ansiedade. Estamos fazendo o nosso trabalho, que vai ser colocado dentro da quadra. Temos essa busca por melhorar, mas a gente não liga muito para ficar vendo o ranking”

Duda Lisboa

Um outro detalhe destacado por Duda é que existem outros dois rankings que são seguidos pelas competições. Porém, é uma listagem interna que os participantes e a organização têm acesso. Segundo a atleta, a dupla está na sexta colocação em uma dessas classificações.

Já Ana Patrícia relembrou um ponto curioso do debate. Há menos de um ano, na reta final rumo a Paris 2024, elas eram perguntadas com frequência sobre a responsabilidade de liderarem o ranking. A campeã olímpica nascida em Espinosa, cidade do Norte de Minas Gerais, também destacou a importância do posicionamento, ao mesmo tempo que ressaltou: é apenas um número.

“É muito engraçado porque é a primeira vez que respondemos isso. Uma das coisas que a gente sempre respondia, em todas as entrevistas, é: ‘Como vocês se sentem sendo primeiro no ranking? A responsabilidade de ser o primeiro do ranking’. Para a gente, isso sempre foi um número. É importante? É importante e tudo mais. Mas não deixa de ser um número, né? […] É brigar para estar entre os primeiros, mas para deixar o Brasil melhor, porque, a título de confronto, não muda muita coisa”

Ana Patrícia

O ciclo de Duda e Ana Patrícia até Los Angeles 2028

A primeira possibilidade de subir no ranking será logo no fim deste mês. Duda e Ana Patrícia começarão o novo ciclo em Cancún (MEX). O primeiro Elite 16 do Circuito Mundial de Vôlei de Praia em 2025 será no México entre 26 e 30 de março, e as campeãs olímpicas darão início à caminhada após a conquista do ouro.

A trajetória que começará na competição no estado mexicano de Quintana Roo tem como objetivo final um país vizinho. A Olimpíada de 2028 será em Los Angeles, nos Estados Unidos, e a preparação para uma nova medalha de ouro é o foco da dupla brasileira.

Ao projetar o ciclo até os Jogos Olímpicos, Duda destacou que terá muita paciência até pelo período de sete meses que elas ficaram sem jogar.

“É até clichê, mas é viver cada momento, passo a passo. Estamos em outro momento. Ganhamos uma Olimpíada, então a nossa cabeça pode estar diferente. A vida está dando outras oportunidades, e a gente está agarrando. Ficamos seis a sete meses sem jogar, então pode ser que seja mais difícil voltar, mas estamos com paciência no processo. Sabemos que não é fácil, mas falta muito tempo ainda para a próxima Olimpíada, e queremos aproveitar ao máximo, representar e ser feliz dentro da quadra”

Duda Lisboa

Enquanto o objetivo final é Los Angeles 2028, um destino ainda mais distante do Brasil é a grande meta do ano. O Mundial de Vôlei de Praia em Adelaide, na Austrália, entre 14 e 23 de novembro. Essa data foi comemorada por Duda. Campeã em Roma (ITA) 2022 e vice em Tlaxcala (MEX) 2023, a dupla brasileira acredita que chegará bem preparada ao torneio.

“A Copa do Mundo vai ser boa porque será só em novembro. Então dá para a gente se preparar, ver como estaremos durante esses torneios que antecedem. Foi bom para o nosso time ser em novembro. Óbvio que vão ter várias dificuldades, por tanta falta de ritmo de jogo sem estar ali jogando, mas a gente tem que aproveitar. Vai ter agora Cancún, depois duas etapas em Saquarema, então vai ser assim um mês e meio de vários campeonatos para gente ir testando. Em novembro, eu acho que vai ser uma das nossas melhores fases do nosso time e estaremos bem preparadas depois de jogar bastante”, concluiu Duda Lisboa.

Mais de Duda e Ana Patrícia

Em entrevista exclusiva ao No Ataque, Duda e Ana Patrícia falaram mais sobre o ciclo olímpico e o momento da carreira. Fique de olho em mais conteúdos que serão publicados nos próximos dias.

O sonho que ainda têm no esporte

“Eu quero cada vez mais inspirar crianças e pessoas que possam querer viver do esporte também. Eu acho que o vôlei me ajudou muito. Eu lembro que quando minha mãe dava treino na escolinha dela, e eu era uma ‘criancinha’ vivendo do esporte. Então, se eu puder um dia retribuir o que o vôlei me deu, tentar ajudar as pessoas, tirar de situações difíceis…”, frisou Duda, que deu sequência.

“Eu posso fazer isso ainda porque acho que estou muito nova ainda para parar. A gente nunca sabe o futuro, mas acho que ainda posso retribuir ao vôlei de uma forma legal. Deus me ajudou muito ao me colocar nesse esporte muito legal, então acho que eu posso retribuir de alguma forma assim”

Duda Lisboa

“O esporte, para mim, ele foi uma ferramenta muito importante de me entender como pessoa, me sentir capaz de realizar alguma coisa e eu acho que que, hoje, a gente tem um papel muito forte e importante, pela posição que a gente está, de levar esse poder do esporte para outras pessoas, para quem viveu as coisas que a gente viveu. Como a Duda falou, mudou a vida dela, mudou a minha vida, e eu acho que, se a gente conseguir fazer uma pessoa acreditar que isso é possível, e essa pessoa conseguir, eu acho que nosso papel já vai estar muito bem cumprido aí”, disse Ana Patrícia, que completou.

“Hoje, a gente tem, graças a Deus, a oportunidade de falar para muita gente, de cada vez mais alcançar mais pessoas. E que a gente use a nossa importância – não sei se essa é a palavra hoje – para inspirar outras pessoas para que elas acreditem que é possível, alcancem novas oportunidades e possibilidades, e que a gente seja também um fator importante nisso. Acho que nosso objetivo principal é isso, que o esporte continue nos fazendo feliz porque, através disso, a gente vai alcançar muitas outras pessoas”

Ana Patrícia

Vantagem de competir no Brasil

“É muito bom jogar no Brasil, porque a gente fica muito tempo na Europa. E é muito diferente essa questão de voo até Europa. Quando você está aqui no Brasil, acho que a gente consegue se adaptar melhor. O nosso fuso, onde a gente vive, então para eles também sentirem essa diferença”, alegou Duda. Ela ainda escolheu sedes favoritas.

“São quatro etapas no Brasil, e isso foi muito bom pela valorização de ter um torneio aqui. Mas escolher? Eu queria escolher o Praia Clube, se tivesse um torneio. Jogar no Praia Clube, em casa, é muito bom ter essa torcida, mas assim, João Pessoa é muito legal, o Rio é muito legal. Então acho que no Brasil já está ótimo para gente”

Duda Lisboa

Impacto da mudança de técnico

“O Lucas [Palermo] decidiu sair, não quis continuar com o nosso time e veio o Iago [Hercowitz]. Eu trabalhei com o Iago quando eu jogava com a Ágatha [Bednarczuk]. Foram quatro anos com ele como auxiliar. Então, para a gente, foi um presente. Ele aceitou o nosso convite, e a gente está muito feliz de ter ele aqui no Praia Clube”, destacou Duda, que continuou.

“Ele está fazendo um trabalho muito legal, é muito dedicado, e nos ajuda também na motivação. E cada técnico tem uma característica. Cada grupo tem uma característica, mas não foge muito do que é o vôlei de praia. Temos que nos adaptar também às novas experiências”

Duda Lisboa

Evolução no vôlei de praia no Brasil, em Minas Gerais e em Uberlândia

“O Brasil sempre foi apontado como circuito mais forte do mundo. Mas eu acho que é sempre um desafio desenvolver a modalidade, criar novos talentos. A gente vê que é sempre uma batalha muito grande, e a CBV sempre briga muito por isso. E aqui dentro de Minas Gerais, felizmente, eu acho que cada vez mais a gente está vendo o crescimento da modalidade, principalmente depois da Olimpíada. A gente vê que tem novas turmas. É nítido o crescimento”, definiu Ana Patrícia, que seguiu.

“E até aqui dentro do Praia Clube mesmo, a quantidade de pessoas que a gente vê praticando, conhecendo [o esporte]. Quantas e quantas vezes a gente anda aqui, encontra alguém que pergunta onde que tem uma escolinha. E eu acho que que isso cada vez mais só engrandece o nosso esporte. Levar o vôlei de praia cada vez mais longe, para quem não conhece, para quem conhece, mas não consegue praticar. E eu acho que dentro de Minas também a gente tem feito isso muito bem. Espero que cada vez mais a gente alcance mais pessoas”

Ana Patrícia
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