Motivada pelo sonho de ser mãe, Claudinha optou por dar uma pausa na carreira. Em entrevista exclusiva ao No Ataque, a levantadora revelou a importância de Walewska na tomada de decisão e contou como foi o papo com o Praia Clube.
Claudinha assumiu o posto de capitã do time na temporada 2022/23 de forma especial: sucedeu a campeã olímpica Walewska (Pequim 2008), que se aposentou em 2022. Na equipe de Uberlândia, as duas dividiram as quadras por sete anos e foram até companheiras de quarto.
Em setembro do ano passado, a levantadora e toda a comunidade esportiva foram pegas de surpresa com a trágica morte da central. No dia 21 daquele mês, aos 43 anos, Walewska caiu do 17º andar do apartamento onde morava, em São Paulo.
Ao refletir se deveria ou não abrir mão da carreira, mesmo que momentaneamente, para tentar engravidar, Claudinha lembrou com carinho de Walewska, como sempre faz durante toda a vida.
“Sempre tive na minha cabeça uma coisa que a Wal me falava. Teve um momento da vida dela que ela quis ser mãe, mas deixou passar. ‘Cláudia, quando despertar em você, não deixe passar. Eu deixei passar o meu momento e agora eu não quero mais’. Fiquei com isso na cabeça. Até me arrepio, e é muito verdade. Porque, realmente, o sentimento é da mulher. Claro, junto com seu companheiro, mas é a nossa vida que vai mudar muito. E meu marido falava ‘eu estou te apoiando em tudo’”
Convívio com outras companheiras
Outras amigas do vôlei também deram confiança a Claudinha. A levantadora citou a ex-ponteira Fê Garay.
“Eu era companheira de quarto da Fê. Vi o quanto ela queria e aconteceu. Parou num momento maravilhoso da carreira dela. Demorou quanto tempo para ela conseguir ser mamãe? E está tudo bem, cada uma tem sua história”, salientou.
Fê Garay anunciou a pausa na carreira em 2021, após a prata em Tóquio, justamente para tentar engravidar. Em julho deste ano, a campeã olímpica em Londres 2012 anunciou que está em processo de gestação.
Claudinha também mencionou o apoio que recebei da líbero Suelen, do Praia Clube, e da oposta Tainara, hoje no Shanghai Bright Ubest, da China.
“Eu e Suelen temos uma amizade de 23 anos. Ela viu todo o meu processo, o quanto eu sofri. Claro, tem muitas coisas maravilhosas, mas o quanto eu sofri também. Quando eu falei para ela, disse ‘vai embora, mete o pé’. E brincava dizendo que queria um mascotinho. A Tainara é jovem ainda. Ela dizia ‘dupla, te apoio, está certíssima, vá viver sua vida’. O vôlei é a nossa vida, só que a gente tem uma outra vida”
E a conversa com o Praia Clube?
Claudinha nunca escondeu do clube a intenção de engravidar. Pelo contrário. Optou pela transparência. Detalhou que as primeiras pessoas que ficaram sabendo que seria a última temporada foram o diretor e os patrocinadores. Ao assinar o contrato para 2023/24, indicou que estava certa do que queria.
No esporte de alto rendimento, a gravidez ainda não é vista por todos com bons olhos – e este não é um problema restrito mundo esportivo, evidentemente. Apesar de Claudinha ter tratado o assunto abertamente, houve momentos de ‘susto’.
“A gente não fica falando muito sobre isso durante a temporada. Ao mesmo tempo, não era novidade para ninguém que eu queria ser mamãe. A brincadeira de dizer ‘estou grávida’ era o tempo inteiro. É algo surreal de falar. Eu entendo os dois lados. Só que, quando você fala sobre isso, meu deus, é o fim. Muitas vezes eu brincava e já me olhavam assim. Então você vê que era uma barreira muito distante. Mas eles viram que eu não faria sacanagem”, disse.
A levantadora citou diversas vezes como tem identificação com o Praia. Pela grande história que construiu, detalhou que balançava quando os dirigentes do Praia perguntavam se ela estava convicta. Revelou, ainda, que outros clubes demonstraram interesse em contratá-la: “Foi legal, eu falei ‘poxa, eu não estou morta, muitos times me querem também’. Eu tenho identificação muito grande com o Praia, mas o que vai acontecer quando eu quiser voltar para as quadras, só deus sabe”.
Claudinha disse que pretende retornar às quadras, mas que o futuro é incerto. Também contou que desenvolve projetos paralelos com o Praia e que já recebeu ‘intimação’ para voltar a representar a equipe quando se sentir pronta.
Claudinha no Praia Clube
Em 10 temporadas com a camisa aurinegra, Claudinha o Campeonato Mineiro (2015, 2019, 2021 e 2023), a Superliga (2017/18 e 2022/23), a Supercopa do Brasil (2019, 2020 e 2021), o Desafio MG-RJ (2019/20), o Troféu Super Vôlei (2020), a Copa Brasília (2023), a Copa Brasil (2024) e o Sul-Americano (2021 e 2023).
