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Bastidores: Atlético tinha caixa para pagar Cuiabá por Deyverson, mas priorizou outras dívidas

No Ataque traz detalhes das conversas entre os clubes e do contrato de compra do centroavante junto ao clube mato-grossense

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O atraso de uma parcela no pagamento pela negociação do atacante Deyverson fez o Cuiabá acionar o Atlético na Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD) e levar ao Banco Central o nome do empresário Rubens Menin, principal acionista do Galo. Mas o que moveu o clube mato-grossense a tomar tais decisões? Por que a diretoria mineira não pagou os R$ 500 mil previstos? O No Ataque traz, a seguir, bastidores do imbróglio.

A contratação do jogador foi realizada em agosto do ano passado por R$ 4,5 milhões, que seriam divididos em múltiplas parcelas – algo comum no mercado da bola.

Segundo Cristiano Dresch, presidente do Cuiabá, o Atlético pagou apenas a entrada para ter a liberação do centroavante. “Se não me engano, no valor de R$ 500 mil. Se não tivesse pago nós não liberaríamos eles no BID (Boletim Informativo Diário)”, contou o dirigente, ao No Ataque.

Logo em setembro, outra parcela de R$ 500 mil venceu, e o clube mineiro não transferiu o valor. Cristiano, então, alega que notificou o Galo em três oportunidades, mas não obteve resposta.

Como foram as conversas entre Cuiabá e Atlético?

Ainda de acordo com o presidente do Cuiabá, o contrato de venda do atacante Deyverson continha uma cláusula que previa o pagamento de todas as parcelas de uma vez caso houvesse qualquer tipo de atraso.

Após o não pagamento no prazo da segunda parcela, o Atlético tentou negociar com o clube mato-grossense e se comprometeu a quitar os R$ 500 mil – algo rejeitado por Cristiano, que gostaria do valor completo da transação.

“Quando a notícia vazou para a imprensa, eles nos procuraram e queriam pagar a parcela que já havia vencido. Eu expliquei que não tinha sentido porque já tínhamos tentado receber deles de forma amigável e que a única vantagem do contrato seria o pagamento antecipado das parcelas a vencer”, relembrou.

“Nós vendemos o Deyverson para receber a prazo porque acreditamos que esses novos donos do Atlético são pessoas sérias, que jamais iriam deixar uma dívida tão pequena em relação ao que o Atlético arrecada por ano para trás. Por isso tomamos essa iniciativa de ir à CNRD”, lamentou o dirigente.

Por que o Atlético atrasou a parcela?

O No Ataque apurou que o Atlético até tinha o valor em caixa para quitar a parcela pela compra de Deyverson, mas internamente o entendimento era que havia outras prioridades, como o pagamento de impostos. Além disso, naquele momento, o clube quitava outras pendências que já estavam há mais tempo atrasadas.

Na época, Daniel Vorcaro, um dos investidores da SAF, não pagou parcelas do aporte de R$ 200 milhões em dia. Com isso, nos bastidores, a diretoria alvinegra entendia viver momentos de incerteza, sem saber quando os montantes seriam depositados.

A reportagem procurou o Atlético após obter essa informação, mas o clube manteve o posicionamento que enviou à imprensa no começo desta terça-feira (20/5).

Posicionamento do Atlético sobre o caso

“Em relação à disputa havida por Cuiabá e Atlético perante a CNRD da CBF, envolvendo a cessão do Atleta Deyverson, o Atlético procurou a Diretoria do referido Clube logo após o vencimento da segunda parcela contratual, com o objetivo de cumprimento da obrigação, tendo a composição sido categoricamente recusada pelo Cuiabá, que optou pelo litígio no lugar da conciliação.

Dessa maneira, o Atlético exerce o seu direito de defesa, na forma legal e regulamentar, inclusive porque o Cuiabá promove cobrança de valores indevidos.

O Atlético considera imprópria qualquer medida que possa vir ser adotada pelo Cuiabá relativa ao Atleta Deyverson fora do âmbito da CNRD, foro eleito pelas partes para a discussão sobre o caso.

O Atlético reitera seu compromisso com o cumprimento de suas obrigações e aguarda, com serenidade, a deliberação da CNRD, embora lamente a postura constante adotada pelo Cuiabá, que não contribui para o diálogo entre as instituições.”

Menin denunciado no Banco Central

Como a CNRD só deve concluir o caso no fim deste ano, Cristiano Dresch decidiu denunciar Rubens Menin, um dos sócios-majoritários do Atlético, ao Banco Central.

O Cuiabá se baseia no artigo 6º, inciso I da Resolução CMN (Conselho Monetário Nacional) nº 4.970/2021, que diz:

“A autorização para funcionamento de instituição financeira dependerá da análise da capacidade econômico-financeira dos controladores, de forma isolada ou em conjunto, compatível com o capital necessário à estruturação e à operação da instituição, bem como às contingências decorrentes da dinâmica do mercado”. O clube pede ao Banco Central uma “apuração por meio da área técnica competente, quanto à regularidade da situação de Rubens Menin à luz da regulamentação prudencial aplicável às instituições financeiras”, se referindo ao Banco Inter, que pertence ao empresário mineiro.

Os pedidos do Cuiabá ao Banco Central:

i. A verificação da conformidade da sua situação econômico-financeira, inclusive como controlador de empresas inadimplentes;
ii. A análise do impacto que tais passivos podem ter na governança, liquidez e integridade do Banco Inter S.A.;
iii. A eventual instauração de procedimento administrativo para avaliação de idoneidade e aplicação das medidas previstas nos normativos aplicáveis, caso constatada infração.

O que diz o Banco Central?

A Resolução CMN explica que a autorização para funcionamento de um banco está condicionada à comprovação da origem dos recursos utilizados na integralização do capital social e da idoneidade dos gestores. Isso é avaliado por meio de antecedentes judiciais e administrativos; histórico profissional; e situação financeira pessoal e empresarial.

Ou seja, somente o fato de o dono de um banco ter uma dívida não é impeditivo para o funcionamento da instituição. Apesar disso, dívidas relevantes, inadimplências, protestos, execuções, falências ou recuperação judicial podem comprometer a avaliação de capacidade financeira do gestor.

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