Desde o início de 2024, o Cruzeiro passou por importantes mudanças na gestão. Em relação à administração da Sociedade Anônima de Futebol (SAF), Ronaldo Fenômeno deu lugar a Pedro Lourenço, que propôs trocas em alguns setores. Pouco depois, no departamento de futebol feminino, Kin Saito deixou o cargo de diretora, ocupado dali em diante por Bárbara Fonseca, que atuava como coordenadora. Em entrevista exclusiva ao No Ataque, a dirigente deu detalhes da mudança e comentou as novas responsabilidades.
Declaração de Pedrinho e saída de Kin Saito
Logo que Pedro Lourenço adquiriu a 90% das ações da SAF, houve um receio de que o futebol feminino pudesse passar por um processo de retrocesso. Isso porque o mandatária havia dito que a intenção era manter uma equipe razoável e não fazer grandes investimentos. Meses depois, pelo desempenho das Cabulosas, é possível concluir que não foi o que ocorreu. Em contrapartida, explicou Bárbara Fonseca, um conflito nos bastidores influenciou na aspa polêmica e na saída de Kin Saito.
“Tem uma questão que acontecia internamente que justificou a fala do Pedrinho e do Mattos. Mas isso não estava conectado com sucateamento, perda de investimento, retrocesso… Tinha a figura da Kin, eu respeito hierarquicamente, ela estava no clube, saindo, e não queria se posicionar. E eu, na hora que pude, não tinha a pretensão de trazer o que internamente estava acontecendo. Eu fiquei muito brava e trouxe para a imprensa o seguinte: ‘Parem de falar que vai haver retrocesso, porque isso não condiz com a realidade que vocês acabaram de ver’. Foi no dia da apresentação do elenco”, iniciou.
Interessada em acompanhar o movimento da torcida cruzeirense nas redes sociais, Bárbara Fonseca precisou lidar com comentários raivosos sobre as declarações. Naquele momento, exigiu união: “A gente teve que dar a mão, se fortalecer, a gente estava perdendo a Kin, que é uma potência. A gente olhou para dentro, se fechou: ‘Pessoal, vamos tomar cuidado com o que a gente fala, faz, essa fase vai passar. O que eu puder fazer para essa fase passar rapidamente, farei, mas vamos confiar no trabalho que a gente vem desenvolvendo. Em nenhum momento a gente pode deixar a dúvida chegar aqui'”.
Precisamente em 24 de setembro de 2024, Kin Saito optou por deixar o Cruzeiro com a justificativa de que tinha alcançado o teto pessoal na Toca da Raposa. Bárbara Fonseca falou em divergência: “Foi exatamente uma falha entre Kin e diretoria. Não vou dizer uma falha. É… vamos falar divergência”.
Bárbara Fonseca em nova função
Instantaneamente, o Cruzeiro definiu que Bárbara Fonseca, no clube desde o início do projeto atual, em 2019, assumiria a função. Em um primeiro momento, a diretora prezou por honrar o trabalho de Kin Saito.
“Me trouxe um anseio por validar todo o sacrifício que foi feito pela Kin aqui, de fazer com que tudo que ela entregou, toda energia, se voltasse em resultados. Isso era uma coisa que eu tinha em mente, precisava e devia”, disse.
Em relação à rotina, explicou que a manteve, mas com um auxílio a mais de outros departamentos. Curiosamente, tem as redes sociais como aliadas. A diretoria as caracteriza como um ‘termômetro’ da voz da torcida, o que a ajuda a tomar decisões.
“No dia a dia, na prática, meus dias continuaram sendo como quando a Kin estava aqui. Claro que eu tive que me apoiar em alguns departamentos que a Kin fazia muito bem. Por exemplo, cheguei para a assessoria de comunicação e falei ‘Eu não vou ser a pessoa que vou trazer pautas e conteúdos como a Kin fazia’… Eu vou fazer? Vou, mas não com a excelência que ela fazia”, explicou.
Nesse momento, Bárbara Fonseca destacou a importância de reconhecer fragilidades individuais: “Eu jamais vou chegar e falar com vocês que estou pronta para todo nível de desafio e sou excelente em tudo. Não sou. Eu preciso todos os dias da minha equipe… Conto com profissionais de muita excelência e que amam o futebol feminino, isso é um diferencial, não preciso convencer ninguém a nada. Eles já vêm prontos para ajudar e fazer com que a gente chegue nesse momento que a gente está”.
Relação de Bárbara com Pedro Lourenço
O cargo de diretora aproximou Bárbara Fonseca de Pedro Lourenço. A dirigente destacou que nunca precisou convencer o mandatário de nada. Entretanto, ouviu uma exigência.
“Meu primeiro bate-papo com o Pedrinho depois foi de duas horas e leve. Ali, foi possível entender exatamente como ele enxerga a indústria. A única coisa que ele pediu: ‘Eu preciso que vocês entendam que agora tem um dono’. E, para mim, que sempre me coloquei num lugar de muita humildade, não é desafio nenhum. Eu trago as ideias para a gente construir, não trago pronta pedindo para ele só assinar, porque ele precisa concordar, participar”, disse.
De acordo com Bárbara Fonseca, o empresário logo acatou os planos e abriu o bolso para elevar o patamar das Cabulosas. Se em 2019 o Cruzeiro investia quase R$ 2 milhões na equipe feminina, hoje o valor alcança R$ 15 milhões – aumento de mais de 800% – e pode ser superado ainda no segundo semestre deste ano.
Cruzeiro no segundo semestre de 2025
A partir de agosto, o Cruzeiro, liderado por Jonas Urias, terá de lidar com sequência eliminatória. No início do próximo mês, recebe o Corinthians no Castor Cifuentes, em Nova Lima, pela terceira fase da Copa do Brasil – a data, prevista para o dia 6, e o horário serão confirmados posteriormente, pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Logo depois, em 10 de agosto (domingo), as Cabulosas viajam ao estado de São Paulo para disputar as quartas de final da Série A1 do Campeonato Brasileiro Feminino. O duelo de ida está marcado para às 10h30, mas o local ainda não está definido. A volta será no Independência, em Belo Horizonte, no domingo posterior (17/8), no mesmo horário.
No fim do ano, a Raposa brigará pelo título do Campeonato Mineiro. Os detalhes do torneio ainda não foram divulgados pela Federação Mineira de Futebol (FMF).