HANDEBOL

Técnico relembra título mundial de handebol pelo Brasil e sugere melhorias à modalidade

Conquista do Campeonato Mundial de Handebol completa 10 anos em dezembro deste ano. Técnico norueguês Morten Soubak conversou com o No Ataque
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Há 10 anos, o Brasil entrava na história do handebol ao conquistar título inédito: o Mundial, de forma invicta. Pela campanha positiva, atletas como Babi, Duda e Ana Paula se destacaram individualmente. Outra peça fundamental na conquista foi o técnico Morten Soubak. Em entrevista exclusiva ao No Ataque, o norueguês relembrou a glória, apontou questões no elenco atual e revelou para qual time do futebol brasileiro torce.

Atualmente, Morten Soubak trabalha como coordenador do handebol do Praia Clube, equipe de Uberlândia, no interior de Minas Gerais, que fomenta modalidades olímpicas. 

Campanha do Brasil em 2013

O desempenho do Brasil não poderia ter sido melhor: nove jogos, nove vitórias. Na primeira fase, pelo Grupo B, a equipe passou por Argélia (36-20), China (34-21), Sérvia (25-23), Japão (24-20) e Dinamarca (23-18). Nas oitavas de final, deixou para trás a Holanda (29-23). Nas quartas, o alvo foi a Hungria (33-31). Na semifinal, bateu a Dinamarca (27-21).

Em 22 de dezembro, na partida decisiva, diante da Sérvia, o time comandado por Morten Soubak calou a Arena Belgrado, ocupada por quase 20 mil torcedores rivais, venceu de virada por 22 a 20 e saiu coroado. Pela primeira vez no handebol feminino, uma equipe da América chegou ao título.

Ao fim do torneio, Babi foi eleita a melhor goleira, Duda recebeu o prêmio de MVP e Alexandra, à época melhor do mundo, se consagrou artilheira. 

Treinador da Seleção Brasileira entre 2009 e 2016, Soubak relembrou pontos cruciais da conquista de 2013.

“Conseguimos trabalhar juntos por um bom tempo, e várias já estavam na Seleção quando eu entrei. Em geral, era um grupo jovem e com águas mais experientes. A gente conseguiu trabalhar por meio de uma filosofia, de um conceito, que foi agradar o perfil das jogadoras” 

Morten Soubak, ex-treinador da Seleção Brasileira de handebol

Outra ferramenta essencial foi o desenvolvimento do que Soubak chamou de “projeto Hypo”. Naquele ano, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) mantinha convênio com o Hypo Nö, clube austríaco de handebol também comandado pelo norueguês. A intenção era dar rodagem e experiência às atletas convocadas. 

“Não há dúvida nenhuma que isto fez grande diferença. Nós podíamos treinar com a base da Seleção todos os dias, jogando a Liga da Áustria, a Champions League. Ficar juntos por meio da mesma filosofia todos os dias também fez diferença”, analisou Soubak.

10 anos depois

No continente americano, a Seleção Brasileira tem o domínio do handebol. Desde 1999, termina os Jogos Pan-Americanos no lugar mais alto do pódio. Já são sete ouros consecutivos. Em 2023, ao derrotar a Argentina por 30 a 18 na final, também garantiu vaga na Olimpíada de Paris, em 2024.

A hegemonia, no entanto, é apenas continental. Em aspectos globais, quem tem os melhores times é a Europa. Desde 1957, 25 edições do Mundial já foram disputadas. Em todos esses anos, apenas duas equipes não europeias levantaram a taça: Coreia do Sul (1995) e Brasil (2013). 

Para Soubak, trata-se de aporte financeiro e social: “Tanto no feminino quanto no masculino, as seleções europeias, as confederações europeias estão investindo mais e construindo espaço, um buraco entre a Europa e os outros continentes no handebol”.

Em relação à modalidade no país, o técnico norueguês acredita que “o nível no feminino caiu um pouco, e o nível masculino subiu”. Pensa, ainda, que há necessidade de renovação no elenco da Seleção Feminina, mas não deixa de elogiar a vitalidade das atletas que vestem a camisa verde e amarela há alguns anos. 

Vida longa às atletas, maternidade e reformulação

Outro ponto importante tocado por Soubak é a maternidade. Independentemente do patamar da atleta e da modalidade, o assunto quase nunca ocupa o mesmo lugar na prateleira que o esporte de alto rendimento. 

Campeãs olímpicas pela Seleção Brasileira de vôlei, Sheilla, ex-oposta, e Fabi Claudino, central atualmente sem time, já relataram as dificuldades que circundam o tema. Sheilla contou que um clube desistiu de contratá-la porque tentava ser mãe. Na mesma linha, Fabi disse que, quando voltou às quadras após engravidar, começou do zero, como se fosse ninguém.

“Muitas [jogadoras] estavam na Seleção quando eu comecei, em 2009, e ainda estão lá. Isso é um parabéns. Babi, Ana Paula. Isso é impressionante. Alexandra ainda está jogando. Estou muito feliz de ter tantas meninas. Vamos falar não só da Seleção do Brasil de handebol. Hoje estamos vendo muitas mulheres que já tiveram filhos. Antigamente, talvez, já teriam encerrado a carreira no fim dos 20 anos. Agora estão continuando. Isso mudou. E é muito legal ver isso no esporte de alto rendimento”

Morten Soubak, ex-treinador da Seleção Brasileira de handebol

Os elogios não excluem o aspecto crítico do norueguês, que enxerga o trabalho de base como fundamental: “O grupo é muito forte e competitivo, mas não vejo novos talentos de 16, 18, 20 anos. Depois da Olimpíada, em Paris, isso vai ser um desafio pela idade que o grupo tem em geral. Espero que várias delas continuem. Acho isso importantíssimo. Elas podem ajudar”.

Seleção Brasileira no Mundial de Handebol em 2023

No Grupo G, o Brasil abriu o Mundial com vitória sobre a Ucrânia por 35 a 20. Na segunda rodada, não teve dificuldades contra o Cazaquistão e venceu por 46 a 15. No último compromisso da primeira fase, a Seleção perdeu para a Espanha por 27 a 15. No entanto, naquela altura, já estava classificada para a segunda fase.

Na segunda etapa, 24 seleções são dispostas em quatro chaves de seis. Diferentemente de outros campeonatos, a pontuação da primeira fase é levada para a segunda.

O Brasil, agora, integra o Grupo IV.  A Arena Nord Frederikshavn, na Dinamarca, será palco de todos os duelos. Na última quarta-feira (6/12), perdeu para a Holanda por 35 a 27. O resultado praticamente eliminou a Seleção do torneio.

Em busca da milagrosa classificação, nesta sexta-feira (8/12), a equipe medirá forças com a Argentina, às 11h30. Por fim, encontra a República Tcheca no domingo (10/12), às 10h15.

Os dois melhores de cada chave avançam ao mata-mata, composto por quartas de final, semifinais, final e disputa por terceiro lugar.

Morten Soubak busca novos talentos

Morten Soubank foi intitulado coordenador do handebol do Praia Clube em junho de 2022. Desde então, ele monitora possíveis atletas de alto rendimento. Um lugar frequentado por ele é a Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

“Para uma Liga Nacional, não temos atletas na UFU que tenham nível para jogar na Liga Nacional. Agora, esse projeto é novo, este é o primeiro ano que nós estamos atuando na Liga Nacional”, analisou o norueguês.

A equipe masculina do Praia Clube participou da Liga Nacional de Handebol pela primeira vez em 2023. Mesmo estreante, se classificou à fase final. Os jogos serão disputados entre 7 e 10 de dezembro, na Arena Carioca, no Rio de Janeiro. No masculino, além do Praia, estão Pinheiros-SP, Nacional-SC e Taubaté-SP. No feminino, participam Concórdia-SC, Maringá-PR, Pinheiros-SP e Nacional-SC.

A crítica do norueguês está na falta de escolas formadoras de atletas de handebol: “Ainda é um esporte muito escolar, existem poucos lugares que você pode trazer seu filho, sua filha com quatro, cinco anos para começar a praticar handebol. Seria legal se a gente conseguisse mais lugares onde as crianças podem se envolver mais cedo, ter mais horas de treino Eu sei que existem lugares que fazem, e só tenho que falar parabéns para eles, mas, num país com mais de 200 milhões de habitantes, seria possível, eu acho, conseguir fazer mais”.

Adaptação de Morten Soubak

Em Minas Gerais desde o ano passado, o norueguês conversa em português, mas, para além disso, pronuncia “uai”.

“Aqui você começa a pergunta com “uai” e termina com “uai”. Então eu acho que, se eu consigo isso, a adaptação está indo bem”

Morten Soubak, coordenador de handebol do Praia, sobre vivência em Minas Gerais

Ele ainda revelou o clube que torce: “Adoro futebol. Eu já tenho um time brasileiro, que é o São Paulo, desde 95”.

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